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SentirAilha

Viva! Este é um espaço de encontro, interconhecimento e partilha. Sentir a ilha que cada um é, no mar de liberdade que todos une e separa... Piedade Lalanda

SentirAilha

Viva! Este é um espaço de encontro, interconhecimento e partilha. Sentir a ilha que cada um é, no mar de liberdade que todos une e separa... Piedade Lalanda

Os heróis salvadores

Infelizmente há quem ainda pense que pode ser um herói salvador quando intervem junto de pessoas ou comunidades desfavorecidas.

Sem perceber a raiz dos problemas, procura envernizar as vidas dos que são diferentes, no modo de estar, de falar ou de se comportar.

Sem alterar as causas da desorganização social em que vivem os que procuram ajudar, enquadra temporariamente essas pessoas, numa semana de festas e brincadeiras, iludindo a realidade em que vivem no resto do ano.

Quando a acção de uma entidade, seja religiosa ou civil, governamental ou associativa, beneficiar mais quem dá do que quem recebe, é porque se trata de caridade e pacificação de consciências intranquilas.  

Quando a ajuda transforma quem dá em melhor cidadão do que quem é ajudado, o sentido da acção está invertido. 

Dizem as bem-aventuranças que se deve dar de comer a quem tem fome, porque há horas em que a urgência supera qualquer análise. Mas se não queremos que no dia seguinte, essa pessoa volte a pedir de comer, a dádiva tem de libertar quem é ajudado.

Quem passa dificuldades normalmente vive à margem, sem espaço para se descobrir como pessoa, só conhece as necessidades, mas não é capaz de pensar uma estratégia para obter respostas. Não planeia nem aspira, espera,  espera e, por vezes reivindica que lhe dêem... porque precisa....

Infelizmente, dar, assistir nem sempre liberta quem é assistido. Substitui-se a carência pela dependência.

Na Rocha da Relva

 

Em tempos, andava pela cidade de Ponta Delgada um homem que pedia esmola, de calças rotas e cabelos emaranhados. Todos se referiam a ele como “o homem da rocha da Relva”. Um dia, depois de ter partido um mealheiro do Gaiato, foi internado na Casa de Saúde e durante o pouco tempo que lá esteve até falecer, revelou ser um artista, capaz de moldar o ferro e de criar verdadeiras obras de arte. Mas, a vida organizada segundo horários, fechado entre quatro paredes, nada tinha a ver com este homem, livre como os pássaros, preso ao mar e à natureza da rocha da Relva.

 

No meu imaginário, a rocha da Relva seria um penedo, um lugar limitado onde imaginava eu, esse homem teria encontrado uma qualquer caverna para se abrigar. Não sabia, até há pouco tempo, que esse lugar é uma fajã habitada, onde se erguem pequenas casas e crescem vinhas e árvores de fruto até junto da escarpa.

Na fajã da Relva domina a rocha que se ergue da ilha, protegendo uma língua de terra que vem morrer no mar em forma de calhaus rolados. Um mar limpo, transparente, onde se vêem os peixes como num aquário gigante. Um mar saboroso que apetece sentir, vezes sem conta; mergulhar e voltar a fazê-lo até mais não poder.

Apesar do acesso difícil, logo se esquece o esforço quando se está nesta parcela tão rica de sensações; entre o som dos pássaros que encontraram ali um lugar protegido, os cagarros que habitam as reentrâncias da rocha e enchem o final da tarde de forte “discussão” sonora; o bater insistente do mar nos calhaus que se vão movimentando ao sabor das ondas; tudo parece perfeito, intacto, diferente.

Passar algumas horas, ou como acontece a quem herdou a tradição dos antigos de trabalhar a fertilidade daquela terra, passar alguns dias neste lugar, é sem dúvida um privilégio que apetece partilhar. Um privilégio que só os apreciadores da natureza e do silêncio interior podem realmente sentir num lugar que convida ao espírito comunitário, às cantigas de improviso e às conversas de ocasião.

Um lugar que não é de ricos privilegiados mas de pessoas que têm o privilégio de gostar da natureza e a capacidade de não temer as dificuldades de acesso para manter intacto o património, sobretudo natural, que as gerações passadas souberam trabalhar naquele pequeno grande lugar.

Como em muitas outras circunstâncias, os habitantes da ilha são os últimos a valorizar a riqueza do património que possuem e são os de fora, em geral os que nos visitam vindos de outros países, quem aprecia o que de melhor temos.

Vale a pena ir à rocha da Relva e, por ventura, vale a pena facilitar o acesso a este lugar diferente. Sem o destruir, sem invadir o silêncio que o habita, a Rocha da Relva merece algum investimento, que permita o acesso por mar e alguns recantos para se descansar ou merendar.

Entre gaivotas, pombos da rocha, peixe fresco e uvas de cheiro, na rocha da Relva vive-se, sente-se e até se cheira a insularidade, esta forma tão nossa de estar entre o mar e a terra.

(Publicado no Açoriano Oriental)

De férias na ilha

Muitos são aqueles que em época de férias visitam as ilhas.
Quem sabe porque têm visto a telenovela “Ilha dos Amores” ou por mera curiosidade de conhecer os Açores, buscam as paisagens que enchem os catálogos de promoção, esperando encontrar um céu azul e o sol a brilhar, o que nem sempre acontece. As nuvens sempre fizeram e hão-de fazer parte do céu destas ilhas. Mas, ao contrário do que se possa pensar, olhar um céu com nuvens também pode ser uma experiência inesquecível.
Em busca do sol, há quem desista do banho de mar porque o dia está sombrio, perdendo a possibilidade de sentir na pele a água do Atlântico a uma temperatura como não existe em outras partes do mundo.
De programa feito, muitos terminam as férias frustrados por não ter cumprido todos os objectivos traçados. Afinal, foram apenas dois banhos de mar, as lagoas estavam escondidas detrás do nevoeiro e a visita de barco não permitiu vislumbrar nem um golfinho.
Viver numa ilha ou simplesmente partir à sua descoberta implica ser capaz de alterar programas, criar alternativas, inventar experiências.
Uma refeição tomada com calma num pequeno restaurante, uma prova de queijos ou simplesmente a visita a um artesão, podem substituir uma ida à praia ou um piquenique no meio da mata. Mas se o banho for junto a uma nascente de água quente, como acontece na Ferraria ou nas Furnas, então pode estar a chover que nada irá apagar a sensação que esta natureza pode proporcionar.
Estar numa ilha é sempre uma oportunidade para se reencontrar consigo próprio, porque o mar não é limite mas libertação. A ilha é sempre um espaço limitado que nos obriga à introspecção, à procura de sensações e de sentidos. Nada pode ser deixado ao acaso, porque há sempre novas realidades a descobrir: uma chave que é deixada na porta da rua, a mulher que lava a entrada da casa e o passeio; as vacas que pastam no terreno inclinado de um monte; ou aquele barco, de boca aberta, que chega da pesca com alguns quilos de peixe que desconhecemos os nomes.
Tudo pode fazer sentido, há sabores e aromas por descobrir, numa chávena de chá com biscoitos ou queijadas, numas lapas grelhadas ou no gosto a mar que sai das cracas.
Muitos, durante as férias têm receio de sentir o silêncio, a paz e a tranquilidade que os pode levar a se encontrarem consigo. Talvez por isso, ficam frustrados se não fizerem milhares de quilómetros ou frequentarem dezenas de lugares, desde museus a palácios, passando por restaurantes e discotecas. O desgaste que alguns programas de férias provocam chega a ser maior do que o próprio trabalho.
Umas férias nas ilhas podem e devem ser um tempo para desacelerar e sentir. Quem sabe, deixar-se estar com um bom livro na mão, numa qualquer cadeira junto ao mar, ouvindo as ondas bater em ritmo cadenciado.
Férias nas ilhas, é muito mais do que ver paisagens, que são bonitas é certo, mas que não são apenas postais; são recantos que querem ser visitados com calma, para que a magia que encerram possa ser desvendada.
Para quem nos visita nestes tempos, boas férias!
(publicado no Açoriano Oriental a 6 de Agosto 2007)
 
 

Ilheús

São gente que vive no meio do mar, para alguns, gente que vive longe da civilização, que caracteriza e define o velho continente europeu onde tudo acontece!

Esses ilhéus estão a milhas, reais, dos continentes onde se discute a política internacional, se faz investigação de ponta e, aparentemente, se decide o rumo do desenvolvimento mundial.

Ilhéus, termo que se confunde com os rochedos perdidos no mar! Pessoas ou rochedos, os ilhéus são gente diferente, batida pelo mar; gente de fibra que não verga, mesmo quando parecem ceder na relação.

Para um ilhéu a mágoa é quase sempre vivida de modo profundo, fica gravada porque toca a própria confiança, essa relação de entrega que uma vez criada não levanta dúvidas.

Quando um insular confia, ai de quem venha a trair essa confiança, porque as relações dificilmente serão reatadas ou ganharão o mesmo vigor.

A insularidade não é uma prisão mas uma defesa, não é isolamento mas intimidade, não é solidão mas reencontro.

Quando outros procuram conhecer a vida dos insulares têm por isso que se dispor a entender e a encontrar esse lugar interior onde cada um e cada comunidade se desenvolve. Não bastam contactos superficiais ou viagens periféricas, como aquelas que muitos fazem em torno da ilha, julgando assim tudo conhecer.

Para se conhecer um insular é preciso tempo, sentido do pormenor e espaço interior para a descoberta dos recantos.

Ao contrário dos continentes a beleza das ilhas não está nas planícies mas nos vales e enseadas; a mesma paisagem ganha cores diferentes entre o amanhecer e o por de sol, os verdes são em nuance e o azul do mar muda ao longo da costa.

Ao contrário dos continentais, a riqueza dos ilhéus não está no tamanho das cidades em que vivem ou na quantidade de terras que possuem, mas no saber que partilham, nas dificuldades que enfrentam diariamente e na forma como se entreajudam.

São os laços que nos unem e nos prendem a estas terras, pequenos ilhéus, que nos fazem diferentes... por vezes distantes, mas sentindo ....o mar e o céu como espaços de evasão.

PL - 9 de Agosto de 2007

 

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