Muitos são aqueles que em época de férias visitam as ilhas.
Quem sabe porque têm visto a telenovela “Ilha dos Amores” ou por mera curiosidade de conhecer os Açores, buscam as paisagens que enchem os catálogos de promoção, esperando encontrar um céu azul e o sol a brilhar, o que nem sempre acontece. As nuvens sempre fizeram e hão-de fazer parte do céu destas ilhas. Mas, ao contrário do que se possa pensar, olhar um céu com nuvens também pode ser uma experiência inesquecível.
Em busca do sol, há quem desista do banho de mar porque o dia está sombrio, perdendo a possibilidade de sentir na pele a água do Atlântico a uma temperatura como não existe em outras partes do mundo.
De programa feito, muitos terminam as férias frustrados por não ter cumprido todos os objectivos traçados. Afinal, foram apenas dois banhos de mar, as lagoas estavam escondidas detrás do nevoeiro e a visita de barco não permitiu vislumbrar nem um golfinho.
Viver numa ilha ou simplesmente partir à sua descoberta implica ser capaz de alterar programas, criar alternativas, inventar experiências.
Uma refeição tomada com calma num pequeno restaurante, uma prova de queijos ou simplesmente a visita a um artesão, podem substituir uma ida à praia ou um piquenique no meio da mata. Mas se o banho for junto a uma nascente de água quente, como acontece na Ferraria ou nas Furnas, então pode estar a chover que nada irá apagar a sensação que esta natureza pode proporcionar.
Estar numa ilha é sempre uma oportunidade para se reencontrar consigo próprio, porque o mar não é limite mas libertação. A ilha é sempre um espaço limitado que nos obriga à introspecção, à procura de sensações e de sentidos. Nada pode ser deixado ao acaso, porque há sempre novas realidades a descobrir: uma chave que é deixada na porta da rua, a mulher que lava a entrada da casa e o passeio; as vacas que pastam no terreno inclinado de um monte; ou aquele barco, de boca aberta, que chega da pesca com alguns quilos de peixe que desconhecemos os nomes.
Tudo pode fazer sentido, há sabores e aromas por descobrir, numa chávena de chá com biscoitos ou queijadas, numas lapas grelhadas ou no gosto a mar que sai das cracas.
Muitos, durante as férias têm receio de sentir o silêncio, a paz e a tranquilidade que os pode levar a se encontrarem consigo. Talvez por isso, ficam frustrados se não fizerem milhares de quilómetros ou frequentarem dezenas de lugares, desde museus a palácios, passando por restaurantes e discotecas. O desgaste que alguns programas de férias provocam chega a ser maior do que o próprio trabalho.
Umas férias nas ilhas podem e devem ser um tempo para desacelerar e sentir. Quem sabe, deixar-se estar com um bom livro na mão, numa qualquer cadeira junto ao mar, ouvindo as ondas bater em ritmo cadenciado.
Férias nas ilhas, é muito mais do que ver paisagens, que são bonitas é certo, mas que não são apenas postais; são recantos que querem ser visitados com calma, para que a magia que encerram possa ser desvendada.
Para quem nos visita nestes tempos, boas férias!
(publicado no Açoriano Oriental a 6 de Agosto 2007)