Os filhos de adolescentes
Quando se aborda o problema da gravidez na adolescência, o mais frequente é falar-se de mães jovens que engravidam com menos de vinte anos. Gravidez de risco, aliás de alto risco, em meninas que abandonam a escola para cuidarem de bebés, quase como quem ainda brinca com bonecos.
Mas, há um outro responsável e actor nesta realidade, de quem nunca se fala ou se fala pouco: o pai.
Ao contrário das mães adolescentes, domésticas, estudantes ou desempregadas, os pais são jovens adultos, homens com mais de vinte anos, na sua grande maioria activos. Supostamente, são eles que irão manter a sobrevivência das crianças, ou pelo menos é nisso que as jovens mães acreditam.
Entendida como problema social, para muitas adolescentes, a gravidez é vivida como uma oportunidade de sair de casa ou de iniciar uma vida conjugal e muitas, até têm para isso o consentimento familiar. Esperar pelos dezasseis anos para casar ou manter uma vida em união de facto são soluções, socialmente aceites, que rapidamente enquadram o “acontecimento”.
Não foi planeado, dizem, mas na realidade, há jovens que sabendo do recurso aos métodos contraceptivos, optam por não os utilizar.
Foi uma forma de demonstrar que gostavam dele ou se calhar uma resposta consentida ao pedido insistente do namorado. Ceder ou melhor antecipar o início da vida sexual, foi para muitas das mães adolescentes apenas e só uma prova de amor. Uma demonstração que altera por completo as suas vidas.
Enquanto os companheiros mantêm os mesmos hábitos de convívio social, os empregos, e alguns até esquecem as responsabilidades que decorrem da paternidade, as mães adolescentes, acabam por desistir dos estudos, afastam-se dos amigos e começam a pensar em arranjar trabalho para poderem ajudar a sustentar o filho.
Enquanto os jovens pais, adultos na idade, mantêm uma vida descomprometida, quase irresponsável, as mães adolescentes têm de enfrentar a família, aceitar a sua ajuda, para poderem fazer face às suas necessidades.
A gravidez na adolescência é um problema social importante, particularmente nos Açores, onde os números ultrapassam a média nacional.
Importa prevenir, educar as jovens desde cedo a conhecerem o seu corpo, a saberem o que querem da sua vida e a saberem fazer opções conscientes. Mas, importa também educar os rapazes no mesmo sentido. A descoberta do amor deve ser progressiva e, um filho nunca devia ser entendido, como uma demonstração, mas uma opção.
Prevenir a gravidez é uma necessidade, não só por razões de saúde, mas sobretudo porque as adolescentes que engravidam abandonam os seus sonhos de ser, para assumir uma responsabilidade, para a qual não estão preparadas; desistem ou adiam os seus projectos de qualificação e dificilmente os retomam.
Importa informar e acompanhar os jovens nas suas dúvidas e preocupações, e sobretudo, educar no sentido da responsabilidade, que cada um deve assumir quando faz opções; uma responsabilidade que é sempre relacional, porque as acções que praticamos têm sempre impacto nos outros. Ninguém é feliz sozinho e a infelicidade de um é sempre a infelicidade de mais alguém.
A gravidez na adolescência não é apenas um problema de raparigas pouco informadas ou levianas, porque ninguém faz um filho sozinho. São precisos dois, e é preciso que cada um possa ser livre na relação, possa construir o seu futuro, sem ficar preso a uma demonstração, quando afinal nem havia amor.
(publicado no Açoriano Oriental de 21 de Abril 2008)