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SentirAilha

Viva! Este é um espaço de encontro, interconhecimento e partilha. Sentir a ilha que cada um é, no mar de liberdade que todos une e separa... Piedade Lalanda

SentirAilha

Viva! Este é um espaço de encontro, interconhecimento e partilha. Sentir a ilha que cada um é, no mar de liberdade que todos une e separa... Piedade Lalanda

Balanço

O balanço é uma palavra de sentido duplo. Sinónimo de avaliação do que se fez, também pode significar preparação do que se vai fazer, quando se toma balanço.

Fazer e tomar balanço são duas atitudes necessárias neste findar de ano. Por um lado, importa ter consciência do percurso já feito e dos erros, entretanto cometidos. Por outro, é necessário acumular energia, direccionar a vontade e preparar-se, com entusiasmo, para ser mais eficaz no próximo ano.

Fazer o balanço, avaliar, é um exercício que muitos não aceitam de bom grado, preferindo fechar os olhos e passar a linha do tempo sem pensar.

Avaliar-se, mais do que ser avaliado, é um exercício doloroso que implica reconhecer-se nas suas vitórias, mas sobretudo nos seus pontos fracos. Afinal, durante todo este ano eu disse que fazia, que mudava e afinal não fiz, não mudei, não consegui. Avaliar-se é sem dúvida ser capaz de se por em causa, mas não apenas porque se reconhece que não se foi capaz, mas sobretudo quando nessa reflexão se encontram os motivos, as causas. Se não fiz foi porque não me organizei de forma a conseguir; se não mudei, talvez tenha ficado demasiado agarrado às rotinas, aos hábitos, mesmo sabendo que me destruía com isso, não alterei o meu modo de estar; se não consegui foi porque não me empenhei o suficiente, não fiz o esforço que sabia necessário e sobretudo, não fui persistente, vacilei perante as dificuldades e desleixei.

Nesta hora de balanço, importa rever o filme do ano e registar os momentos em que baixamos os braços; em que desistimos, na altura confiantes, julgando que iríamos retomar e que não abandonaríamos aquele propósito, mas o certo é que a vontade foi morrendo e os planos deixados na gaveta.

Fazer o balanço é ser capaz de por em deve e haver a vida de um ano, os ganhos e sucessos e os falhanços e derrotas, sem medo do saldo ser negativo.

Feitas as contas, este é o momento de “partir para outra”. Dar de novo balanço à vida e projectar um novo ano, com energia renovada e novos propósitos. Não importa se são os mesmos do ano anterior, se são tarefas que já deviam ter sido cumpridas. Nunca é tarde.

Que sentido têm os votos de feliz ano novo, se não nos pomos a jeito da felicidade acontecer, nem procuramos renovar as forças que falharam no ano anterior?

De acordo com os analistas económicos, 2009 deverá ser um ano difícil, a fazer fé nas perturbações que assolam a banca e parecem querer por em risco a estabilidade de muitas empresas, comprometendo o rendimento de milhares de famílias. Mas a crise não é justificação para fecharmos os olhos, para abandonarmos os que nos rodeiam e fazermos de conta que não somos responsáveis.

Se há valor que pode salvar as famílias da crise é a solidariedade, sobretudo, afectiva; o apoio aos mais fracos, aos doentes; a atenção aos mais novos.

Entulhar as crianças no meio de brinquedos, abandonar os idosos numa urgência de hospital e fazer de conta que se é feliz, bebendo uns copos numa qualquer festa de fim de ano, é alienar-se da realidade e deixar que a crise dos afectos, qual térmita, silenciosa, destrua as relações e dê lugar à tensão, às rupturas e à infelicidade.

Este é o tempo de fazer o balanço, para de novo tomar balanço, porque o novo ano está aí, como mais uma oportunidade para sermos felizes!

(publicado no Açoriano Oriental de 29 Dezembro 2008)

Desviar o olhar

Não é preciso muito para recusar um pedido.

Não são precisas palavras para isolar as pessoas,

Basta desviar o olhar.

Evitar o contacto,

E seguir em frente,

Indiferente.

Conheço aquela pessoa ou será que a conhecia!?

Tinha na conta de amiga, mas algo mudou.

Não é preciso muito para mostrar indiferença,

Não são precisos muitos gestos para afastar um amigo,

Que entretanto divorciou ou mudou de emprego,

Que defende outras ideias ou caminho diferente decidiu trilhar;

Que ficou na outra margem do rio,

Porque não quis ou não pôde atravessar.

Basta evitar o contacto

E seguir em frente,

Indiferente.

Não faltam pretextos para desviar o olhar.

Não é preciso muito para descriminar,

Mesmo quando se afirma não ser racista e se defende a igualdade,

Basta desviar o olhar,

E essas boas intenções se tornam em falsidade.

Porque o que se fala não se sente,

No que se diz não se acredita,

É-se Indiferente.

Não é preciso muito para recusar o afecto.

Basta desviar o olhar de quem se afirma respeitar,

Basta recusar uma palavra a quem se diz querer ajudar.

Porque os olhos são a janela da alma,

E por eles passam os sentimentos,

A disponibilidade ou a recusa;

O carinho ou a agressão;

O acolhimento ou a rejeição.

“Olha-me nos olhos”, Diz o Menino Jesus,

Não recuses o que sentes.

Aproveita para descarregar,

Esse fardo que andas a transportar.

Queres um Natal diferente?

É simples, não desvies o olhar!

(publicado no A.Oriental de 22 Dezembro 2008)

O Natal que eu não gosto

Nem tudo no Natal me agrada.

Desculpem, mas há uma pressão, uma insistência no brilho, um exagero de luzes, de enfeites e de consumo, que não me agradam no Natal.

O Natal que me faz vibrar é feito de coisas muito simples: um presépio, uma lamparina de azeite acesa, um menino deitado nas palhinhas e um cheiro a cedro de uma árvore enfeitada com bolas e fitas.

Há coisas no Natal que me incomodam. O excesso de luzes nas ruas, as músicas que se repetem e os pais natais que tanto atraem as crianças como as assustam.

Na minha memória no Natal não pode faltar os pratos de ervilhaca, de trigo e de alpista, transformando o presépio numa paisagem natural, miniatura da ilha verde, rica da fartura que se espera.

Não cabem no meu Natal as compras avultadas, os brinquedos que são desejos de adulto e que as crianças abandonam, para se deixarem cativar por um brinquedo simples com o qual fazem de conta que são reis e senhores, ou então fantasiam uma cena doméstica, onde brincam aos pais e às mães, aos comerciantes e aos clientes.

No Natal é preciso tão pouco para sentir a união, o aconchego e a partilha. É preciso tão pouco e tudo à nossa volta parece ser tão exagerado. Alguns parecem viver este tempo como um concurso onde cada um tenta iluminar a sua casa mais do que a do vizinho. É ver os veados a saltar, os pais Natal pendurados em varandas e nos telhados. Um concurso que por vezes se estende às prendas, que se querem maiores e mais caras.

No meu Natal, aquele que me faz sentir criança de novo, há velas acesas, lamparinas de azeite que brilham no escuro do quarto, onde um menino Jesus aguarda a oração da família.

No meu Natal até podia não haver uma árvore, mas não faltaria o presépio.

Porque o Natal deveria ser um tempo de verdade, de sincera solidariedade, de tomada de consciência e sobretudo de encontro. Um tempo para despir máscaras, abandonar o brilho das aparências, deixar-se de falsos sorrisos e hipocrisias e procurar dentro de si os sentimentos mais profundos.

Neste tempo de balanço de um ano que termina, é sempre hora para deitar fora as raivas e abraçar os afectos mais positivos, aqueles que nos reaproximam de amigos afastados, nos leva a visitar familiares sozinhos e nos anima a dizer, “boas festas e um bom ano”, convictos desses votos, porque ditos com o coração.

O Natal da minha memória é partilha, simplicidade e não combina com excessos e acumulação. Faltam poucos dias para a festa e este é o tempo da preparação, não apenas para fazer as limpezas gerais, mudar as cortinas ou as colchas da cama. Este é o tempo para lembrar os que amamos, os amigos e aqueles a quem há muito não falamos. Uma palavra, um telefonema podem ser suficientes para fazer deste Natal um tempo diferente. Mas, se ainda não recebeu essa mensagem amiga, aqui ficam algumas palavras de calor.

 Neste Natal não me esqueci de si, sobretudo se está sozinho, doente ou longe dos que mais ama. Há um lugar diante do presépio também para si!

No meio das luzes e dos enfeites, são para si os sorrisos das crianças e a magia daquela vela acesa que ilumina o rosto do Menino Jesus. Afinal é do aniversário dele que se trata; pode sempre lhe cantar parabéns!

(publicado no Açoriano Oriental de 15 Dezembro 2008)

Hoje é dia das montras

E hoje é também para muitos, se calhar mais velhos, o dia da mãe!

Em tempos, por influência do calendário religioso, 8 de Dezembro era o dia de Nossa Senhora da Conceição e também o dia das outras mães, as “mães da terra” como se aprendia na catequese.

Um dia para festejar a dedicação das mães; lembrar essa atenção tão entranhada que faz uma mãe sentir e pressentir de forma tão especial. Ser mãe é sentir o som alterado da respiração do filho que dorme ou o remexer do bebé com cólicas; é pressentir que o silêncio poderá ser sinal de alguma traquinice ou que no olhar do filho adolescente há um sofrimento, um desgosto, não revelado.

Há já alguns anos que este dia deixou de ser o dia das mães. O comércio falou mais alto e o mês de Maio passou a ser mais favorável para reanimar as vendas e criar mais uma ocasião especial. Mas, apesar de não ter o encanto de outros tempos, talvez porque eram poucas as montras e os produtos no Natal eram sempre diferentes do resto do ano, o dia 8 de Dezembro continua a ser um dia mágico para as crianças que maravilhadas percorrem as ruas, escolhendo de dedo apontado as prendas que gostariam de receber.

Ser mãe é também aprender a lidar com os desejos dos filhos; é educar as crianças a saberem sonhar, fantasiar e ao mesmo tempo a serem realistas, humildes no pedir. Educar o desejo é criar ambição nos filhos mas, ao mesmo tempo, ensinar como a vida se constrói com trabalho, com esforço. Lidar com o desejo é saber dizer “não é possível”, e encontrar nesses desejos prioridades. “Vamos lá ver o que é que o Pai Natal poderá trazer? Temos de pensar em todos e que todos querem receber uma prenda? Não podemos ter tudo! Lembra-te daquele brinquedo que tanto desejavas e, afinal nunca brincaste com ele o ano inteiro!”

Ser mãe é também ser uma referência, um porto seguro onde os filhos vêm sempre se abrigar nas boas e, sobretudo, nas más horas.

E como é importante ser esse porto seguro! Como é importante ter alguém que nos dá a noção certa da realidade; sem nos impedir de sonhar, nos ajuda a ver como podemos viver esse sonho, conquistando-o dia após dia; porque as mães tocam-nos por dentro, como se existissem umas ondas que apenas servem para comunicar entre mãe e filhos, um canal especial por onde passam emoções fortes, radiações que só o sentir de uma mãe consegue captar. “Eu conheço-te! Eu sei que não estás bem! Eu sinto-o!”

Em dia das montras, quando os mais pequenos parecem fascinados com tanto brinquedo, para mim hoje é também o dia da mãe e, o pretexto para lembrar como ser mãe é ser colo, presença e ouvido atento; carinho de um beijo ou de uma comida que deixa marcas de saudade. “Nunca mais fizeste! Tenho desejo de; Ninguém faz este prato como a minha mãe!”

De nariz colado ao vidro da montra, uma menina sonha, imaginando como será que o Pai natal vai entrar naquela loja para embrulhar aquela boneca que ela tanto gostaria de receber! Oh mãe, achas que o Pai Natal vai partir o vidro da loja?

(publicado no Açoriano Oriental de 8 Dezembro 2008)

Mudar de vida

Somos confrontados com a necessidade de mudar de vida, quase sempre quando ocorrem rupturas relacionais, no emprego, na família; quando por motivos de saúde, afectivos ou outros, parece existir um impasse que exige uma reorientação.

Quando se analisa esta exigência de mudança, facilmente se percebe que esses acontecimentos não são as causas directas da mudança de trajectória, apesar desses momentos exigirem uma reflexão acrescida. Afinal, o que tenho sido até agora, que trajectória percorro e porquê?

Quem faz de um acontecimento da vida uma oportunidade de mudança, revela ser capaz de perspectivar o futuro, integrando o passando no presente. Mudar de vida implica sempre decidir-se por um caminho diferente daquele que, aparentemente parecia ser o seu. Como referia o sociólogo Marc-Henry Soulet, o indivíduo é confrontado com uma bifurcação na sua trajectória, a necessidade de alternância, que implica uma situação decisória, o que poderá coincidir com uma despedida, uma ruptura, um divórcio ou uma simples resposta negativa ou afirmativa perante um convite ou um desafio.

Mas se esse momento parece decidir uma vida, na realidade, as mudanças carecem de um tempo de transição, uma fase de adaptação quase sempre marcada por forte instabilidade, que acaba por se constituir como um separador que define a mudança de capítulo, que marca o “virar de página”. Por exemplo, quando alguém se divorcia num determinado dia, na realidade, a relação já vinha se desconstruindo; há muito que se vinha divorciando. A sentença do juiz é apenas um momento nesse processo de separação e desencontro que foi alterando a relação conjugal e criando um contexto favorável à ruptura.

Mudar de vida é sempre um espaço e um tempo de abertura, que permite a alteração de referências e cria condições para que se façam novas aprendizagens. Um tempo de latência, entre vidas ou tempos de vida, onde só aparentemente o passado deixou de determinar o presente e o futuro se abre como espaço criativo.

Mudar de vida implica afastar-se de esquemas instalados, abandonar rotinas não reflectidas e deixar de considerar como inalteráveis posições predefinidas. “Eu sempre fui assim, eu nunca fiz outra coisa, não sei como fazer de forma diferente”, são atitudes de resistência que fazem barreira às mudanças de vida e criam alguma dificuldade de adaptação perante as constantes transformações da sociedade em que vivemos.

Se há qualidade que se exige hoje em dia, mesmo quando a idade parece ser uma garantia de estabilidade, é a disponibilidade para a mudança, seja ao nível das tarefas, dos locais de trabalho ou de residência, das relações de género, para não falar da incorporação das novas tecnologias que alteram a vida quotidiana.

Somos desafiados em permanência a testar a nossa capacidade de adaptação e de aprendizagem. O que somos agora projecta-se no que queremos ser amanhã; o que sabemos hoje é sempre limitado face ao muito que gostaríamos de saber.

Mudar de vida, bifurcar numa trajectória que parecia linear, pré-definida, é sempre criar uma abertura, mesmo que isso possa implicar um tempo de indefinição e alguma incerteza; logo mais, virá a estabilidade, o reencontro consigo e com os outros.

(publicado no Açoriano Oriental de 1 Dezembro 2008)

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