Balanço
O balanço é uma palavra de sentido duplo. Sinónimo de avaliação do que se fez, também pode significar preparação do que se vai fazer, quando se toma balanço.
Fazer e tomar balanço são duas atitudes necessárias neste findar de ano. Por um lado, importa ter consciência do percurso já feito e dos erros, entretanto cometidos. Por outro, é necessário acumular energia, direccionar a vontade e preparar-se, com entusiasmo, para ser mais eficaz no próximo ano.
Fazer o balanço, avaliar, é um exercício que muitos não aceitam de bom grado, preferindo fechar os olhos e passar a linha do tempo sem pensar.
Avaliar-se, mais do que ser avaliado, é um exercício doloroso que implica reconhecer-se nas suas vitórias, mas sobretudo nos seus pontos fracos. Afinal, durante todo este ano eu disse que fazia, que mudava e afinal não fiz, não mudei, não consegui. Avaliar-se é sem dúvida ser capaz de se por em causa, mas não apenas porque se reconhece que não se foi capaz, mas sobretudo quando nessa reflexão se encontram os motivos, as causas. Se não fiz foi porque não me organizei de forma a conseguir; se não mudei, talvez tenha ficado demasiado agarrado às rotinas, aos hábitos, mesmo sabendo que me destruía com isso, não alterei o meu modo de estar; se não consegui foi porque não me empenhei o suficiente, não fiz o esforço que sabia necessário e sobretudo, não fui persistente, vacilei perante as dificuldades e desleixei.
Nesta hora de balanço, importa rever o filme do ano e registar os momentos em que baixamos os braços; em que desistimos, na altura confiantes, julgando que iríamos retomar e que não abandonaríamos aquele propósito, mas o certo é que a vontade foi morrendo e os planos deixados na gaveta.
Fazer o balanço é ser capaz de por em deve e haver a vida de um ano, os ganhos e sucessos e os falhanços e derrotas, sem medo do saldo ser negativo.
Feitas as contas, este é o momento de “partir para outra”. Dar de novo balanço à vida e projectar um novo ano, com energia renovada e novos propósitos. Não importa se são os mesmos do ano anterior, se são tarefas que já deviam ter sido cumpridas. Nunca é tarde.
Que sentido têm os votos de feliz ano novo, se não nos pomos a jeito da felicidade acontecer, nem procuramos renovar as forças que falharam no ano anterior?
De acordo com os analistas económicos, 2009 deverá ser um ano difícil, a fazer fé nas perturbações que assolam a banca e parecem querer por em risco a estabilidade de muitas empresas, comprometendo o rendimento de milhares de famílias. Mas a crise não é justificação para fecharmos os olhos, para abandonarmos os que nos rodeiam e fazermos de conta que não somos responsáveis.
Se há valor que pode salvar as famílias da crise é a solidariedade, sobretudo, afectiva; o apoio aos mais fracos, aos doentes; a atenção aos mais novos.
Entulhar as crianças no meio de brinquedos, abandonar os idosos numa urgência de hospital e fazer de conta que se é feliz, bebendo uns copos numa qualquer festa de fim de ano, é alienar-se da realidade e deixar que a crise dos afectos, qual térmita, silenciosa, destrua as relações e dê lugar à tensão, às rupturas e à infelicidade.
Este é o tempo de fazer o balanço, para de novo tomar balanço, porque o novo ano está aí, como mais uma oportunidade para sermos felizes!
(publicado no Açoriano Oriental de 29 Dezembro 2008)