Circular na Rua dos Mercadores
Não passo de carro na rua dos Mercadores. Não é proibido, nenhum sinal de trânsito o impede, mas o bom senso e, sobretudo, o respeito pelo trabalho dos calceteiros que durante semanas construíram e embelezaram o piso daquela via, impede-me de o fazer.
A rua dos Mercadores foi certamente uma das mais importantes no comércio da cidade, no tempo em que esta actividade acontecia em torno da igreja Matriz.
Mais tarde, apesar da extensão dos comerciantes a norte e sobretudo a poente do centro da cidade, a rua manteve um conjunto de lojas, algumas das quais já abandonaram esta via.
Recentemente a Rua foi calcetada, julgava eu e imagino muitos mais, para ser devolvida aos peões. Sem passeios, poderia ser um incentivo à fixação de novas empresas, nomeadamente do ramo da restauração, instalando esplanadas e espaços de convívio.
Infelizmente, o executivo municipal entendeu que a via deveria manter-se aberta ao trânsito, não apenas para descargas e em horário limitado, mas a qualquer hora do dia.
Os carros atravessam o espaço, por vezes em velocidade excessiva, cabendo ao peão estar atento ao som, isso se não for surdo, para evitar um atropelamento.
Não faz sentido. A joga de mármore que forma os desenhos geométricos da calçada começa a revelar marcas de poluição e pneus das viaturas, sem respeito pelo trabalho aturado de quem lapidou pedra a pedra aquela calçada.
Apesar de sermos tentados a levar o carro para todo o lado, é urgente libertar a nossa cidade da pressão que as viaturas impõem, aumentando o ruído, a poluição, quantas vezes formando verdadeiras barreiras à mobilidade dos cegos, dos deficientes motores ou, simplesmente, dos mais pequenos que viajam em carrinhos de bebé ou pela mão dos seus pais.
Até pode ser permitido, mas os habitantes de Ponta Delgada deveriam evitar passar nesta rua histórica com viaturas motorizadas, a não ser os moradores ou em situação de descarga, como ocorre em outras vias pedonais.
A Rua dos Mercadores deveria ser transformada num novo espaço de convívio urbano, já que se trata de uma via onde a história da cidade se conta nos seus bonitos edifícios.
(publicado no Açoriano Oriental de 27 de Julho 2009)