O esforço dá sentido à vida
Esta é uma daquelas histórias intemporais, que ajudam a entender o sentido mais profundo da vida.
“Um dia, um homem observava um casulo, onde se podia ver uma pequena abertura por onde uma borboleta se esforçava para fazer passar o seu corpo. Vendo a borboleta parada e julgando que esta tinha desistido de lutar, o homem decidiu ajudá-la e cortou o casulo com uma tesoura. De imediato a borboleta saiu, mas o seu corpo estava murcho, era pequeno e as suas asas estavam amassadas.
O homem continuou a observar a borboleta, esperando que as suas asas se abrissem e esticassem, capazes de suportar o corpo da borboleta. Mas, afinal, nada aconteceu! A borboleta nunca foi capaz de voar.”
Afinal, a vontade de ajudar ou de antecipar a saída da borboleta não teve em conta o facto de o casulo apertado e o esforço necessário à borboleta para passar através da pequena abertura serem necessários para que o fluído do corpo da borboleta passasse para as suas asas e lhe permitisse estar pronta para voar fora do casulo.
Nem todos os gestos que pretendem ser ajudas, o são na verdade.
Há quem ajude os outros na busca de satisfazer um desejo pessoal, num mero exercício de poder, coleccionando favores. Ajudar é compreender o outro, reconhecer as suas necessidades e procurar respostas, sem nunca se substituir à capacidade própria de cada pessoa, tornando-a mais livre e nunca refém dessa ajuda.
Temos de recuperar o valor do esforço como ingrediente necessário à vida, que dá sentido ao dia a dia. Quando um pai se substitui ao filho na realização de um trabalho de casa, retira-lhe a oportunidade de se descobrir, de cometer erros e aprender com eles. Quando um jovem rejeita um emprego, porque não lhe pagam o salário que considera adequado a um licenciado, perde uma oportunidade de sentir o valor do esforço e, se calhar, está a rejeitar um princípio de carreira.
Quem deseja uma vida sem obstáculos, é fraco. O que nos torna fortes é o esforço e até o sofrimento com que atingimos objectivos
Dificilmente se percebe o valor da liberdade sem esforço.
Somos todos borboletas. Quem se esforça aprende a voar, com as suas próprias asas.
(publicado no Açoriano Oriental de 12 de Outubro 2009)