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SentirAilha

Viva! Este é um espaço de encontro, interconhecimento e partilha. Sentir a ilha que cada um é, no mar de liberdade que todos une e separa... Piedade Lalanda

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Viva! Este é um espaço de encontro, interconhecimento e partilha. Sentir a ilha que cada um é, no mar de liberdade que todos une e separa... Piedade Lalanda

Estacionar junto à secretária

Muitos automobilistas, se pudessem, estacionavam o carro ao lado da mesa do escritório, repartição ou gabinete onde trabalham ou onde necessitam de ir tratar de um assunto.

Pensar em andar a pé, mais do que dez ou vinte passos, parece uma exigência excessiva para quem faz do carro as suas pernas.

Até podem ter de dar duas e três voltas antes de encontrar um lugar, mas desprezam todos aqueles que estiverem longe do local onde pretendem ir. Se calhar até podiam deixar o carro em casa, mas pensam, sempre, que vão demorar menos tempo se levarem o carro, nem que seja para percorrer cem metros.

Alguns condutores até são ultrapassados por peões que caminham nos passeios, num passo normal, enquanto eles fazem fila, presos no engarrafamento, vendo os semáforos mudar de verde para vermelho, sem que consigam avançar.

Um automobilista, atrasado e ansioso por chegar ao emprego ou que não quer ficar longe de determinado local, é capaz, por comodismo, de estacionar em qualquer sítio, bloqueando a saída de uma garagem, impedindo os outros carros, saltando passeios, entrando por zonas ajardinadas e não se inibindo de ocupar áreas reservadas aos peões.

Nessas horas, o carro invade o espaço e o condutor apenas se preocupa consigo; não há barreiras, sinais de proibição e, sobretudo, não há civismo e falta bom senso.

Infelizmente, essa é a mentalidade de muitos dos nossos condutores, que urge mudar e reeducar.

Poderíamos falar das alterações climáticas, dos níveis de dióxido de carbono na atmosfera, do ruído, da desumanização que o excesso de veículos impõe nos meios urbanos, como justificações para reduzir o número de viaturas que circula nas cidades, mas basta considerar a falta de saúde e os problemas da obesidade para realçar a importância do hábito de andar.

Não basta plantar umas árvores nos passeios para dizer que se é amigo da natureza ou que se promove o equilíbrio entre o construído e os espaços verdes. É fundamental revalorizar o ambiente; é preciso ouvir as histórias que o património natural e construído tem para contar, reencontrar o gosto pelas deslocações a pé ou de bicicleta e transformar os locais de convívio em espaços animados. E isso significa utilizar os veículos a motor de forma moderada e, preferencialmente, em grupo.

Promover a melhoria da qualidade de vida dos habitantes da nossa terra implica, forçosamente, reaprender a andar e a gerir o recurso ao transporte motorizado. Significa libertar praças e zonas ajardinadas da presença de automóveis e reforçar os locais de convívio e lazer.

Por exemplo, não faz qualquer sentido o estacionamento nos passeios em torno da igreja Matriz de Ponta Delgada, mesmo que alguns possam justificar que, nessa hora, participam em actos religiosos. Há pelo menos três parques a menos de cinquenta metros e se alguém tem dificuldades motoras, bastaria deixar essa pessoa à porta e estacionar a viatura noutro local. Também não se percebe porque motivo se passou a estacionar em frente ao Liceu ou ainda se o faz no largo, outrora jardim, junto à Igreja dos Jesuítas. Em qualquer dos casos há parques próximos.

O comodismo e o facilitismo, dos responsáveis políticos e dos cidadãos em geral, dificilmente construirão uma sociedade mais saudável.

(publicado no Açoriano Oriental, 26 Julho 2010)

Desburocratizar

A burocracia é um mal necessário da administração, supostamente criada para tornar igualitário o processo de acesso de todos os cidadãos aos serviços do Estado. Burocracia significa literalmente escritório e poder mas, na prática, corresponde por vezes a um excesso de procedimentos e a uma falta de eficiência desse mesmo poder. O tamanho dos processos nem sempre corresponde à atenção que é devida às pessoas.

Os burocratas estão presos ao poder que lhes conferem os formulários de pedido e os requerimentos, que movimentam lentamente na hierarquia dos seus departamentos; recolhendo assinaturas e autorizações; reclamando informações suplementares e documentos em falta; obrigando o cidadão a sucessivas idas ao departamento, para completar um processo, que se arrasta de prazo em prazo.

Este sistema, apesar de moroso, até poderia ser igualitário, se todos acedessem nas mesmas condições e fossem tratados do mesmo modo.

Na realidade, a burocracia funciona muitas vezes como filtro para limitar os apoios, condicionar as decisões e apoiar apenas alguns. Tudo começa no preenchimento de um pedido, na entrega de uma candidatura, aceite dentro de um determinado prazo e munida de um conjunto alargado de documentos e verificações.

Infelizmente, no país em que vivemos, a iliteracia e o desconhecimento dos direitos de cidadania limitam a mobilidade de muitos cidadãos dentro dos canais de poder. Porque alugaram uma casa onde o senhorio não fez contrato e não passa recibo; porque não têm meios para pagar um técnico que lhes faça um projecto; porque se dirigiram ao departamento errado e têm de repetir “n” vezes a mesma informação, são preteridos ou ficam a aguardar, acabando por desistir.

Entretanto, outros há, que ultrapassam todas estas barreiras, com alguns telefonemas ou mensagens electrónicas e a intervenção de alguém influente no processo de decisão.

A burocracia pode matar os direitos dos cidadãos, quando um funcionário responde, friamente, “tenho instruções para não autorizar”; “não posso aceitar porque falta um papel e ultrapassou a data limite”; “eventualmente, se o meu chefe autorizar, poderá ser despachado, mas não garanto nada!”.

Hoje em dia, o burocrata esconde-se detrás de um código de acesso, um nome de utilizador ou uma palavra passe. Tudo ou quase tudo acontece por via da internet, mas isso não significa que seja mais fácil obter deferimento, porque, infelizmente, nem todos os cidadãos estão habituados a este tipo de comunicação.

Desburocratizar é tornar a administração pública mais amiga do cidadão e, por essa via, melhorar o acesso de todos à concretização dos seus direitos, combatendo por essa via, a desigualdade social. É simplificar um sistema excessivamente complexo e impessoal, que prejudica a rápida e eficaz resposta das organizações às necessidades e aos direitos dos cidadãos.

Desburocratizar não significa desorganizar, porque a organização é fundamental e necessária, mas humanizar a relação e a comunicação entre a administração e os cidadãos.

(publicado no Açoriano Oriental de 12 Julho 2010)

Envelhecer não é doença

O século vinte marcou definitivamente as condições de vida de muitas populações, particularmente nos países do mundo dito ocidental.

Os avanços da medicina, a introdução do saneamento básico, o abastecimento de água e a rede eléctrica contribuíram para a melhoria da qualidade de vida das pessoas. As novas tecnologias da saúde, os meios auxiliares de diagnóstico, entre muitas outras inovações médicas, contribuem para debelar enfermidades que outrora condenavam à morte.

Se recuar à década sessenta do século XX, quando nasci, a esperança média de vida ao nascer rondava os setenta anos, menos dez do que é hoje.

Nessa época, a idade da reforma correspondia não apenas ao fim da vida activa mas a uma real perda de capacidade física. Hoje, a média da esperança de vida ronda os oitenta anos, daí que se fale de uma nova etapa no ciclo vital, a quarta idade, que abrange a geração com mais de 75 anos.

Vivemos mais tempo e queremos, todos, viver melhor. Não basta acrescentar anos à vida, é preciso dar vida aos anos que se vive.

Um prazo limite? Teremos sempre, porque nascemos marcados por esse selo que é a finitude da espécie, razão de ser da própria vida. Somos um projecto limitado, mas infinita pode ser a forma como vivemos esse tempo, o contributo que damos, qual tijolo que colocamos na construção do mundo, no local onde vivemos. Não importa se o nosso contributo é mais ou menos notado pelos que nos sucederão. Também os alicerces de uma casa não se vêem e, sem eles, a construção ruiria. O importante é contribuir, participar, apoiar, estar atento para poder elogiar mas também criticar. É estar presente e ser presente neste fluxo de tempo que faz a história.

Ter mais tempo de vida tem levado as sociedades actuais a olharem de modo diferente para os idosos. Há muito deixaram de ser velhos. São cidadãos seniores que as gerações mais novas aprendem a reconhecer, descobrindo que em todas as idades há alegria de viver. Afinal há muito mais vida para além do trabalho remunerado, do emprego, ou mesmo da vida familiar. Ter hoje mais de sessenta anos é usufruir de um tempo que pode ser criativo, onde reine a serenidade, novas aprendizagens, convívios e em que se pode viver liberto de constrangimentos e obrigações.

É certo que a velhice nem sempre é um tempo em que se respira saúde.

Mas, se por um lado, o corpo físico dá sinais de limitação, a resistência é menor e a caixa de comprimidos não pode ser esquecida, também não é menos certo que se envelhece melhor ou pior, dependendo do espírito e da atitude com que se encaram as dificuldades da vida. Sempre que um idoso desiste de sair de casa, recusa-se a frequentar lugares de convívio, perde o hábito de ler, telefonar aos amigos ou conversar com os netos, envelhece um pouco mais e torna mais pesados os anos que tem.

Envelhecer não é doença, mas um desafio diário, próprio da condição humana.

Envelhecer não é fatalidade mas condição, não é defeito mas feitio de quem está vivo e acredita que há sempre motivos para não desistir de aprender, experimentar e descobrir esse mistério que é viver!

(publicado no Açoriano Oriental de 5 de Julho 2010)

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