Defender Portugal e proteger os Açores
Ainda restam por aí algumas bandeiras de Portugal, penduradas em varandas e janelas, desde o Europeu de 2004. Não faltou quem considerasse esse gesto, uma prova do patriotismo e do grande amor dos portugueses ao símbolo nacional.
Defender Portugal, ter orgulho em ser português são princípios que consideramos justos, correctos e dignos.
Vivemos tempos difíceis e, numa atitude patriótica, não é de estranhar as vozes que se levantaram contra uma interferência externa, na sequência da escalada especulativa dos investidores e da pressão das agências de “rating”.
Uma pressão irracional que pode ter origem no aumento das despesas do Estado, mas também resulta, de uma forma relevante, do endividamento das empresas e das famílias. Por falta de planeamento, esforço ou visão, muitas não conseguiram aguentar o embate da crise internacional. Não foi certamente por termos salários acima da média europeia, que não temos. Não foi com certeza por termos uma população altamente qualificada, porque infelizmente ainda somos deficitários nesse domínio. Muito menos foi por termos um tecido empresarial moderno.
No entanto, os analistas não negam que em todos esses domínios estávamos e estamos a fazer um esforço de mudança. “A crise não resulta da actuação de Portugal (…) o seu défice orçamental é inferior ao de vários outros países europeus e tem estado a diminuir rapidamente, na sequência dos esforços governamentais nesse sentido”, escrevia há poucos dias Robert Fishman no “The New York Times”.
Mas também é certo que, sem o envolvimento de todos, não se muda o país. E não é fácil, quando por exemplo, fechar escolas do primeiro ciclo com menos de vinte alunos e sem condições provoca uma onda de protestos, ampliada pela comunicação social; melhorar o acesso a cuidados de saúde com qualidade, gera descontentamentos, porque se encerram pequenas unidades sem condições.
As mudanças em Portugal são lentas. A muito custo se consegue racionalizar e diminuir despesas e garantir uma melhor qualidade de vida às populações.
Defender Portugal é ter o arrojo de acreditar que temos de mudar, transformar, qualificar e renovar, a um ritmo superior à média europeia, se nos queremos aproximar de níveis de vida condignos e não ficar à mercê de especuladores.
Somos um país pequeno, marginal, numa Europa de grandes e, por isso, Portugal foi vítima de uma crescente descredibilização vinda de agências de “rating”, entidades quase virtuais, dominadas por interesses pouco claros, que não olham a meios nem estão preocupadas em defender o esforço que os países possam estar a fazer para crescer de modo próprio.
E o que fizeram aqueles que não estando no poder, tinham responsabilidades políticas?
Em vez de elevarem a bandeira nacional nas janelas da sua consciência e defenderem Portugal acima de qualquer outro interesse imediato, entenderam que a crise financeira era uma oportunidade para se afirmarem como “salvadores da pátria”. Alucinados com a hipótese de chegar ao poder, esqueceram-se que estavam a arrastar o país para medidas de austeridade ainda mais gravosas.
Onde estava o patriotismo, quando os partidos na oposição se regozijaram com eleições antecipadas, que vão custar 18 milhões de euros? Qual é a defesa de Portugal, perante o agravamento previsto da qualidade de vida dos portugueses?
Infelizmente, há quem facilmente cante o hino e levante a bandeira, em jogo da selecção, mas, quando é preciso unir esforços para afirmar a nossa identidade, se esqueça de defender Portugal.
Defender Portugal é proteger os Açores e afirmar a nossa identidade na unidade do país.
(publicado no Açoriano Oriental, 18 de Abril 2011)