Persistir
A etimologia das palavras faz-nos mergulhar no sentido mais profundo da sua origem e que habitualmente desconhecemos. Usamos e abusamos das palavras, diariamente, por vezes de forma superficial, quando tentamos dizer o que pensamos, queremos ou sentimos.
Persistir é um verbo, que alimenta a persistência, qualidade fundamental que pode fazer a diferença entre o sucesso e a derrota, entre a realização e o abandono. Persistir, diz a etimologia, é uma palavra composta, por “per”, que significa totalidade e “sistire”, que significa manter-se firme,
de pé.
Quem é persistente, entrega-se de corpo e alma, inteiro, à realização de uma tarefa, à concretização de um objetivo, mantendo-se firme, de pé, qual velejador segurando o leme em plena tempestade.
Não é fácil persistir, quando aumentam as dificuldades, críticas, acusações, ameaças ou se vive num clima de descrença. Não é fácil encontrar pessoas que se entregam de corpo e alma, e que mesmo nos momentos mais difíceis não duvidam das razões que justificam uma determinada escolha.
É normal sentir dúvidas e, por momentos, até é saudável afastar-se do percurso, quando perante essa exigência de totalidade, uma parte do eu não adere, tem medo de perder e aumenta a indecisão entre um avançar, que pode ser doloroso, e um parar que acomoda. Quando não se está de corpo inteiro, a mente vacila e o corpo parece ceder. Valerá a pena? O que ganho com isso?
Os percursos de vida com sucesso mostram sempre pessoas com persistência, que não se ficam pelo entusiasmo inicial, e onde não faltam lutas em momentos difíceis.
Persistir é dar-se de corpo inteiro e manter-se firme, de pé.
Não basta entregar-se, é preciso não se deixar vencer. Persistir exige coragem, determinação e uma crença inabalável no que se pretende alcançar. Só quem acredita em si consegue manter-se firme e não cede às vozes que dizem para largar, desistir.
Esta é uma virtude que tem de ser ensinada, estimulada e não abafada, como fazem muitos pais. Perante a dificuldade da criança, que tenta resolver um problema, tão simples como levar a colher à boca, atar os sapatos ou pintar um desenho, apressam-se a completar, dizem eles que ajudam, e assim evitar a dificuldade. Quando é aí, perante os obstáculos, que se aprende o valor da persistência. É aí, testando capacidades, resolvendo problemas, que se cresce e se amadurece. De nada serve, levar a vida a colocar almofadas para nunca sentir a dor da queda. O importante é levantar-se e voltar a tentar, persistir.
É a persistência que transforma o aprendiz em mestre ou permite alcançar a meta, quando se é peregrino ou alpinista. A dor aperta, mas o objectivo permanece. A tentação é para parar, resguardar-se, mas vence a vontade de chegar, não para competir com outros, mas para vencer, em si mesmo, esse outro que se julga derrotado à partida.
Por mais difícil que a vida nos pareça, não podemos deixar de persistir na realização do que faz sentido, mesmo que isso signifique lutar ainda mais, vencer mais obstáculos, afastar barreiras ou reinventar soluções.
Este não é o tempo para desistir, mas para persistir.
(publicado no Açoriano Oriental de 14 Novembro 2011)