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SentirAilha

Viva! Este é um espaço de encontro, interconhecimento e partilha. Sentir a ilha que cada um é, no mar de liberdade que todos une e separa... Piedade Lalanda

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Viva! Este é um espaço de encontro, interconhecimento e partilha. Sentir a ilha que cada um é, no mar de liberdade que todos une e separa... Piedade Lalanda

Diferença ou desigualdade

A diferença não significa desigualdade. A diferença faz descobrir o outro, enriquece, aumenta o potencial de partilha e favorece a complementaridade. A desigualdade afasta, empobrece as pessoas e os povos, dificulta a solidariedade e é pretexto para o abuso de poder e a exploração.

A diferença de género não pode justificar as desigualdades sociais, económicas e até políticas que ainda hoje marcam a relação entre homens e mulheres.

Há quem procure na biologia, no instinto ou num quadro mais ou menos fixo de funções psicoafetivas, uma explicação para justificar a condição social de género. Levantam-se vozes para culpabilizar as mulheres pela baixa de natalidade, pela diminuição da taxa de fecundidade, pelo envelhecimento do país. E, chega-se ao ponto de propor que voltem para casa, que tenham filhos e se dediquem a eles deixando a vida económica e a participação política aos homens, que esses não têm tais responsabilidades; a eles não lhes cabe mudar fraldas ou ensinar as gerações futuras a respeitar valores de igualdade e tolerância.

Reduzem as vidas das mulheres à sua capacidade procriativa, como se esta fosse uma responsabilidade feminina e não um desígnio do ser humano. Apesar da taxa de fecundidade calcular os nascimentos em função do número de mulheres em idade reprodutiva (15 a 49 anos), a decisão de ter um filho devia ser uma escolha consciente. Porque, a relação que daí resulta, é mais do que a maternidade ou a paternidade, consubstancia o que hoje se designa por parentalidade, ou seja, a relação de duas pessoas, que podem ser pais biológicos ou não, com os filhos.

Os filhos não nascem por causa das mulheres, nem pela vontade única destas. São a realização dos seres humanos que assim passam testemunho, dão continuidade à própria vida em sociedade e transmitem uma herança social, mais do que genética, garantindo a sobrevivência da espécie e dos povos.

A diferença gera complementaridade. Homens e mulheres complementam-se na criação, nas funções familiares, nas tarefas, no pensar e no transformar o mundo que os rodeia.

E a complementaridade é sinónima de partilha de responsabilidades. E, partilhar responsabilidades é assumir a construção da sociedade e os seus problemas.

Por isso, não há problemas das mulheres que também não sejam problemas de homens.

Na violência doméstica há 80% de mulheres vítimas, mas há 80% de homens agressores; na prostituição, por ventura 80% são mulheres, mas um grande número destas vive na dependência de homens que as exploram ou controlam as suas vidas. Na gravidez precoce, jovens mães acabam por ser vítimas da irresponsabilidade dos parceiros, quase sempre mais velhos, que as seduzem para uma relação sexual não protegida. Na monoparentalidade, um número elevado de mulheres fica legalmente com o encargo de sustentar os filhos, após um divórcio, uma viuvez ou simplesmente uma relação conjugal que não se concretizou.

Todos os problemas das mulheres são problemas dos homens. Mas, enquanto a diferença de género for pretexto para desigualdades sociais, desrespeito por direitos humanos, exploração e abusos de poder, estaremos longe de uma cidadania plena.

A diferença de género devia multiplicar e não dividir, enriquecer a partilha e nunca excluir ou discriminar.

(publicado no Açoriano Oriental de 12 Março 2012).

Incentivar os jovens

Quando um governante sugere aos jovens do seu país que procurem melhor futuro servindo outras nações, é como se os empurrasse porta fora e lhes estivesse a dizer, “vocês aqui estão a mais. Sobram pessoas para os lugares que temos e, como fostes os últimos a chegar, tereis de ser os primeiros a partir”.

Esquece esse governante, por sinal o primeiro-ministro, que apesar de terem sido dos últimos a chegar, cada jovem que sair deste país leva consigo um património cultural e intelectual, muito superior às riquezas que traziam as caravelas de outros mundos no século XV.

Se compararmos os países que hoje lideram o desenvolvimento na Europa, não há dúvida. Quem ocupa os primeiros lugares tem um nível de qualificação e de igualdade de oportunidades superior. E Portugal, só nos últimos anos, conseguiu aumentar, de forma significativa, ainda que aquém do desejado, o número de licenciados e investiu com resultados no capital científico e intelectual das universidades e em centros de investigação de excelência.

Deixar ou convidar a sair um jovem licenciado é perder uma parte desse ganho que levamos quase duas décadas a construir, depois de herdarmos um país onde um terço dos portugueses era analfabeto.

Não podemos sangrar o tecido social deixando escapar indivíduos qualificados, do ponto de vista académico e científico. Apesar de poder ser reconfortante pensar que existe uma perspetiva de rendimento, para quem for trabalhar além-fronteiras, de que serve tanta esperança se, depois de passada a crise, esses jovens qualificados não regressarem?

Investir no capital científico, técnico e social da juventude é um sinal de maturidade social, maturidade política e sentido de responsabilidade. Uma região que quer ultrapassar os tempos difíceis que atravessamos, não pode empurrar os jovens para o limbo da política ou da vida das empresas, mas deve apostar na integração dos que estão disponíveis para aceitar desafios, têm espírito criativo e são capazes e podem refrescar o discurso político.

Não se constrói o futuro entretendo os jovens com slogans publicitários, mas dando voz a uma geração bem formada, com provas dadas, que está pronta para colaborar na construção de uma sociedade forte, empreendedora, sem por em causa o desenvolvimento já construído. Foi assim há dezasseis anos.
Um líder jovem afirmou-se perante o eleitorado açoriano, como uma esperança. Os Açores podiam e conseguiram sair do último lugar em termos de indicadores de desenvolvimento.

Hoje, os açorianos continuam a precisar desta vontade forte e determinada de uma geração de jovens políticos. Que estão prontos para dar continuidade a esse processo de crescimento e desenvolvimento integrado. Já não estamos no mesmo patamar de há vinte anos. Hoje temos mais jovens licenciados, qualificados e o tecido empresarial pode recrutar nas escolas profissionais, colaboradores capazes de rentabilizar os negócios e melhorarem a produtividade das empresas.

Como referiu Vasco Cordeiro, é fundamental incentivar os nossos jovens a colaborarem na construção dos Açores e a acreditarem no seu futuro.

Temos de acreditar na força desta geração de políticos que nasceu com Abril de 74, em democracia, e que hoje está mais capaz do que nunca para continuar a lutar, de mãos dadas com quem lhes precedeu, por uma sociedade livre, justa, que merece a confiança de todos, em particular dos mais jovens.

(publicado no Açoriano Oriental de 14 Fevereiro 2012)

Promessas e política

Não há candidato político, que se preze, que não faça promessas para conquistar os eleitores.

Mas o que esperam as populações ouvir dos candidatos?

Neste tempo, em que se pede poupança, redução de despesas e se assiste a situações de real dificuldade financeira, com casas a serem entregues à banca por falta de cumprimento das prestações e empresas que fecham por não conseguirem modernizar-se, que futuro deve ser antecipado em discursos e programas eleitorais?

Precisamos de projetos políticos consistentes, que estimulem a participação das pessoas e o seu sentido empreendedor e invistam de forma fundamentada e seletiva, na redução das carências infraestruturais.

Precisamos de políticos de fé, com valores, que tenham provas dadas em matéria de sensibilidade social; que prometam potenciar o que de melhor cada um pode dar à sociedade e não alimentem ilusões ou cenários impossíveis.

Os tempos são difíceis, mas não podemos economizar na luta contra as desigualdades sociais. Por isso, é fundamental escolher quem tudo fará para que não se agrave a injustiça social.

Precisamos de políticos que militem em partidos onde as mulheres têm assento e voz e que não façam discursos de circunstância, apelando
à participação das mulheres na política, recorrendo à velha máxima que se tal não acontece é porque faltam creches e ATL’s. A paridade de género constrói-se nos bancos da escola, na gestão das empresas, no número de lugares ocupados nos parlamentos e nas assembleias municipais. E, as creches, sendo importantes, são equipamentos complementares à vida das famílias ativas.  

Precisamos de firmeza na aposta educativa. Temos de ter coragem de assumir a importância da rede “Valorizar” e dos cursos “Reativar”, e dizer que é uma vergonha nacional fechar “oportunidades” a quem não pode ou não teve quem o apoiasse quando jovem, em matéria de qualificações académicas e profissionais.

Queremos ouvir políticos que não defendam escolas públicas para ricos e escolas públicas para pobres ou crianças de famílias maiscarenciadas, mas acreditem que todos devem ter lugar numa escola de qualidade, com meios tecnológicos e oportunidades de formação.

Precisamos de políticos que reforcem medidas sociais de apoio aos transportes como é o “passe social” ou o “Interjovem”, e não recusem financiar o transporte e a ação social escolar, que no continente são dainteira responsabilidade das autarquias. Não é credível afirmar que se defende os idosos e, ao mesmo tempo, apoiar o governo da república quando elimina o critério de idade nas tarifas dos transportes públicos.

São precisos políticos que não precisem de fazer um almoço para falar de políticas sociais e assumam que a rede de equipamentos de apoio à infância ou à velhice deve ser de qualidade, desenvolvida em parceria com a sociedade civil e servida por técnicos devidamente habilitados, o que não é compatível com sistemas paralelos, não acreditados.

Não basta prometer infraestruturas, sobretudo se não têm sustentabilidade.
Precisamos de quem acredite genuinamente na construção de uma sociedade mais justa, esteja atento às necessidades sociais e seja capaz de apoiar quem mais precisa.

Prometer o controlo de indicadores financeiros, a redução do deficit ou da dívida, não basta. As pessoas precisam de governantes que decidam com sentido de responsabilidade social e não matem a esperança e a crença num futuro melhor.

(publicado no Açoriano Oriental a 7 Fevereiro 2012)

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