Férias e pormenores
Detalhes, pormenores são aspetos da vida, das pessoas ou da natureza que habitualmente os nossos olhos desvalorizam, ignoram, preocupados em registar tudo com a grande angular do olhar.
Detalhar, pormenorizar ou esmiuçar é ver com atenção a parcela do quadro, a pedra do muro ou a ruga que o sorriso provoca no rosto. E, nesse exercício de atenção, descobrir a beleza escondida no mundo que nos rodeia.
Sem um olhar de pormenor, de pequena escala, que atenta ao pássaro poisado, à folha amarela numa floresta de verde, às nuances de azul do mar ou ao formato das nuvens, passamos ao lado da diferença.
E faz toda a diferença, olhar o mundo em grande angular ou observar os seus pormenores, detalhes, é como viajar por estradas secundárias ou percorrer apenas autoestradas.
Veja-se o exemplo das ilhas, territórios pequenos, onde dez quilómetros podem significar atravessar a ilha de lado a lado, enquanto noutra terra maior, isso seria atravessar um campo ou até uma propriedade privada.
A questão não está na quantidade de quilómetros que se percorrem mas no modo como se descobre cada metro, cada recanto, cada lugar.
Há uma história para se contar, a partir daquela reentrância do mar, onde o azul é diferente, a areia por ser mais grossa não se prende aos pés e as ondas nem sempre nos trazem ao mesmo lugar da praia.
São experiências, emoções de pormenor, que transformam um lugar bonito, numa recordação de férias.
Atrevia-me a dizer que é preciso incentivar o turismo do detalhe, do pormenor, e convidar quem nos visita a olhar as ilhas sem pressa de chegar, sem grandes angulares, mas com lentes de aproximação. Assim, haverá muito mais para descobrir. Por exemplo, essa é a beleza dos trilhos, que afastam os caminheiros de estradas alcatroadas e largas, para os conduzir a pequenos carreiros que serpenteiam a natureza. Fazer um trilho é caminhar em busca do pormenor, do detalhe e maravilhar-se com as revelações que a natureza preparou em cada etapa da caminhada.
Detalhes, pormenores, só os vê quem não tiver pressa, quem degustar a natureza, apreciar o sabor dos alimentos, for à procura dos aromas e descobrir com a ponta da língua o tempero das comidas.
Essa é uma forma intensa de viver o tempo. Não importa se são poucos dias de férias. Quando se procuram pormenores e se descobre a maravilha escondida nos detalhes, esses dias tornar-se-ão semanas, sem que haja desperdício de tempo, nem desatenções no olhar.
O tempo de férias sabe sempre a pouco, mas quando se deixa o relógio em casa e se parte à descoberta do que não vem nos roteiros de viagem, então um dia pode valer por dez e, na memória, ficam histórias que nunca mais esquecem.
Convidaria quem nos visita a fazer turismo do pormenor, dos sabores e dos cheiros, dos detalhes de cor e texturas. As ilhas não se consomem ao quilómetro, mas ao metro; não se veem do alto dos miradouros ou de cima das pontes; são para se sentir, para saborear emoções, junto ao mar, molhando os pés nas ribeiras e sobretudo, fazendo de cada detalhe ou pormenor, uma experiência maior.
(artigo publicado no Açoriano Oriental de 28 Julho 2015).