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Viva! Este é um espaço de encontro, interconhecimento e partilha. Sentir a ilha que cada um é, no mar de liberdade que todos une e separa... Piedade Lalanda

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Pão-por-Deus

O mês de Novembro começa tradicionalmente com o pão-por-Deus, um gesto de solidariedade que nos relembra quem já faleceu.

Associado à festa religiosa de todos os santos e ao dia das almas, o pão-por-Deus é uma tradição popular, que junta esta relação com a morte e o apelo à solidariedade para com os vivos, sobretudo aqueles que passam por mais dificuldades.

Aprender a ser solidário e a reconhecer o caráter transitório da vida são duas traves mestras da educação, que fazem descobrir o sentido do outro. A vida de cada um é um elo que se liga a uma cadeia, onde muitos outros elos já partiram, para construir uma comunidade, que se quer solidária.

Sem ser tradicionalista, mas reconhecendo o sentido da mensagem do pão-por-Deus, não consigo entender porque se deixou entrar, de forma tão comercial e até desregrada, a prática do hallowen, uma outra tradição, inspirada é certo na relação com a morte, mas transformada entre nós num carnaval fora de tempo.

Infelizmente, no meu entender, esta tradição importada é mal interpretada por quem não é anglo-saxónico. Apenas retiram dela o lado carnavalesco, das partidas ou travessuras, do desperdício e dos excessos.

Enquanto os distribuidores dos jornais me deixaram poemas na caixa do correio, lembrando-me que 1 de Novembro era dia de Pão-por-Deus, os foliões do hallowen, que pela minha porta passaram, não estando eu em casa, empastaram a caixa de correio de maionese e ketchup.

Faz algum sentido? O que aprendem as crianças com tais comportamentos?

Será esta a melhor forma de lidar com a morte?

Sabemos que há pais que acham demasiado "violento" levar as crianças diante de alguém que faleceu, mesmo que seja o avô, para não os sensibilizar ou emocionar. Não conseguem abordar o tema da morte e dizem que o avô foi viajar. Sentem dificuldade em ensinar e a partilhar com os mais novos o sentido da perda, do transitório que é a vida.

Enquanto isso, alinham nessa brincadeira das bruxas, dos demónios ou das abóboras, que mais não fazem do que libertar emoções negativas, agressividades contidas e algum vandalismo disfarçado de travessura.

Estamos no mês de Novembro, um mês que na agricultura é dedicado à poda das árvores, um gesto necessário à renovação do ciclo natural. Um gesto que saneia os ramos secos ou aqueles que desperdiçam energia, que deve ser canalizada para os ramos produtivos.

Nas nossas vidas, há momentos que também precisamos de podas, alterações profundas que partam de dentro e nos façam escolher o essencial.

Entre um pão-por-Deus e esta forma estranha de festejar a entrada no mês de Novembro, continuo a preferir a primeira, que me lembra o quão é importante sermos gratos pela vida.

Permitam-me que utilize as palavras dos poemas dos ardinas, que me recordaram, mais uma vez, que somos pouco gratos pelo trabalho dos que nos antecederam e nem sempre valorizamos o esforço daqueles que nos proporcionam conforto. Esta solidariedade, vivida, pode transformar as nossas relações e, essa sim, parece-me uma mensagem a transmitir aos mais novos: é na partilha diária que construímos uma sociedade melhor. É contribuindo com o nosso próprio esforço que potenciamos o que nos foi deixado por aqueles que nos antecederam.

Dizem os ardinas que distribuem os jornais pela manhã, ainda o sol não despontou, que "Pão-por-Deus é tradição, que o seu ardina merece! Se é dado de coração, de coração se agradece".

(artigo publicado no jornal Açoriano Oriental, 3 novembro 2015).

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