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SentirAilha

Viva! Este é um espaço de encontro, interconhecimento e partilha. Sentir a ilha que cada um é, no mar de liberdade que todos une e separa... Piedade Lalanda

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Viva! Este é um espaço de encontro, interconhecimento e partilha. Sentir a ilha que cada um é, no mar de liberdade que todos une e separa... Piedade Lalanda

Voluntariado organizado

Há quem confunda voluntariado com voluntarismo e julgue que basta ter muita vontade de ajudar, para prestar um auxílio eficaz.

Sem dúvida que a defesa de valores humanos é o alicerce da solidariedade mas, o voluntariado exige mais do que esse espírito de cidadania ativa. Implica organização, formação e integração da ação do voluntário, em equipas devidamente coordenadas.

Um estudo do INE (2012) revelou que Portugal é dos países com menor taxa de voluntariado organizado (12%) quando comparado com a média europeia (24%), longe de países como a Holanda onde 57% da população, com mais de 15 anos, participa em ações de voluntariado organizado. Se analisarmos, no mesmo estudo, o caso dos Açores, verificamos que é a região portuguesa com menor taxa de voluntariado (8,8%), correspondendo a 5,7% a ação organizada.

Alguns dirão, qual a relevância do voluntariado organizado?

Pensemos nas situações de catástrofe, que destroem em segundos décadas de história e de vida, como aconteceu recentemente no sismo de Amatrice. Como lidar com tamanha destruição?

Sem dúvida que o Estado avança com os seus meios, mas em Amatrice foi fundamental a ação dos voluntários, como reconheceu o primeiro ministro italiano: “A Itália chora pelos seus cidadãos e mostra ao mundo o grande coração dos voluntários”.

E como atuaram esses voluntários no terreno? Será que agiram por iniciativa própria? Não. Foram orientados pelo Centro de Serviço Voluntário (CSV), uma organização que coordena o trabalho voluntário em toda a Itália. Só assim se entende que mais de 3000 pessoas, entre médicos, enfermeiros, psicólogos e muitos outros cidadãos disponíveis, tenham conseguido prestar auxílio imediato a centenas de pessoas, algumas presas horas debaixo dos escombros, outras desalojadas e desorientadas.

Ninguém está preparado para uma catástrofe, mas se o voluntariado estiver organizado é possível potenciar as "boas vontades", sobretudo, daqueles que habitualmente colaboram com associações e movimentos cívicos.

No caso do sismo em Amatrice, os voluntários foram eficazes no apoio prestado, porque estavam preparados para agir de forma coordenada, evitando assim a duplicação de esforços ou o desperdício de recursos.

Vindos de toda a Itália acorreram médicos, psicólogos, cidadãos anónimos que, em articulação com as autoridades, resgataram pessoas e apoiaram quem ficou sem nada.

Os Açores são, como sabemos, uma região vulcânica, sujeita a eventos sísmicos. Hoje sabemos, pelos alertas, quando se deve recolher embarcações ou precaver do vento. Mas se um dia formos surpreendidos como o povo de Amatrice, será que estamos preparados para coordenar a ação de voluntários de forma eficaz?

Desde logo, quantos são os voluntários na Região? Em que podem ser úteis? Estarão essas pessoas preparadas para agir em situações limite, cooperando com os serviços públicos na prestação de auxílio? E se sim, quem coordenará essa ação?

Ser voluntário é mais do que ocupar um lugar de direção numa qualquer associação cívica.

É fundamental criar uma base de registo, onde oferta e procura de ações de voluntariado sejam conhecidas, e alargar os campos de ação voluntária. Sem esse conhecimento dificilmente se saberá com quem se pode contar numa situação de crise ou catástrofe, e muito menos se poderá mobilizar as "boas vontades" de forma coordenada.

Sabemos hoje que em Amatrice o voluntariado organizado foi crucial.

Se não queremos ser surpreendidos nos Açores, é importante criar uma organização que seja capaz de formar e coordenar a ação voluntária na região.

(artigo publicado no Açoriano Oriental de 6 Setembro 2016)

 

Paralímpicos

Difícil na vida, não é conseguir, mas fazê-lo apesar das limitações, das dificuldades, dos medos e da falta de apoios.

Difícil na vida, não é atingir uma meta, mas superar-se, sem se entregar às limitações e chegar onde ninguém julgaria possível.

Quem me ouça talvez esteja a pensar o mesmo que eu, ou seja, nos jogos paralímpicos.

Não importa a imagem física, a deficiência, a limitação do corpo ou a descrença dos outros. Importa a motivação de cada um dos atletas, paralímpicos, que chegaram aos Jogos porque acreditaram em si.

Há casos em que não conseguimos descortinar a deficiência que levou um determinado atleta a esta competição, esquecendo-nos das inúmeras patologias mentais, do foro neurológico, que são também limitações na vida de muitas pessoas. Desde o autismo à paralisia, da trissomia vinte e um às doenças degenerativas, há muitas pessoas que até podem não aparentar deficiência física, mas que tem que se superar todos os dias, perante o mundo que se julga normal.

Ao ver estas provas, sensibilizou-me a existência dos guias que participam nas corridas dos cegos. São atletas com forte espírito de solidariedade e altruismo, que correm em paralelo aos atletas paralímpicos, mas que não podem chegar à meta antes destes.

Vejo as provas de atletas sem pernas ou sem braços que se superam em atividades, como a natação, a corrida em cadeiras de roda ou os jogos de equipa e penso nos jovens, que estão prestes a iniciar um novo ano letivo.

Será que também eles observam o exemplo dos atletas paralímpicos? Quantos destes jovens, "sem problemas" reclamam porque tem de andar uns quinhentos metros entre as suas casas e a escola ou então, arranjam desculpas, das mais esfarrapadas, para não fazer a aula de educação física!

Preferem adotar uma posição confortável, acordando tarde e a más horas, dependendo quase sempre dos pais para irem de carro, muitos sem terem tomado o pequeno almoço. "Não tive tempo!!!!. Estão sempre muito cansados, sem vontade para sair da sombra.

Paremos para pensar sobre estas atitudes, de jovens e menos jovens. Que sentido de vida revelam? Aonde nos pode conduzir essa fuga diária perante novas experiências, sobretudo aquelas que revelam ou mostram as nossas limitações? Ai, mas eu não gosto de falar em público; não me apetece sair do sofá.... não gosto de fazer ginástica, não estou para apanhar chuva, só para te acompanhar !!!!

Não fazemos essas experiências, para não sentir desconforto, para não ter de lutar contra medos, receios ou fantasmas que povoam as nossas mentes. E com isso tornamo-nos medíocres, desperdiçamos momentos únicos na vida, que nos permitiriam conhecer outras pessoas e, sobretudo, descobrir quem realmente somos e porque ficamos agarrados ao que nos impede de viver verdadeiramente.

Permitam-me que cite um autor indiano, Krishnamurti, quando ele diz que "o homem ignorante não é aquele a quem falta educação, mas aquele que se desconhece a si mesmo".

Para nos superáramos, e sermos capazes de nos libertarmos dos medos, vergonhas e receios que nos impedem de avançar e de lutar, é fundamental que nos conheçamos e saibamos aceitar, capacidades e limitações. E isso significa que quando mais nos conhecermos e soubermos aquilo que queremos ser ou podemos ser, menos iremos desperdiçar tempo, vida e sobretudo esforço em aparentarmos o que não somos.

Ver os jogos paralímpicos desperta em nós o amor genuíno pelo ser humano e, ao mesmo tempo, faz-nos olhar para nós, e recorda-nos que o dedo apontado da discriminação, de que muitas dessas pessoas são alvo, deixa outros dedos da mão apontados para nós mesmos.

A todos que são professores ou alunos, um bom ano!

(texto apresentado na rubrica "Sentir a Ilha" do programa "Entre Palavras" da Radio Atlantida com Graça Moniz  - 11Set16)

Regressar

Só regressa quem parte.

Regressar é voltar a um lugar que se conhece, um ponto no mapa, uma referencia pessoal e familiar.

Apesar de o dicionário dizer que "regresso" é antónimo de "progresso", regressar não significa deixar de progredir, não é sinónimo de retrocesso, mas antes é recuperar o fio condutor que dá significado ao curso da vida.

Agosto é conhecido, sobretudo no continente, por ser o mês dos regressos à terra. São milhares de emigrantes que cruzam as fronteiras do país, trazendo no coração memórias que esperam reencontrar na comunidade onde nasceram e na vida quotidiana dos que aí ficaram.

Regressam às aldeias, em geral quando todos se preparam para as festas e, por isso, encontram fartura, convívio, amigos de infância e divertimento, uma animação que, em algumas terras, contrasta com o resto do ano onde apenas a população mais velha teima em ficar.

Mas agora o tempo é outro. Há música no café, as portadas de muitas casas estão abertas e o sol vai aquecendo as almofadas que cheiravam a mofo, guardadas em naftalina à espera do verão.

Este é o tempo para se viver intensamente, recordar o passado e atualizar o presente. Saborear as comidas que ficaram na memória e reencontrar a infância à mesa e nos amigos. Recuperar velhos hábitos e rotinas que tiveram de ser esquecidos para se poder viver o quotidiano noutras paragens do mundo, longe da família e da terra natal.

(artigo publicado no Açoriano Oriental a 9 de Agosto 2016)

Regressar a casa é sempre regressar a si mesmo, à pessoa que fomos e que não deixamos de ser, porque a vida transforma mas não apaga. Somos sempre nós mesmos, aqui ou noutro lugar. Mas, sempre que regressamos, retomamos os fios que tecem a vida e que fazem sentido na identidade que transportamos.

Quando acontece deixarmos de regressar, vai se apagando do mapa um lugar, perde-se o colorido das memórias e uma parte da história fica esquecida. Há quem prefira assim, fazer de conta que nada mudou e longe da vista, longe do coração, guardam na memória um postal desatualizado.

É bom regressar ao que somos, conscientes que entretanto o tempo alterou o lugar que deixamos.

Alguns regressam à procura do que deixaram, um cenário onde em tempos viveram que gostariam de ver inalterado, como se as pessoas que aí ficaram não vivessem, também elas, mudanças.

O tempo está sempre ligado ao espaço e não há como separar estas duas dimensões. Afastamo-nos de um lugar, das pessoas e não podemos evitar que o tempo as altere e modifique o que julgávamos eterno.

Vale a pena partir só para poder sentir a alegria do reencontro com esse lugar que distinguimos no mapa das nossas vidas.

São cheiros, aromas e sabores, cores e sensações. É como se de repente pudéssemos respirar melhor e nos sentíssemos como "peixe na água".

Regressar é alimentar quem somos, reencontrar pessoas, lugares ou até detalhes, como dormir na cama da casa de família ou sentir a densidade do mar abraçar o corpo numa sensação única de prazer.

Regressar pode ser um remédio d'alma que nos reconcilia com a vida.

É tão importante esse reencontro que, em cidades como Londres, Paris ou Boston, se constroem quarteirões ou apenas algumas lojas, onde as comunidades emigradas conseguem regressar sem sair do local, ouvindo falar a língua natal, comem pastéis de bacalhau, enquanto comentam os últimos resultados no futebol português.

Regressar! Este é o mês dos regressos, para alegria dos que chegam e dos que cá ficaram.

Sejam bem-vindos! Já tínhamos saudades!

Só espero que na hora da partida, levem no coração a vontade de regressar, assim fica mais fácil esperar.

Voltem sempre.

 

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