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SentirAilha

Viva! Este é um espaço de encontro, interconhecimento e partilha. Sentir a ilha que cada um é, no mar de liberdade que todos une e separa... Piedade Lalanda

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Viva! Este é um espaço de encontro, interconhecimento e partilha. Sentir a ilha que cada um é, no mar de liberdade que todos une e separa... Piedade Lalanda

O furacão anunciado

Passou ao largo dos Açores, o furacão Ophelia! Ainda bem.

Mas porquê Ophelia? Ainda há pouco tempo foram o Irma, o José e o Maria.

Os furacões são batizados com base em seis listas de nomes elaboradas pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), as quais seguem uma ordem alfabética, alternando nomes masculinos e femininos. Se consultarmos a lista de 2017, o próximo furacão, que acontecer no Atlântico Norte a seguir ao Ophelia, chamar-se-á Philippe. Já agora, e de acordo com este organismo internacional, sempre que um furacão tem um impacto mortal, o seu nome é retirado da lista, como aconteceu com o Katrina (2005) ou o Haiyan (Filipinas, 2013).

Por ventura, o mesmo acontecerá com o Irma, a fazer fé nas imagens de destruição que deixou nas Caraíbas e na Flórida.

Os furacões são fenómenos naturais que a ciência diz estarem a aumentar devido ao aumento da temperatura dos oceanos, o que nos remete para as alterações do clima, um efeito secundário da responsabilidade das sociedades industrializadas e que se agrava com a cultura de consumo que as caracteriza.

Diante da devastação que estes fenómenos naturais podem representar, as nossas ilhas, e a vida de cada um de nós, são demasiado pequenas e frágeis. Por isso, quando as entidades responsáveis pela proteção civil alertaram para o furacão Ophelia, a expectativa de que os açorianos podiam sofrer os seus efeitos foi tema de conversa durante dois dias.

De todos os lados surgiam mensagens de preocupação. Normalmente as notícias sobre ameaças ou catástrofes correm rápido e, neste caso, o Ophelia foi falado em telejornais do mundo inteiro.

O Ophelia afastou-se e ainda bem! Provocou chuva e algum vento, mas estávamos avisados e de alguma forma habituados. Quem não teve aviso prévio foram as populações do continente português, surpreendidas em pleno Outono, com incêndios monstruosos.

O facto de termos a possibilidade de ver o movimento dos furacões antes de chegarem chega a ser tranquilizador, quando comparado com os incêndios que alastram descontroladamente, sem que ninguém preveja ou espere.

Infelizmente, tal como na origem dos furacões, o aquecimento do planeta também está na origem dos incêndios. Mas não é só a natureza que responde a essas alterações/agressões. Na origem de muitos fogos há mãos criminosas; gente com interesses mesquinhos, que se esconde por detrás dos incêndios que provoca.

É preciso refletir sobre as causas destas manifestações "naturais" que, em última instância, são consequência da falta de responsabilidade de todos nós, da forma negligente como cuidamos da natureza que nos é emprestada.

Agimos como se a natureza fosse uma dádiva inesgotável e não uma voz com a qual temos de dialogar.

A Ophelia fez-se anunciar, mas deu-nos tempo para nos prepararmos e lembrou-nos o quão efémera pode ser a vida e provisórios os bens que acumulamos.

Gostamos de sentir que temos a vida controlada e que somos donos do que nos rodeia, mas tudo isso se transforma em impotência perante ventos ciclónicos, chuvas diluvianas, terras que desabam ou fogos que lavram sem limites.

Quando o ser humano não vive em equilíbrio, fica impotente diante da natureza enfurecida, que tudo consome e destrói.

Somos nós, a humanidade, quem pode garantir a serenidade da natureza. Mas, para isso, temos de reaprender a ouvir a sua voz e a ler os seus sinais.

O Ophelia passou nas ilhas sem provocar danos, enquanto no continente o vento agigantava incêndios. O que aprendemos com tudo isso!?

Que não basta estar preparado, é preciso ouvir, sentir e cuidar da natureza, se queremos que as gerações futuras possam viver tranquilas nestas ilhas e neste país que nos foi dado cuidar.

(Artigo de opinião publicado no jornal Açoriano Oriental de 17 Outubro 2017)

Ruby Bridges

Na Conferência internacional sobre Igualdade, promovida pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, no passado dia 30 de Setembro, Teatro São Carlos, Ruby Bridges, a primeira criança negra a frequentar uma escola de brancos, começou a sua intervenção dizendo que era um privilégio poder falar de racismo.

É evidente que esse privilégio não era por ter sido vítima do racismo, mas por poder falar, na primeira pessoa, sobre discriminação.

Privilégio tiveram todos que ouviram o testemunho desta mulher/mãe que aprendeu aos seis anos a não avaliar as pessoas pela cor da pele. E dizia a propósito, que a sua professora era branca como todos os que a insultaram à porta daquela escola e negro era o homem que matou o seu filho.

Não é a natureza que explica a desigualdade social, mas a forma como cada um lida com ela. Raça, deficiência ou sexo, nada justifica a discriminação, a segregação ou a exclusão. As verdadeiras causas estão nas condições ou na falta delas, que favorecem ou limitam o acesso de todos aos mesmos direitos.

Pierre Rosanvallon, outro orador nesta conferencia, afirmou que não é possível a igualdade democrática se não existir participação na vida cívica e na reflexão sobre os problemas que nos dividem; se não nos conhecermos uns aos outros e se não partilharmos experiências comuns.

Quando há segregação, há desconfiança, um sentimento que facilmente se transforma em medo, preconceito e intolerância, e que só se combate com conhecimento, informação e uma educação aberta à descoberta do outro.

Ruby Bridges, aos seis anos, não sabia o que era o racismo até ao dia em que entrou numa escola de "brancos" e foi recebida por adultos revoltados, aos gritos, que ela até julgou estarem a fazer uma festa de carnaval. Como ela, nenhum bebé nasce com incapacidade para compartilhar a vida com quem é diferente, sejam meninos ou meninas, desta ou daquela cor de pele ou religião, mais ricos ou mais pobres, vivendo na cidade ou no campo.

A discriminação e a intolerância, reproduzidas pelas crianças, foram incorporadas na vivência familiar, aprendidas com adultos que só entendem a igualdade entre pessoas semelhantes no acesso à educação ou nas condições materiais. Pais que impedem os filhos de fazer a experiência da diferença ou conviver com quem consideram estar fora das fronteiras dos seus territórios.

A segregação ensina-se e as crianças fazem eco, como o que ouviu Ruby Bridges de um colega: "a minha mãe não me deixa brincar contigo, porque és negra".

O racismo, como todas as formas de segregação, são paredes de vidro que isolam grupos, pessoas, num mundo cada vez mais multicultural.

Há no entanto quem procure explicar essa segregação e a desigualdade de oportunidades que implica, recuperando velhas teorias do século XIX, baseadas no determinismo natural. Para estes, pouco ou nada se pode fazer quando se nasce negro, mulher, homossexual, ou filho de alguém com baixos recursos. São investigações que procuram na genética, o que apenas as condições de vida, a desigualdade de oportunidades e as escolhas pessoais podem explicar.

A história de vida de Ruby Bridges mostra-nos como a semelhança nada tem a ver com aparências ou parecenças. O racismo, a segregação, pode acontecer entre pessoas "parecidas", que não se compreendem na diversidade que os torna indivíduos com mais ou menos poder, inteligência ou prestígio.

Só há um traço que nos torna verdadeiramente semelhantes aos outros, a dignidade. Tudo o resto são diferenças, maiores ou menores, que em nada justificam a desigualdade de oportunidades.

(texto publicado no Açoriano Oriental de 3 outubro 2017)

 

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