Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

SentirAilha

Viva! Este é um espaço de encontro, interconhecimento e partilha. Sentir a ilha que cada um é, no mar de liberdade que todos une e separa... Piedade Lalanda

SentirAilha

Viva! Este é um espaço de encontro, interconhecimento e partilha. Sentir a ilha que cada um é, no mar de liberdade que todos une e separa... Piedade Lalanda

Desinteresse

Eis a designação de uma doença grave que atinge, por vezes, de forma intensa e prolongada, uma parte dos cidadãos. Diria que não escolhe idades, mas é sobretudo manifestada pelos mais jovens.

"Não me interessa, não me apetece, hoje não! Quem sabe, amanhã!?"

O desinteresse é um sentimento, supostamente neutro, que corrói a motivação, o espírito empreendedor, a vontade e toda e qualquer força interior que permite ao ser humano ser proactivo, lutador e capaz de enfrentar as mínimas ou as máximas dificuldades.

Esta forma de se afastar, desistir, que leva muitas vezes ao isolamento, cria um vazio, quando não é mesmo uma barreira, que parece intransponível para quem procura motivar, agitar esse marasmo. Nada parece funcionar. Que o digam os pais que organizam um passeio e o filho adolescente recusa-se a ir, ou os professores que mudam a estratégia na sala de aula e, mesmo assim, não convencem os alunos a participar, ou ainda, os próprios jovens que organizam atividades e recebem um redondo não, dos adultos que não veem qualquer interesse em fazer diferente o que sempre foi assim.

O desinteresse é o pai da desmotivação, do marasmo e da estagnação. Tudo o que concorre para que não haja mudança, desenvolvimento e transformação.

Por tudo isso, é importante combater o desinteresse.

Não é preciso fazer o pino ou inventar a roda, porque não basta inovar nas respostas. É preciso, antes de mais, compreender a origem da desmotivação.

O desinteresse leva ao isolamento e esse é um sinal de alerta, quando alguém perdeu ou deliberadamente rompeu a relação com o outro. Não se sente útil, nem necessário. Não vê qual o seu contributo, qual a diferença que a sua participação pode fazer. Por isso, julga que estar ou não estar presente, não faz qualquer diferença.

O desinteresse toma conta dessa apatia e cria rotinas centradas no próprio, onde os outros são, aparentemente, dispensáveis.

Por isso, antes de inventar viagens, passeios, estratégias para mobilizar quem nunca quer participar, o mais importante é ouvir, escutar e valorizar a pessoa que cada um é, o contributo que cada um pode dar.

O mundo não muda apenas porque há políticos preocupados com o desenvolvimento e organizações internacionais a negociar a paz ou a concretizar projetos inovadores.

O mundo precisa de cada um de nós para construir uma humanidade melhor, tal como a praia precisa de milhões de grãos de areia.

Cada um de nós é como um grão de areia, ou se quiserem, um grão minúsculo de fermento, que pode, em conjugação com os outros, transformar a massa, mudar a paisagem, fazer a diferença.

Se não reconhecermos esse poder, se não acreditarmos na força que cada pessoa tem, nada nos irá motivar, não há interesse em participar, o mesmo é dizer, não há razões para nos ligarmos aos outros.

Combater o desinteresse é descobrir o prazer de estar ligado à natureza, ao mundo, aos outros que nos rodeiam e, ligados, contribuir para transformar, intervir, participar.

Há que estar alerta, porque o desinteresse favorece as dependências, nomeadamente a dos videojogos, recentemente reconhecida pela Organização Mundial de Saúde, como perturbação mental.

O desinteresse enterra o ser humano em si próprio e destrói a dimensão que o faz ser pessoa, ou seja, ser relacional por natureza. Precisamos todos uns dos outros e sem cada um de nós, sem o pequeno contributo que cada um dá, o mundo seria bem mais pobre.

(texto publicado no Açoriano Oriental de 23 janeiro 2018)

Que de hoje a um ano...

Este é o desejo de quase todos: que de hoje a um ano possamos erguer de novo a taça e brindar!

No entretanto, há um novo período de vida, quatro estações e muitos dias para preencher no calendário.

Viramos a página, começamos de novo, abrimos uma nova agenda e o contador do tempo foi posto a zero.

Um primeiro dia é sempre um motivo de esperança, para começar ou recomeçar, para renovar ou descobrir.

Não é que esses começos não possam estar associados a outras datas, o dia do aniversário, quando se festeja um acontecimento marcante, o dia do casamento ou do divórcio, o nascimento de um filho ou a entrada num emprego.

Não faltam marcas registadas na memória e é exatamente aí, nesse baú de recordações, que vamos buscar a energia para enfrentar o novo ano. Há experiências guardadas que nos servem para a vida inteira, lições que aprendemos com erros cometidos, sucessos que obtivemos, quantos não reconhecidos! E o tempo vai confirmando a justeza dessas aprendizagens e amadurecendo a sabedoria para lidar com a vida, as dificuldades e ser mais realista na definição de objetivos.

Um novo ano é sempre uma oportunidade para apontar metas, recolocar a fasquia, alimentar desejos e sonhos porque, como diz a canção, "o sonho comanda a vida".

Mas, dirão alguns, há quem tenha os sonhos enterrados e sente-se incapaz de desejar ou ambicionar. Como se encara o novo ano, quando a tristeza bateu à porta, a morte ceifou um dos nossos, a saúde está abalada ou as condições de vida não são as melhores?

Aos poucos e sem nos darmos conta, ficamos entulhados em sentimentos, bloqueados diante dos problemas, angustiados perante o dia de amanhã. Aparentemente, fica-se sem futuro, o tempo pesa como condenação, os outros incomodam e não apetece rir.

Um sorriso de uma criança pequena, a brincadeira do cão de família, a planta que floriu, a beleza do presépio montado na sala, a luz de uma vela, faz-nos parar e a esperança de conseguir, quase como por magia, parece querer renascer.

É no momento, no detalhe ou no pormenor que a vida se revela.

Há quem possa fazer grandes planos, outros nem por isso. Mas todos podemos nos concentrar nos pequenos pormenores e descobrir a beleza de uma flor, a vida que brota de uma semente deitada na terra escura. E, se levantarmos os olhos, há sempre quem nos sorria no café ou na padaria, quem nos diz "bom dia" e nos obriga a responder e a reconhecer a simpatia.

A vida recomeça aí, nesse instante! Temos de agarrar o momento, viver o segundo, aproveitar a brisa e sentir o perfume. A vida sente-se, passa, nesse instante único.

Os grandes planos concretizam-se quando acumulamos pequenas experiências, guardamos memórias que nos fazem sorrir e que, nas horas mais difíceis, recordamos, com saudade.

A saudade não é tristeza, é boa memória guardada.

É um facto, somos portugueses, talhados ao som do fado e dramáticos, nostálgicos do que já fomos. Não somos os melhores a pensar o futuro, porque nos habituamos a valorizar o passado, o que já fomos ou fizemos. Como dizia alguém, Portugal é o país do "já houve!"

Enfrentar um novo ano exige fazer do baú das memórias e do rol de saudades acumuladas, um poço de energia para enfrentar os desafios do dia de hoje, por ventura de amanhã e deixar acontecer, dia após dia, o novo ano que agora nasce.

E que, daqui a um ano, possamos estar de novo aqui, neste blog, partilhando ideias e emoções!

Bom 2018 para todos! 

(texto publicado no Açoriano Oriental de 9 Janeiro 2018)

 

Mais sobre mim

imagem de perfil

Visitantes

Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2019
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2018
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2017
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2016
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2015
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2014
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2013
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2012
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2011
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2010
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2009
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2008
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D
  222. 2007
  223. J
  224. F
  225. M
  226. A
  227. M
  228. J
  229. J
  230. A
  231. S
  232. O
  233. N
  234. D