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Viva! Este é um espaço de encontro, interconhecimento e partilha. Sentir a ilha que cada um é, no mar de liberdade que todos une e separa... Piedade Lalanda

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Consolidar ou a arte de lidar com a crise

 

Há palavras que são verdadeiros tratados de conteúdo filosófico. Consolidar é bem um exemplo.
Aparentemente o que é sólido não carece de nenhum efeito de coesão ou agregação de parcelas. Mas, quando pensamos em organizações humanas, a solidez é sempre fruto da articulação e cooperação de diferentes núcleos ou dimensões. Carece de regulação para existir como um todo; carece de comunicação para não se desagregar e ser vítima de rupturas.
A coesão de um grupo ou o equilíbrio de um cidadão passam pela forma como se conjugam as suas várias dimensões ou elementos.
Consolidar é reforçar os laços que unem as pessoas ou interligam as várias vertentes de uma vida. Consolidar é viver na procura do equilíbrio e ter a capacidade de cooperar e comunicar. A coesão é um processo de consolidação permanente.
Numa família, numa organização ou na vida de uma pessoa, estão sempre a aparecer motivos, influências que podem corromper ou corroer os laços que são a estrutura que lhes dá forma. Pequenas dificuldades transformam-se em grandes crises que destroem um todo, que se julgava sólido, coeso.
As rupturas são sempre compromissos anulados ou esquecidos. Porque são os compromissos respeitados que garantem a consolidação e permitem enfrentar os tempos mais difíceis. Diriam os nossos antepassados que são compromissos de honra, palavras dadas. Hoje falamos de contratos, acordos, créditos bancários, dívidas por consumo.
Quem vive ao sabor do prazer. Quem faz questão de decidir hoje, sem pensar o que fez ontem ou como vai ser amanhã, não se aguenta em situação de crise.
Apetece-me, não custa nada pagar 50 euros por mês e levo a mobília nova para a sala. Passados poucos meses, é a máquina de roupa que estoira e um novo compromisso é aceite. São só 30 euros por mês, não custa nada; ao fim de dois anos fica paga. Mas, a partir de então, já são oitenta, para não falar das prestações do carro e da casa.
Em cada decisão, supostamente sólida, pensada ou não, falta um sentido global, uma atenção aos vários compromissos, ou seja uma visão consolidada. Afinal, tudo somado, não é assim tão fácil pagar. Tudo somado pesa, sobretudo quando ocorrem imprevistos: uma doença que exige despesas extraordinárias, a subida dos preços do consumo.
Por não terem pensado as dívidas de forma consolidada, alguns cidadãos, nomeadamente aqueles que os economistas classificam de classe média, com emprego e nível académico acima da média, acabam por se transformar em casos de risco. Risco de pobreza, dificuldade e falência, com várias dívidas que não conseguem controlar. Incapazes de alterar hábitos adquiridos, tornam-se reféns das dívidas que contraíram para manter as aparências.
Não são pobres apenas aqueles que têm fracos rendimentos, mas também aqueles que podendo viver uma vida calma, constroem uma falsa aparência, feita de consumos que não podem suportar, baseada numa esperança de melhoria, que não têm a certeza de acontecer.
Consolidar é coordenar acções, procurar o equilíbrio, saber juntar elementos novos ao que já se possui e acreditar no futuro, mesmo quando o presente não é favorável.
(publicado no Açoriano Oriental de 13 de Abril 2009)

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