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Viva! Este é um espaço de encontro, interconhecimento e partilha. Sentir a ilha que cada um é, no mar de liberdade que todos une e separa... Piedade Lalanda

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Pelos Açores, contra a sorte de varas

Enquanto açorianos temos consciência de que a nossa identidade é plural. Somos portugueses perante o mundo, açorianos perante o país e identificamo-nos com a ilha onde nascemos, vivemos ou adoptamos como espaço de referência diária.

Mas, quando está em jogo a defesa ou a afirmação da unidade, seja nacional ou regional, deixa de estar em causa o lugar, a ilha ou o concelho a que pertencemos.
É recorrente falarmos dos açorianos nas várias ilhas referindo-nos a estereótipos, que associam, por exemplo, o trabalho aos micaelenses, o folguedo aos terceirenses ou que olham os faialenses a partir da marina e dos seus iatistas. Com isso, justificam-se práticas, investimentos ou até iniciativas políticas.
Um exemplo, actual, é o das touradas picadas que, supostamente, alguns aficionados das lides tauromáquicas pretendem ver legalizadas nos Açores. São sobretudo terceirenses, mas a questão é muito mais abrangente, porque o que está em causa é a aprovação de um Decreto Legislativo Regional que legaliza, na Região Autónoma, uma prática actualmente proibida no todo nacional, por força da Lei n.92/95, de 12 de Setembro, alterada pela Lei n.º19/2002, de 31 de Julho. Nesse quadro legal, que os subscritores pretendem ver aplicado na Região, conta-se a excepção dos “touros de morte” de Barrancos, classificada como tradição praticada de forma ininterrupta durante mais de cinquenta anos, que representa um traço da cultura popular local, fortemente marcada pela vizinhança da fronteira luso-espanhola.
Os deputados da Assembleia Legislativa dos Açores, libertos de orientações político partidárias irão, brevemente, votar a proposta de legalização da sorte de varas nos Açores.
Argumentos a favor apelam à capacidade de legislar nesta matéria, que decorre da nova redacção do Estatuto Político Administrativo e alegam ser uma tradição mesmo que descontínua, que foi reintroduzida (ao que parece por uma elite de aficionados) na década de noventa.
Estou entre os que se negam a votar favoravelmente esta iniciativa, porque a meu ver, a competência legislativa deve ser utilizada na defesa dos valores e do interesse dos Açores como um todo, e não sou sensível à argumentação da tradição, fundamentada em anos de duração ininterrupta ou em práticas que só alguns querem ver repostas. A tradição é uma parcela da Cultura que herdamos mas é susceptível de ser alterada por força dos valores que referenciamos no presente. Veja-se o que aconteceu com o fim da caça ao cachalote, tradição ancestral que foi abolida para defender uma espécie em extinção ou do fim da pesca da toninha que os pescadores utilizavam como isco e que foi considerada um atentado ao ícone de ternura e sensibilidade que se associa aos golfinhos!?
Não restam dúvidas que a sorte de varas é uma prática violenta, de contornos medievais, que não envolve um confronto directo entre o homem e o animal como se observa na tourada, particularmente no toureio a pé, nas pegas ou à corda, esta sim uma tradição fortemente enraizada, sobretudo, nas populações da ilha Terceira. Argumentam os aficionados que está em causa a “melhoria da lide”, ou “apuramento da bravura do animal”, em benefício do espectáculo.
Num tempo em que se defende o bem-estar animal, em que várias cidades portuguesas e espanholas aprovaram o fim das touradas nos seus redondéis; perante a consagração dos direitos dos Animais, sob a forma de uma Declaração Universal em vigor desde a década de setenta, que implica equivalentes deveres dos seres humanos, a proposta de legalização da sorte de varas, subscrita por vários deputados, deixou de ser uma questão terceirense.
Estamos perante um Decreto que altera o quadro legal da Região e é como açoriana que me manifesto e que votarei contra esta iniciativa.
 (publicado no Açoriano Oriental de 4 Maio 2009)

 

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