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SentirAilha

Viva! Este é um espaço de encontro, interconhecimento e partilha. Sentir a ilha que cada um é, no mar de liberdade que todos une e separa... Piedade Lalanda

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Viva! Este é um espaço de encontro, interconhecimento e partilha. Sentir a ilha que cada um é, no mar de liberdade que todos une e separa... Piedade Lalanda

Ser açoriano hoje

Ser açoriano é sentir uma onda de tranquilidade, ao som das vagas que banham as rochas negras e fazem rolar os calhaus da pequena enseada, que na maré baixa se transforma em praia de areia cinzenta, marcada por leves pegadas de garajaus e gaivotas.

Ser açoriano é encontrar-se consigo mesmo diante desse mar que se perde no horizonte, num azul sempre diferente, ora escuro e denso, ora translúcido e quase esverdeado, desvendando a encosta submersa da ilha, reserva natural que serve de maternidade a algumas espécies de peixes.

Ser açoriano é ser forte como as gaivotas que em voo rasante desafiam ventos ciclónicos, enquanto se vergam as árvores e se viram a copa dos guarda-chuvas.

Ser açoriano é ficar emocionado diante da bandeira do Divino Espírito Santo que entra em casa, em dia de distribuição da pensão, seguida dos tocadores que entoam o hino. Dia de fartura, que o povo come religiosamente, agradecendo as dádivas e pedindo por mais um ano de saúde e trabalho.

Ser açoriano é partilhar a alegria dos que regressam com saudades da sua terra e sentir as lágrimas correr, na hora da bênção do quarto onde se ergue a coroa e a bandeira do Espírito Santo, quando todos rezam um Pai Nosso pela família do mordomo.

Dou graças por ter nascido nesta terra, onde o verde se mistura com o azul e a chuva se entrelaça com o sol para se transformar em arco-íris.

É uma sorte nascer ou viver nestas ilhas, diversas mas unidas, diferentes nos modos de ser e de viver, no sotaque e nos sabores, mas integradas numa única condição, a de ser açoriano. Somos um povo insular e é nessa insularidade que nos irmanamos, quando confrontados com a distância do continente ou até a ignorância de alguns que, vivendo num território contínuo, desconhecem e desvalorizam o ser ilhéu.

Somos açorianos e hoje festejamos a autonomia que em termos políticos nos permite afirmar a nossa diferença, sem negar a portugalidade a que pertencemos. Temos uma história própria, que a Constituição portuguesa e o Estatuto político administrativo consagram e confirmam nos órgãos de poder próprio, mais próximos e adaptados ao que sente e precisa o nosso povo.

Hoje festejamos o dia da Região na Vila da Povoação, a primeira comunidade micaelense, nascida no século XV, mais de dez anos depois de Santa Maria ter sido povoada.

A história dos Açores nasce da coragem desses navegadores que se aventuraram por mar em busca de novos territórios para Portugal; a mesma força que hoje anima os que aqui vivem e lutam.

Dessa coragem e tenacidade depende o futuro das nossas ilhas e das nossas gentes. Tal como os primeiros povoadores transformaram terrenos pedregosos em terras de pão e pastagens, ser açoriano hoje é desafiar ventos e resistir às adversidades, é defender a autonomia e afirmar os Açores no mundo.

Hoje mais do que em qualquer outro dia, festejamos a açorianidade e agradecemos a dádiva de ter nascido ou viver nestes pedaços de terra com raízes no mar, onde o olhar se perde no horizonte, lugar onde o céu se funde com o mar.

(publicado no Açoriano Oriental de 28 Maio 2012).

Açorianidade

A naturalidade e a residência seriam apenas lugares, dados de identificação que se inscrevem no cartão de cidadão, não fora as raízes culturais, os sentimentos e os laços que se criam com uma terra e com as pessoas que nela vivem.

Ser açoriano não é um acaso de nascimento, nem é uma ligação distante com um lugar perdido no oceano. É uma condição identitária que, transforma a sonoridade com que se fala a língua portuguesa, tempera com pimenta a carne e os enchidos, saboreia o sal dos produtos da terra e bebe o mar nas conchas do marisco.

Ser açoriano não é uma condição limitada pela natureza das ilhas, mas um horizonte que se abre na imensidão do mar, atravessa o mundo e é fonte de orgulho onde quer que haja uma comunidade, oriunda desta região. Uma condição que se afirma com nuances na voz, tantas quantas as ilhas que formam o arquipélago.

Se, por um lado, podemos afirmar que não existe um ser açoriano, mas várias formas de viver nos Açores, por outro, os insulares que escolheram viver nestas ilhas são todos portadores da açorianidade, traço identitário que distingue aqueles que amam esta terra.

A açorianidade é mais do que a soma das várias formas de ser insular, mas delas depende e todas sintetiza, sem desconsiderar a diversidade de sabores, de paisagens ou de riquezas patrimoniais. É um traço único com conteúdo plural.

Afirmamos os Açores como Região, mas somos, em primeiro lugar, insulares que nos orgulhamos da ilha que nos viu nascer, de Santa Maria ao Corvo. Contamos a mesma história das descobertas e do povoamento aos nossos filhos, mas assumimos o sotaque da ilha onde moramos e as tradições dos nossos avós, como nuances de um património comum.

Não é por acaso que as Festas do Espírito Santo são uma afirmação da açorianidade. Diversas no sabor que cada ilha imprime às suas sopas, unem os açorianos em torno do culto ao Divino, manifestação cultural que afirma a importância que o transcendente sempre teve para este povo.

Confrontados com as intempéries e catástrofes naturais, marcados por momentos dramáticos causados pelos sismos e vulcões, enfrentando as ondas do Atlântico ou desbravando uma terra, outrora coberta de pedras, os açorianos souberam lutar pela sua sobrevivência, plantando cereais, exportando laranjas, criando animais ou pescando em águas profundas. Desafiaram o mundo na emigração, mas sempre partiram com os olhos postos na terra natal, da qual nunca desistiram, mesmo quando não podiam voltar. Ainda hoje, passado o tempo da emigração, a açorianidade continua viva nas muitas comunidades criadas no continente português e nas Américas.

Onde quer que haja um açoriano ou uma açoriana, reencontramos o marulhar do mar nos seus olhos, o sabor a sal e o cheiro a erva cortada nas suas palavras. A saudade ecoa quando avivam memórias e misturam a solidariedade nas horas de aflição com a alegria do convívio em dia de tourada, vindima ou coroação.

A açorianidade não é um traço de nascença mas uma herança que se recebe ao nascer ou é legada quando se adopta os Açores para viver. Um traço que faz amar as ilhas como “nossas” e partilhar um feriado que exalta a Autonomia do povo açoriano.

(publicado no Açoriano Oriental a 24 Maio 2010 - Dia da Região)

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