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SentirAilha

Viva! Este é um espaço de encontro, interconhecimento e partilha. Sentir a ilha que cada um é, no mar de liberdade que todos une e separa... Piedade Lalanda

SentirAilha

Viva! Este é um espaço de encontro, interconhecimento e partilha. Sentir a ilha que cada um é, no mar de liberdade que todos une e separa... Piedade Lalanda

Fazem falta os abraços

Atravessamos ou estamos a ser atravessados por uma pandemia!

O grande risco desta situação, que deverá prolongar-se mais do que gostaríamos, é o de perdermos o ânimo e, vencida a pandemia, passarmos a sofrer de “empedernia” nas atividades económicas ou culturais e, sobretudo, nas relações.

Estamos todos carentes de abraços e beijos, mas será que mais tarde os vamos dar?

Não iremos ficar presos ao medo do contágio, aumentando as distâncias e evitando o contacto das mãos!

Os nossos corações sofrem porque, emocionalmente, não estamos preparados para ficar isolados, uns dos outros, do mundo e da natureza. Precisamos disso para nos sentirmos vivos! Mais do que nunca, fica provado que o ser humano é, por natureza, relacional, como sempre o disseram as ciências sociais.

Não fomos feitos para viver por detrás de máscaras ou fatos de proteção. No nosso imaginário, apenas quando se vai à lua ou a marte e se abandona o planeta, aí sim, há necessidade dessas proteções.

Aprendemos a ser gente, cheirando, tocando e sentindo. Aprendemos a nos conhecer e a conhecer os outros partilhando experiências, trocando presentes e comendo à mesma mesa, nalgumas culturas, partilhando o mesmo prato.

Não fomos feitos para desconfiar de tudo e de todos.

E, reconhecendo ser essa a nossa única defesa, perante um vírus que ninguém ainda conhece totalmente, o certo é que nos tornamos mais desconfiados, olhando o outro à distância, sem saber se dele não virá a doença!

Até as nossas mãos reclamam de tanta vez irem à torneira e serem esfregadas com sabão durante 20 segundos. A pele começa a ceder, mas o medo de não estar limpo sobrepõe-se e impera a necessidade de higienizar as mãos após todos os contatos.

À porta da farmácia um letreiro: não há álcool, máscaras, luvas e Vitamina C.

Parece que alguns acordaram para o deficit de vitamina C mas, em vez de comprarem laranjas, limões ou kiwis, preferem umas pastilhas efervescentes num copo de água.

Acordemos! Este é um tempo de alerta para a forma como nos protegemos através do que comemos! Não é mais caro, certamente que não, espremer e beber o sumo de duas laranjas! É mais eficaz e faz-nos reencontrar os cheiros e os sabores da natureza.

Acordemos! Este é o tempo para nos ligarmos a quem mais amamos, por vídeo ou pelo telefone, mas também pode ser por carta. Temos de falar, uns com os outros, partilhar pequenos acontecimentos, que vão pontuando as nossas vidas caseiras.

Por exemplo, hoje fiz uma experiência! Resolvi juntar a água de cozer beterrabas numa gelatina de frutos vermelhos! Porque reciclar é preciso e nada deveria ir para o lixo, quando carrega nutrientes importantes, como acontece com a água de cozer os legumes.

Este é o tempo para descobrir, nas pequenas coisas, que a vida pode ter mais sabor.

Um tempo para reorganizar a casa, arrumar gavetas e reencontrarmo-nos com a nossa própria história, presente em tantas coisas guardadas, algumas desnecessárias, sobretudo agora, quando o mais importante é sobreviver com saúde e voltar a conviver em comunidade.

Agarremo-nos ao que é mesmo essencial, os afetos, a fé e a força da solidariedade, para que, depois da pandemia, os nossos corações não fiquem empedernidos, incapazes de reagir, emocionalmente desgastados e com medo do contacto social.

Como fazem falta os abraços!

(Texto publicado, a 31 março no jornal Açoriano Oriental)

 

 

Onde moram os afetos?

O leitor talvez tenha respondido: no coração! Quem não desenhou um coração para dizer a alguém que o ama, que está apaixonado?

O coração faz parte de uma simbologia quase universal, talvez porque o batimento cardíaco está associado à vida e, sobretudo, a sua aceleração é sinal de emoções fortes.

O certo é que o desenho do coração passou a ser o símbolo perfeito para falar de amor e paixão. E, alguns povos, até colocam a mão no coração para evidenciar a sua paixão pelo país e a nacionalidade que os identifica.

Mas será que os afetos moram aí? Nesse órgão que bate ao compasso do fluxo e refluxo da corrente sanguínea?

Será que amamos com esse coração? Ou não será antes com a cabeça, os pensamentos e o entendimento que fazemos da realidade que nos rodeia?

Salvador Sobral, ao que consta, sobrevive ligado a um coração artificial, enquanto não é submetido a um transplante cardíaco. Se o coração fosse assim tão importante, este cantor, que encantou o mundo com a sua forma particular de interpretar uma canção de amor, teria perdido essa capacidade.

Se o amor estivesse sedeado no coração, então a compatibilidade desejada, aquando de um transplante, teria de ser mais do que orgânica, espiritual e emocional. Ninguém gostaria de receber um coração que viesse de um indivíduo com um historial de ódio, raiva e agressividade.

Mas, felizmente, apesar de os corações desenhados terem sido adotados como símbolos de afeto, basta só lembrar o São Valentim, os afetos não moram nesse órgão que nos bombeia o sangue a cada instante.

Os afetos e as emoções passam pela mente e constroem-se na relação com os outros e com o mundo, com quem comunicamos e aprendemos a conhecer.

O que nos emociona é a felicidade e a alegria; a descoberta e o prazer; os gestos de ternura ou de ajuda, os sorrisos genuínos ou as lágrimas sentidas.

O amor genuíno não tem limites. Amamos um filho quando dá os primeiros passos ou nos abraça com ternura; mas também quando está doente ou desamparado. Amamos quando conquista os seus objetivos, mas também quando falha.

O Amor torna-nos sensíveis, porque entre nós e os outros, o mundo, não há como não comunicar, sentir.

Quando alguém agride, humilha ou desrespeita a dignidade de outrem, a primeira coisa que destrói é a relação; interrompe a comunicação por onde fluem os afetos.

Os afetos nascem da capacidade de ouvir e de descobrir o outro, particularmente, aqueles que nos são próximos, companheiro/marido ou filhos, pais ou irmãos, em momentos únicos de partilha.

Não são precisas estratégias complicadas, nem anéis de diamante, para se demonstrar a alguém que se ama ou para reatar uma relação que se quebrou. Basta estar disponível para a aceitar a pessoa que o outro é, e partilhar a viagem da vida, cada um pisando o seu chão, mas feliz por não estar sozinho na caminhada.

O amor não é complicado, é até simples demais.

Mas tem um segredo, que nem todos descobrem e que pode levar à infelicidade. Ninguém é dono de quem ama. O amor não compra e quando alguém julga ter direitos por amar, já destruiu a parte mais sagrada do outro, a sua liberdade de ser.

Dizer que alguém "não tem coração", não lhe tira vida orgânica mas certamente que resume uma vida sem afetos, sem sentido do outro, sem respeito pela dignidade. É alguém fechado sobre si, que vive num mundo de egoísmos e insensibilidade.

O coração onde moram os afetos não está no peito, mas é um espaço aberto, dentro de cada um, que tanto acumula sentimentos, como se esvazia em emoções, para logo voltar a se encher de felicidade, num eterno movimento de dar e receber.

(texto publicado no jornal Açoriano Oriental de 14 Novembro 2017)

 

Afetos

A palavra afetos passou a ser adjetivo, que se cola à política, à educação ou até à economia, no que esta tem de comercial e de transação.

Os afetos são sinónimo de proximidade e de personalização, são o ingrediente que humaniza, a linguagem que as pessoas entendem. Por isso, quando se ouve este termo aplicado a tantas áreas da vida pública, é porque todos reconhecem que não se atraem pessoas ou clientes sem lhes tocar, sem que pela comunicação se reconheça e dignifique o outro.

Os afetos são condutores de energia, por eles passam significados, e só nesse contexto é possível fazer-se entender.

Sem tornar a vida numa telenovela, nem lhe retirar o sentido profundo e objetivo das dificuldades e dos problemas que todos vivemos, é pela linguagem dos afetos que compreendemos as circunstâncias do outro, seja ele aluno, cliente, cidadão, eleitor ou empregado.

Não basta estar do lado da razão, ter os argumentos certos ou o poder, se não se souber partilhar ou usar esses trunfos no jogo da relação.

Razão, argumentos ou poder só fazem sentido quando reconhecidos.

A linguagem dos afetos não é para ser anunciada, usada como marketing, qual legenda de um filme estrangeiro.

É fundamental que o agente que a utiliza seja genuíno, acredite no que diz ou faz e, sobretudo, acredite no outro e o reconheça na sua integridade, sem o instrumentalizar. Agora convém dar um abraço, pegar na criança ao colo, fazer de conta que se é simpático. Logo se verá, quando a máscara cair e o teatro acabar!

Essa não é a linguagem dos afetos que humaniza, é antes uma encenação a que se recorre quando se quer fazer boa figura, seja nas relações empresariais, na sala de aula ou no discurso político.

Quem assiste a essa cena, por vezes acredita num primeiro momento, mas fica dececionado quando se apercebe que foi engodo, fogo de vista, um isco para agarrar e fazer crer.

A linguagem dos afetos, realmente, humaniza, aproxima, dignifica a relação, se for genuína, verdadeira e corresponder a uma comunicação com conteúdo, capaz de reconhecer as circunstâncias do outro, inclusive quando é necessário transformar um momento menos positivo, numa experiência de renovação e recomeço.

É bom que recordemos que nos afetos tanto cabem a simpatia como a repreensão, o elogio como a crítica. O reconhecimento do outro, quando verbalizado, não tem forçosamente de ser agradável, pode mesmo ser doloroso e até sofrido. O importante nesta linguagem é ser verdadeira e promover, de forma positiva, a construção de relações saudáveis, positivas e renovadas.

Se não tivermos presentes estes dois lados dos afetos, os que nos afagam o ego e os que nos chamam à razão e nos desafiam a corrigir e reorientar, estaremos longe do essencial. Por ventura, será uma fantasia, o tal faz-de-conta da ilusão que vende revistas e embrulha histórias, qual sorriso amarelo de vendedor desmotivado ou verniz que disfarça madeira podre.

Os afetos não são adjetivo, são conteúdo, sujeito da frase.

Se queremos reaprender a falar essa linguagem, há que ser verdadeiro e reconhecer, primeiro em si, e depois nos outros, as virtudes a potenciar e os defeitos a corrigir.

Todos sabemos falar a linguagem dos afetos, ou não seríamos pessoas, humanos! Basta não ter medo da verdade, olhar nos olhos, abrir o coração e sentir.

(texto publicado no Açoriano Oriental, 26 Janeiro 2016)

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