Comida saudável
Era nas festas que se comia carne! Nos casamentos e batizados, no dia do padroeiro ou nas festividades do Espírito Santo.
A gastronomia diária dos nossos avós, vivessem ou não no campo, era rica de muitos outros ingredientes. O feijão, guisado ou na sopa, a batata doce ou "inglesa", os inhames, os nabos e as couves. E, sempre que restava comida, fosse frango, grão cozido ou mesmo pão, era garantido que, no dia seguinte, havia aproveitamentos, a que chamavam de "roupa velha", migas, pastéis ou açordas.
A terra sempre ditou o que se podia comer, ao contrário de hoje, em que a importação de frutas e legumes faz esquecer o sentido das "novidades", os produtos da época, a estação do ano.
Mas, por muito bonitos e até encerados que estejam, os frutos importados não são melhores nem mais saborosos do que uma fruta da época, produzida na nossa terra, que cheira e amadurece na cesta, ao contrário das outras, do outro lado do mundo, guardadas em câmaras de frio, que rapidamente apodrecem.
Falar de alimentação saudável, legumes e frutas da época, produzidos na nossa terra, parece um discurso do passado, mas é cada vez mais atual e necessário, se queremos viver de forma saudável e ensinar os mais novos a cuidarem de si.
Muitas das nossas crianças e jovens torcem o nariz à sopa de legumes, não comem feijão ou qualquer outra leguminosa, rejeitam as couves e afastam a alface do prato. Os pais, em vez de insistirem, resolvem o problema satisfazendo o eterno desejo de batatas fritas, cobertas de molhos, indiferentes aos efeitos secundários na saúde infantil, incluindo a obesidade.
O poder de compra aliado ao baixo custo de produtos com elevadas percentagens de gordura e açúcares, faz encher carrinhos de compras com comida embalada, processada, "pronta-a-comer", de baixo teor nutritivo. Nas lancheiras dos filhos não há sopa, "que eles não gostam", nem fruta, "que não estão habituados a trincar". Mas não faltam bolachas recheadas, refrigerantes e batatas fritas de pacote.
A saúde está em causa e o equilíbrio da natureza também.
Para podermos defender o desenvolvimento da nossa região, temos de promover e consumir os produtos que a terra, tão generosamente nos dá. E, para isso, a nossa terra só precisa de ser trabalhada. Infelizmente temos "terras de pão" transformadas em pastagem, terrenos férteis abandonados, que podiam produzir legumes de qualidade, sem químicos, com todas as propriedades nutritivas que precisamos. Trabalhar a terra está longe de ser uma atividade menor, é um privilégio, uma bênção que devíamos apoiar e incentivar.
Não basta falar das alterações climáticas, é preciso reequilibrar a nossa relação com a natureza, comendo de forma saudável, reduzindo o consumo de produtos sem qualidade, que entopem as veias, aumentam os níveis de açúcar no sangue e reduzem a energia e os anos de vida.
Porque não recuperar a sabedoria dos nossos avós? retomar o velho hábito de comer sopa, reduzir o consumo da carne e, sobretudo, colorir o prato com verduras e legumes.
Se antes a carne era pouco frequente, uma comida de festa, hoje deveria ser uma escolha consciente, de quem reconhece que, numa alimentação saudável deve haver diversidade e qualidade.
Texto publicado no jornal Açoriano Oriental a 15 outubro 2019