Cidade saudável
É sempre um risco, adjectivar uma realidade. Quase sempre, os rótulos tentam sintetizar o que na realidade não existe. Uma cidade saudável é o quê? Porventura será um espaço urbano limpo, iluminado, seguro, florido. Um lugar construído para as pessoas e que não privilegie os veículos motorizados; que favorece o encontro e não se esvazia ao fim da tarde. Uma cidade saudável não pode ser um território dividido entre novos e velhos, que abandona os edifícios no seu centro histórico, ao mesmo tempo que facilita a construção de uma periferia sem identidade.
Dizer que uma cidade é saudável, é atribuir a um aglomerado construído, uma condição humana. Mas o que se entende por saúde, nos tempos que correm? Porque a cidade já foi de muitas outras gerações e no passado, para se ter saúde na cidade, talvez tenha sido fundamental a presença do hospital, a vinda dos médicos e dos enfermeiros, a criação de farmácias e o aparecimento de muitos outros recursos terapêuticos.
Hoje, falar de saúde vai muito para além dos recursos clínicos. Exige uma atitude responsável de todos os cidadãos, uma atitude preventiva, a procura de estilos de vida mais equilibrados. Menos sedentarismo, uma alimentação menos calórica, o contacto mais directo com a natureza, a prática de exercício e a gestão do stress, são fundamentais na manutenção de uma vida saudável.
Dizer que uma cidade é saudável significa dar resposta às necessidades de saúde dos seus habitantes, e isso não significa apenas promover actividades de rua, onde seja possível medir a tensão ou avaliar a diabetes numa tenda montada para o efeito.
Uma cidade saudável tem de cuidar dos espaços para a prática de exercício físico, jogar à bola ou brincar; tem de promover actividades e favorecer uma relação próxima e despoluída com a natureza e o espaço público.
O parque urbano em Ponta Delgada é uma área verde que pode e deve representar um espaço de abertura e equilíbrio, numa cidade que cresce de forma desordenada e esquece o seu centro histórico. Pena é que a história natural destas ilhas não possa ser aprendida neste lugar, com recurso a um viveiro de plantas endémicas que ensinasse aos mais novos o valor da natureza insular. Ao invés, quem por lá anda vê, com pena, o ar triste de algumas plantas que, fustigadas pelo vento, vão tentando sobreviver.
Esqueçamos as plantas ou as pedras vindas de fora da ilha que decoram as alamedas, e reconheçamos que, apesar de tudo, este é um lugar onde os habitantes da cidade podem fazer algo pela sua saúde: caminhar, correr ou andar de bicicleta. Não têm nenhum circuito de manutenção definido, nem a ajuda de nenhum monitor, mas ao menos andam a pé, o que segundo os médicos é fundamental para a saúde, quando feito durante trinta minutos diários. Mas será possível continuar a fazê-lo?
Abriu um espaço de treino e aprendizagem de golfe, em pleno centro do parque urbano, numa área limitada por uma rede com dois ou três metros de altura. Pergunta-se, onde vão parar as bolas batidas, por amadores ou profissionais, entre as nove e dezanove horas, todos os dias? Será que alguém se lembrou que, nesse período, há quem caminhe pelo parque, tranquilamente, procurando ter um estilo de vida saudável?
Uma cidade saudável, ou à procura de o ser, faz-se com a participação das pessoas que, aos poucos, vão descobrindo que não é o espaço que dá saúde, mas o modo como o utilizamos.
(publicado no Açoriano Oriental a 25 Julho 2011)