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Viva! Este é um espaço de encontro, interconhecimento e partilha. Sentir a ilha que cada um é, no mar de liberdade que todos une e separa... Piedade Lalanda

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Ambivalências

Há sentimentos ambivalentes que nos transformam por dentro para o bem e para o mal. O orgulho é um desses. Se por um lado representa o atingir de objetivos, a satisfação pessoal por ver nos outros a concretização de metas, sobretudo quando achamos que contribuímos para esse projeto, por outro, o orgulho pode ser um obstáculo, um travão.

Acontece quando nem todos concordam com a forma como realizamos ou orientamos um projeto ou alguém nos faz reparos ao que julgávamos perfeito, aí o orgulho emerge como um sentimento estranho de posse, de forma egocêntrica, como se o mundo girasse em torno da nossa própria vida.

É o "orgulho besta", que nos torna incapazes de ouvir os outros e de reconhecer que mais não somos do que um membro de uma grande comunidade. O nosso contributo vale, mas é sempre relativo, quando é posto em comum.

Ter orgulho ou ser orgulhoso, são sem dúvida duas atitudes ambivalentes.

E, como esta maneira de ter ou ser, muitas outras marcam a nossa existência. A grande diferença está no verbo que associamos a essas atitudes, ser ou ter.

Sempre que incorporamos uma característica, seja o orgulho ou então o poder, a sabedoria ou outra qualquer, tudo muda se for algo que temos ou que somos. Experimentem conjugar o verbo ter com cada um destes termos: ter orgulho ou ser orgulhoso; ter poder ou ser poderoso; ter sabedoria ou ser sábio, e sintam como muda a posição que ocupamos ao afirmá-lo.

O que consideramos virtude pode transformar-se em defeito.

Se nuns casos nos engrandece e faz amadurecer, noutros torna-nos menos humanos e incapazes de entender os outros.

Há quem confunda estas duas dimensões e, por sentir orgulho, torna-se orgulhoso, ou por ter poder, julga-se poderoso.

Na realidade, o que fazemos das nossas capacidades, conhecimentos ou emoções faz toda a diferença no modo como vivemos em sociedade. E todos os dias aprendemos e a toda a hora há quem nos recorde essa diferença. Acendem-se as luzes do egoísmo, da ofensa, o sentimento de menor reconhecimento, porque afinal mais não somos do que uma parcela da construção coletiva. O universo não depende da nossa ação, mas sem ela ficaria mais pobre. Os outros não deixam de viver as suas vidas, só porque entretanto, conseguimos atingir o topo de uma montanha. Os demais irão continuar a tentar o mesmo e não vale a pena dizer, "eu já fiz isso", "eu já sei o que isso é....". O mundo precisa da participação de todos e a minha experiência é apenas uma entre muitas, que deve contribuir para o bem comum.

Viver e sentir essas ambivalências constantes é fundamental, quando se trata de fazer escolhas ou de se por na fila da frente para ser visto. Diz uma frase batida, que os últimos serão os primeiros, e talvez isso seja verdade, não porque alguém perdeu o comboio da vida, mas porque a viveu sem preocupação em ficar com o nome gravado numa placa, desde que os outros pudessem beneficiar da sua existência e se sentissem mais felizes com a sua colaboração.

Entre ter e ser, quanta ambivalência, contradição, dúvida. A tentação de se apropriar e de ficar melhor posicionado na fotografia, enquanto outros, mais calados e por ventura, mais importantes, ficam na sombra.

Ambivalências, contradições, entre ser orgulhoso ou ter orgulho, entre ter conhecimentos ou ser sábio.

Quando me falavam de meditação, julgava eu que seria uma experiência difícil, transcendental. Afinal, apenas requere silêncio, fazer um parêntesis no turbilhão da vida e refletir coisas tão simples como esta: que verbo associo às palavras orgulho, saber ou poder?

(publicado no Açoriano Oriental, a 17 Novembro 2015)

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