Recomeçar
Nada como um novo ano para recomeçar, reagendar, renovar e repensar.
Faz todo o sentido que ponhamos o prefixo “re”, atrás de tantos verbos que ficaram ou estão em “pausa”, à espera de melhores dias. Reorganizar a gaveta, recomeçar um trabalho deixado para trás, retomar as idas ao ginásio ou aquele propósito de perder peso, tantas vezes iniciado.
Podemos sempre pensar em “re...”, e acreditar que é possível, é desta.
Um ano novo é sempre o abrir da agenda e um virar de página, sobre um calendário em branco, à espera de ser preenchido. Uma oportunidade para olharmos a vida com esperança e retomar projetos pensados, interrompidos ou adiados. Não importa se é uma camisola de malha, que foi deixada para um canto, um livro que paramos de ler ou uma “escapadinha” que vimos a adiar há meses.
Retomar algo que foi interrompido é como pegar nos fios que tecem a vida e dar-lhes forma, organizar o tempo e aumentar a coesão da nossa existência, quantas vezes estilhaçada. É o emprego de um lado, a família do outro, os amigos que não vemos, o lazer que reduzimos por falta de tempo, os lugares que ainda não descobrimos e as atividades que não priorizamos.
Hoje é um ótimo dia para pôr tudo na agenda, marcar objetivos e reerguer a vontade de os concretizar. No mercado livreiro, não faltam obras de “autoajuda” que “propõem” modelos e estratégias para vencermos a tentação de desistir de nós mesmos. Afinal, nenhuma dessas obras tem a solução perfeita, porque são escritas para a generalidade dos leitores e não nos conhecem, como nós próprios.
Porque adiamos? O que receamos? Quais as razões porque não fomos até ao fim dos nossos propósitos do ano anterior? Na maioria das vezes porque tememos a opinião contrária dos outros, antecipamos uma avaliação negativa e uma quantidade imensa de dificuldades a superar ou a incerteza de conseguirmos concretizar. Não há como saber se vai dar certo ou não, se não experimentarmos.
Afinal, fazer propósitos, formular desejos, é sinónimo de querer viver com sentido.
E é exatamente aí que reside a magia do novo ano, podemos renovar a nossa procura de sentido, aumentar a nossa atenção aos detalhes e oportunidades. A vida pode nos surpreender e as pistas para chegarmos à meta podem estar disfarçadas em situações que não prevíamos. Aquela pessoa que nos saúda no autocarro ou o convite que recebemos para sair de casa, o livro que finalmente acabamos de ler ou a compra dos materiais para, finalmente, darmos asas à criatividade, na música ou na pintura, na arte de escrever ou de tricotar.
Não há receitas, nem certezas que nos façam “atinar” com a vida.
A única garantia que temos para 2023 está dentro de nós mesmos, na necessidade de fazermos coisas com sentido, que nos façam crescer e não sejam apenas “tendências” ou “modas” impostas por outros, que não nos dizem nada, mas que seguimos para não ser diferentes.
Um ano novo é tempo para cuidarmos de nós, dessa pessoa linda que mora dentro do nosso coração e que nos anima, nos dá alma e espírito de luta e vontade.
A força da alegria e do bem está dentro e não fora de cada um de nós.
Por isso, neste ano, que agora começa, vamos desejar ser a melhor versão de cada um de nós... e, de certeza, o ano nos irá trazer, momentos excelentes. E, quando isso não acontecer, estaremos preparados para recomeçar.
(texto publicado no jornal Açoriano Oriental de 3 janeiro 2023)