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SentirAilha

Viva! Este é um espaço de encontro, interconhecimento e partilha. Sentir a ilha que cada um é, no mar de liberdade que todos une e separa... Piedade Lalanda

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Viva! Este é um espaço de encontro, interconhecimento e partilha. Sentir a ilha que cada um é, no mar de liberdade que todos une e separa... Piedade Lalanda

Viver a crise

Os últimos tempos têm sido marcados, a nível europeu e em Portugal em particular, pelos números da dívida soberana, por taxas de juros que sobem e rendimentos que descem ou vão ser cortados.

Não é novidade termos chegado a este tempo de dificuldades. Sabíamos que a crise do chamado “subprime” nos Estados Unidos iria ter consequências desastrosas na Europa, somente não se sabia qual o grau de incidência em cada país.

Alguns dirão, por culpa dos governos, outros encherão a boca com o nome do primeiro-ministro, fazendo de uma pessoa o bode expiatório de todos os males.

As dificuldades que nos afligem hoje e que irão se agravar nos próximos tempos merecem mais atenção do que um simples apontar o dedo a culpados, como fazem os irresponsáveis. Todos temos responsabilidades no que falhou.

Somos um povo de memórias. Quando nos elogiamos, recuamos ao tempo das descobertas para encontrar o arrojo e o espírito de aventura dos portugueses. Se queremos encontrar causas para os atrasos estruturais, acabamos sempre por reconhecer o impacto negativo de meio século de ditadura, que fragilizou o tecido económico e reduziu as ambições do país em matéria de qualificações. E, depois, quando analisamos o impacto que esses movimentos tiveram, descobrimos portugueses nos quatro cantos do mundo, como povoadores ou emigrantes, à procura de terra, tesouros ou empregos melhor remunerados.

Isto é, quando a dificuldade apertou, sempre encontramos uma saída, fugir, procurar melhor noutro lado. Ainda agora, perante o difícil momento que o país atravessa, muitos pensam na emigração. “Este país não me dá outra alternativa, não há nada que me prenda aqui!” referia um jovem licenciado à procura de emprego.

Pergunta-se, e que alternativa damos nós ao país? Não queremos restrições, mas também não investimos na produção de riqueza; não concordamos com subsídios, mas se pudermos nos reformar antes do tempo, tanto melhor, e se der para meter uma baixa, os outros que trabalhem.

A história portuguesa contrasta na capacidade de lutar, com a fuga perante a dificuldade; na apologia da inovação, com as vozes críticas e conservadoras que receiam mudar procedimentos. Falhamos, porque não reconhecemos a tempo a urgência de qualificar e inovar em sectores tradicionais e, entretanto, vivemos segundo a velha fórmula do “desenrasca-te e improvisa”. Não quisemos acreditar que esta máxima tinha os dias contados.  

Agora que a crise já não é um cenário, mas uma realidade concreta, só resta rever o passado e reestruturar o futuro. Fugir, emigrar, desistir é dar um sinal de fraqueza, “entregar os pontos” e assumir que só enfrentamos desafios quando emigramos.

Não é o fim do mundo viver uma crise económica. Os povos de outros países europeus (Islândia, Grécia, Irlanda, Espanha, Reino Unido, Itália, Holanda, França), se bem que a níveis diferentes, estão a combater tenazmente esta adversidade conjuntural. É possível sair da crise, porque conhecemos as armas para a enfrentar. Pior seria viver uma guerra, ficar à mercê, sem ter como se defender.

A questão principal está em deixar de “viver em crise” e passar a “viver a crise”, ou seja, enfrentar as dificuldades e não se afogar nelas, identificar fraquezas e forças e não sucumbir à letargia e passividade ou virar costas.

(publicado no Açoriano Oriental de 11 Abril 2011).

Virar do avesso

 

Era uma prática comum no passado. Quando os fatos começavam a revelar marcas de cansaço, as mãos sábias das domésticas costureiras desmanchavam em peças e voltavam o tecido do avesso.
Ficou dessa prática a expressão, bastante actual em tempos de crise.
É preciso virar do avesso a vida, quando sentimos ter atingido um ponto de exaustão. Desmanchar e recomeçar é fundamental. Recuperar o passado, porque o tecido até tem potencialidades ainda não exploradas, não significa que se repitam formatos ou modelos ultrapassados.
Virar do avesso significa inovar, renovar, dois verbos importantes em tempos de crise, mas que exigem a desconstrução de modelos obsoletos e uma capacidade crítica para potenciar experiências anteriores.
Dizem os gurus da economia, que a palavra crise terá origem num ideograma chinês wei ji, que significa “perigo” e “oportunidade”, “momento de viragem” (cit. R.Vargas, Executive Digest) ou se quisermos, vire do avesso o que deixou de resultar, o negócio que já não atrai clientes, a imagem que não resume o produto que pretende vender, o menu do restaurante que deixou de ser atractivo e não corresponde às novas tendências do mercado.
Entro numa loja de roupas, onde se sente a proximidade do encerramento que todos anunciam. São poucas as peças nas prateleiras e faltam números nos artigos. Ouço o suspiro de uma das empregadas que comenta, “antes estar num restaurante a descascar batatas”. Sente-se inútil detrás do balcão onde outrora não tinha mãos a medir; mas também não tem motivação para dar a volta por cima. Está na eminência, quem sabe, o desemprego, e sem negar a sua vocação para o comércio, revela uma ausência de ideias que contrariem o pessimismo do negócio que em breve irá fechar.
Imagino como é difícil ser simpática, perante uma cliente que revira as camisolas que restam e depois sai sem nada comprar.
Como fazer essa viragem do avesso e criar esse momento que pode significar um recomeço e uma nova etapa.
Perante o desalento daquela empregada, apeteceu-me dizer-lhe, porque não escreve um letreiro com letras garrafais: Vista-se por 50 euros!
Vire o negócio do avesso e faça da crise uma oportunidade!
(publicado no Açoriano Oriental de 22 Fevereiro 2010)

Consolidar ou a arte de lidar com a crise

 

Há palavras que são verdadeiros tratados de conteúdo filosófico. Consolidar é bem um exemplo.
Aparentemente o que é sólido não carece de nenhum efeito de coesão ou agregação de parcelas. Mas, quando pensamos em organizações humanas, a solidez é sempre fruto da articulação e cooperação de diferentes núcleos ou dimensões. Carece de regulação para existir como um todo; carece de comunicação para não se desagregar e ser vítima de rupturas.
A coesão de um grupo ou o equilíbrio de um cidadão passam pela forma como se conjugam as suas várias dimensões ou elementos.
Consolidar é reforçar os laços que unem as pessoas ou interligam as várias vertentes de uma vida. Consolidar é viver na procura do equilíbrio e ter a capacidade de cooperar e comunicar. A coesão é um processo de consolidação permanente.
Numa família, numa organização ou na vida de uma pessoa, estão sempre a aparecer motivos, influências que podem corromper ou corroer os laços que são a estrutura que lhes dá forma. Pequenas dificuldades transformam-se em grandes crises que destroem um todo, que se julgava sólido, coeso.
As rupturas são sempre compromissos anulados ou esquecidos. Porque são os compromissos respeitados que garantem a consolidação e permitem enfrentar os tempos mais difíceis. Diriam os nossos antepassados que são compromissos de honra, palavras dadas. Hoje falamos de contratos, acordos, créditos bancários, dívidas por consumo.
Quem vive ao sabor do prazer. Quem faz questão de decidir hoje, sem pensar o que fez ontem ou como vai ser amanhã, não se aguenta em situação de crise.
Apetece-me, não custa nada pagar 50 euros por mês e levo a mobília nova para a sala. Passados poucos meses, é a máquina de roupa que estoira e um novo compromisso é aceite. São só 30 euros por mês, não custa nada; ao fim de dois anos fica paga. Mas, a partir de então, já são oitenta, para não falar das prestações do carro e da casa.
Em cada decisão, supostamente sólida, pensada ou não, falta um sentido global, uma atenção aos vários compromissos, ou seja uma visão consolidada. Afinal, tudo somado, não é assim tão fácil pagar. Tudo somado pesa, sobretudo quando ocorrem imprevistos: uma doença que exige despesas extraordinárias, a subida dos preços do consumo.
Por não terem pensado as dívidas de forma consolidada, alguns cidadãos, nomeadamente aqueles que os economistas classificam de classe média, com emprego e nível académico acima da média, acabam por se transformar em casos de risco. Risco de pobreza, dificuldade e falência, com várias dívidas que não conseguem controlar. Incapazes de alterar hábitos adquiridos, tornam-se reféns das dívidas que contraíram para manter as aparências.
Não são pobres apenas aqueles que têm fracos rendimentos, mas também aqueles que podendo viver uma vida calma, constroem uma falsa aparência, feita de consumos que não podem suportar, baseada numa esperança de melhoria, que não têm a certeza de acontecer.
Consolidar é coordenar acções, procurar o equilíbrio, saber juntar elementos novos ao que já se possui e acreditar no futuro, mesmo quando o presente não é favorável.
(publicado no Açoriano Oriental de 13 de Abril 2009)

Crise global

Crise, do grego krísis, significa, de acordo com José Pedro Machado no Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, "acto ou faculdade de distinguir; acto de escolher, escolha, eleição; acto de separar, dissentimento, contestação; acto de decidir; decisão, julgamento (de uma questão, de uma dúvida); julgamento de luta, de concurso; o que resolve qualquer coisa, solução, decisão, resultado (de guerra); fase decisiva de doença”.

De acordo com os sinónimos referidos, a crise é sempre uma experiência de dúvida, não isenta de sofrimento, que se revela necessária quando se está perante uma escolha, a necessidade de proferir um juízo ou enfrentar uma dificuldade.

As crises correspondem, no percurso de vida das pessoas ou das sociedades, a momentos de transição que obrigam e exigem uma reflexão profunda sobre o caminho até então percorrido e uma avaliação do estilo de vida e das opções estruturantes que marcam e constroem esse percurso.

As crises não são um fenómeno recente, sempre ocorreram em todos os tempos, porque são necessárias em processos de crescimento e de mudança dando corpo aos ciclos, nomeadamente os económicos. A este nível, outras crises, profundas e dramáticas como a actual, ocorreram nos últimos dois séculos, com especial ênfase para as consequências da crise de 1929, a Grande Depressão. Talvez o que diferencia esta crise económica das outras é o facto de ser globalizada, vivida à escala mundial.

Se, por um lado, a globalização aproxima os povos e os governos e, em certa medida, contribui para congregar os responsáveis e os cidadãos em torno de causas comuns e mundiais, como é o caso da defesa do ambiente, por outro, quando ocorre a falência de referências económicas e financeiras das grandes potências, com investimentos em várias partes do mundo, os mesmos canais, que serviram para ligar, difundem os impactos negativos.

De alguma forma a crise é uma prova de fogo que atesta da solidez e da resistência dos indivíduos, das empresas ou dos governos, perante alterações do contexto.

Afinal, como diz o povo, é na hora da aflição que se consegue avaliar quem são os nossos verdadeiros amigos. E, de algum modo, também é nos momentos de crise que se atesta quem realmente construiu a casa com bons alicerces e materiais duradoiros.

Confrontados hoje com as alterações exigidas para enfrentar as dificuldades do momento presente, vem-nos à memória a velha história infantil dos três porquinhos. O primeiro, não quis perder tempo com a construção da casa e resolveu o seu problema falsificando a estrutura; o segundo investiu no lazer e no divertimento e descurou as estruturas básicas e a garantia de sobrevivência. Somente o terceiro, mais velho, ponderado e reflectido, investiu tempo e esforço na construção de um edifício que resistisse às intempestivas do “lobo”. No final, moral da história, os mais novos abrigaram-se na casa do irmão mais velho.

Infelizmente, há quem ainda não acredite numa cultura de prevenção, preferindo alimentar as aparências e, como diz o povo, dando passos maiores do que as pernas.

Em momentos de crise, importa rever escolhas e por ventura corrigir percursos, e aproveitar este tempo de incertezas para perspectivar um futuro melhor.

(publicado no Açoriano Oriental de 2 de Fevereiro 2009).

Crise

Uma crise é um sinal de ruptura, sobrecarga ou desequilíbrio. Situação que ninguém deseja, mas que na realidade pode constituir uma chamada de atenção para quem a vive. Um alerta ou se quisermos uma luz amarela que se acende, anunciando a eminência de dificuldades maiores, se nada for alterado.

Entrar em crise é normalmente o resultado da deterioração progressiva de uma qualquer relação; a consequência de um projecto mal pensado, mal planeado ou o resultado de um processo continuado de dificuldades que nunca foram enfrentadas, resolvidas e que acabam por gerar alguma entropia.

Porque a crise é uma consequência e não um acidente ou uma desgraça que se abate sobre as pessoas, é possível prevenir, desde que se interpretem, atempadamente, os sinais de alerta que a precedem.

Se considerarmos uma relação conjugal, as crises que geram perda de qualidade na vida do casal, são quase sempre o resultado de tensões acumuladas, sentimentos não verbalizados, opiniões não ouvidas na hora de decidir, que depois servem de armas de arremesso quando essas decisões vêm a revelar-se erradas ou a vida quotidiana se torna mais difícil.

Em crise entram os casais quando se confrontam com dificuldades económicas, provocadas pelo mau planeamento de gastos, que cada um entende ser culpa do outro.

Em crise estão as famílias que assumiram encargos financeiros na compra de uma casa, comprometendo para o efeito o limite máximo dos rendimentos. Na altura os rendimentos eram suficientes, ainda não tinham filhos, o futuro parecia risonho e nenhum cenário menos bom foi tido em conta. Depois, uma doença grave, a despromoção no emprego, o aumento das taxas de juro, tornaram cada vez mais difícil o cumprimento do compromisso assumido. Perante esta situação limite, reconhece-se que afinal a casa é grande demais, corresponde a um estilo de vida que não se consegue manter e os custos da sua manutenção são incomportáveis com o montante de honorários que dispõem passados alguns anos.

Há em todas as crises factores contextuais, mas há também razões de ordem pessoal.

Quando se assumem encargos para os quais não se tem garantias; se constrói um percurso “tocando de ouvido”, sem uma busca genuína pelo saber ou uma valorização do esforço pessoal; ou se acumulam revoltas, mágoas e se cala sistematicamente as opiniões contrárias, contribui-se de forma directa para a construção de uma crise que sendo inicialmente pequena, uma vez não resolvida, transforma-se numa enorme ”bola de neve”, onde se acumulam novos e velhos problemas.

A crise? Nós também a fazemos.

Sem negar a conjuntura, como referem os analistas políticos, sobretudo, nestes tempos em que o aumento do preço do barril de petróleo tudo parece explicar, a acção dos actores que vivem um tempo de crise também ajuda. A falta de planeamento; a gestão emocional dos recursos, “hoje tenho, gasto, amanhã se não tiver, logo se verá!”; a acumulação de pequenas dificuldades não resolvidas; são algumas das razões que dificultam o modo como se lida com uma crise.

Em momentos de crise, o importante é pensar esse momento como uma oportunidade para se conhecer e aos outros e transformar o lado “crítico” em descoberta, aprendendo com essa experiência, por vezes difícil, as más escolhas e assim evitar que outras crises semelhantes aconteçam.

(publicado no A.Oriental de 28 de Julho de 2008)

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