Desemprego
O desemprego é sem dúvida a face mais visível da crise económica, a consequência directa do encerramento de empresas e da perda de vínculo laboral de muitas pessoas.
Quando uma entidade empresarial fecha portas interrompe, de forma dramática, o percurso profissional dos seus trabalhadores. Muitos confundiam a sua vida pessoal com a permanência nessa empresa, onde entraram ainda adolescentes e onde aprenderam a ser adultos. Era um emprego “para a vida”, julgavam. Por isso, quando se confrontam com a condição de desempregado, têm dificuldade em encarar um novo começo, uma nova carreira. Afinal, eram reconhecidos como mestres e agora pedem-lhes para serem “aprendizes”, quando já ultrapassaram os cinquenta anos de idade!
O desemprego é um grave problema social com consequências dramáticas para muitas famílias. Se a condição de desempregado se prolonga no tempo, não raras vezes, perde-se a disciplina que o horário de trabalho conferia, perdem-se referências de valor social e acrescem os conflitos na família, inclusive pode ser causa de divórcio. Sem emprego, e muitas vezes sem trabalho, são mais frequentes os comportamentos anti-sociais, a agressividade e os consumos alcoólicos ou até os actos criminosos.
A raiva com que se encara a condição de “desnecessário” ou “dispensável” alimenta o desespero e destrói, aos poucos, a vontade de reactivar a condição de trabalhador.
A instalação numa condição de subsidiado pode contrariar o espírito proactivo e empreendedor que se exige a quem valoriza o trabalho como inclusão social. Por isso, o desemprego prolongado é hoje uma nova forma de exclusão social.
Evitar que um trabalhador, que foi confrontado com a perda do seu posto de trabalho, permaneça demasiado tempo fora do mercado de emprego é hoje um objectivo prioritário de todos os governos. Não se trata de combater a preguiça, mas de evitar a instalação dos desempregados numa condição que afecta, de forma directa e profunda, o seu projecto de vida, a sua auto-estima e estima social.
É importante que o desempregado, que se viu privado da condição de produtor, encontre uma alternativa e aceite recomeçar, por ventura numa actividade diferente que exige reaprendizagem profissional, e reencontre a dignidade que o trabalho, enquanto serviço, confere.
Todos reconhecemos o valor social do trabalho, mas infelizmente, nem sempre dignificamos todas as áreas de produção de riqueza. Olhamos de través para um varredor, um camponês ou um pescador. Aceitamos mal que alguém com o secundário sirva à mesa num restaurante ou venda parafusos numa loja. Não vemos com bons olhos um engenheiro a ordenhar vacas ou a plantar flores numa estufa. Afinal, tirou um curso superior para ter um “trabalho limpo”.
O desemprego é um problema actual, espelho da crise económica que afecta o mundo e que também atinge a nossa região. Por esse motivo, o governo regional tem apostado na requalificação dos desempregados e no apoio aos empreendedores.
Há que reconhecer que, hoje em dia, um percurso activo constrói-se com sucessivas experiências e longe vão os tempos dos “empregos para a vida”.
O importante é agarrar as oportunidades que facilitam a afirmação e o desenvolvimento de competências, implicam esforço, profissionalismo e contribuem para a melhoria das condições de vida, do trabalhador e dos outros.
(publicado no AO de 31 Maio 2010)