Faltam açorianos
A leitura das estatísticas sobre a população residente nos Açores confronta-nos com uma nova realidade. Para além da diminuição da taxa de natalidade, de 14,8 em 1996 passou para 9,2 em 2016, e do índice de envelhecimento que passou de 54,8 em 1996 para 85,6 em 2016, em termos de crescimento efetivo da população, assistimos desde 2013 a valores negativos. Significa isto que o número de pessoas que residem nestas ilhas, face às que vão saindo, por morte ou migração/emigração, é cada vez menor. Em 2016, a taxa de crescimento efetivo foi de - 2.
A Região está a perder população e, sobretudo, está a perder jovens.
Neste contexto há que ser prudente na leitura de indicadores como a taxa de desemprego, porque a sua diminuição não resulta, apenas, de um eventual aumento do número de ofertas de emprego, mas reflete o número cada vez menor de jovens que procuram emprego, sobretudo, se atendermos aos jovens qualificados. Com dados do Inquérito ao Emprego (SREA), em 2013 os residentes com idades entre 15 e 34 anos representavam 30% da população total mas, em 2017, esse valor passou para 27,7%.
Quantos jovens saíram dos Açores, rumo a que regiões ou países? Todos ouvimos falar de enfermeiros, médicos, engenheiros ou arquitetos que, levados por fatores de conjuntura nacional e regional, optaram por emigrar em busca de emprego.
É importante que o Serviço Regional de Estatística (SREA) nos mostre esta realidade. Quem pesquisar dados sobre Emigração na página do SREA, nada encontra. Por sua vez o portal do Governo publica informação atualizada sobre o número de emigrantes para os EUA, Canadá e Bermuda, o que está longe de corresponder à totalidade dos que saem da região para viver/trabalhar no estrangeiro.
Não basta reconhecer que temos de acolher quem nos visita, é importante acarinhar quem pensa em sair, por falta de oportunidades. A região precisa de todos os seus jovens, em particular aqueles que estudam na Universidade dos Açores ou em outros estabelecimentos de ensino superior do país.
Não basta existir o "Estagiar L" se esses "estágios" não estiverem dotados de orientadores ou mentores qualificados. Há quem seja admitido em instituições onde ninguém tem competência para integrar o estagiário na profissão e quando este propõe medidas inovadoras, nem sempre são bem aceites pela entidade empregadora, mais preocupada em ter mão-de-obra "barata" e qualificada. O Estagiar L deveria, obrigatoriamente, conduzir à empregabilidade dos melhores, dos mais empreendedores, dos jovens qualificados com ideias, que necessitam de estabilidade financeira para acreditarem que vale a pena ficar na Região.
Insistir no trabalho precário a "recibo verde", partindo da ideia de que, quem tem 20 a 30 anos tem toda a vida pela frente para fazer uma carreira, é esquecer o investimento académico desta geração, na sua grande maioria, mais qualificada que os seus pais.
O futuro da região depende de mais natalidade, mais rendimento per capita e, sobretudo, empregabilidade qualificada. Por isso, urge fixar jovens, a começar por aqueles que terminam as suas licenciaturas na nossa universidade.
Faltam açorian@s, faltam jovens açorian@s.
(texto publicado no jornal Açoriano Oriental de 23 julho 2018)