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SentirAilha

Viva! Este é um espaço de encontro, interconhecimento e partilha. Sentir a ilha que cada um é, no mar de liberdade que todos une e separa... Piedade Lalanda

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Viva! Este é um espaço de encontro, interconhecimento e partilha. Sentir a ilha que cada um é, no mar de liberdade que todos une e separa... Piedade Lalanda

Mudanças e arrumações

De tempos a tempos é importante fazer aquela arrumação profunda, quase tão profunda como uma mudança de casa.

Em fim de férias, quando se prepara a mudança de estação, é usual trocar os vestuários no armário, retirando os agasalhos de lã da naftalina, e ensaiar as roupas do Inverno anterior. Não raras vezes reencontramos aquela peça de vestuário, que já no Inverno passado não vestimos, mas que talvez venha a ser necessária para o dia em que fizermos umas pinturas de parede. Entre muitas outras, ficam guardadas roupas que estão fora de moda ou fora do corpo, mas “quem sabe um dia ainda volto a caber nela”.

A sociedade de consumo em que vivemos é também uma sociedade que fomenta a acumulação. Por isso, quando se faz uma arrumação profunda, se muda de casa ou simplesmente se tem de fazer umas obras que obrigam a esvaziar os armários, deparamo-nos com o passado guardado em inutilidades.

Entre papéis amarelados, fotografias, postais do Natal de há dez anos atrás, contas pagas em escudos e aquelas mensagens escritas em bilhetinhos, tudo se guardou ao longo de anos, acumulando papéis e mais papéis, e só alguns são recordações que, reencontradas anos mais tarde, fazem recuar no tempo e na história vivida: “Já nem me lembrava disto, como o tempo passa!”

Arrumar, limpar gavetas é um óptimo exercício terapêutico, que ajuda à reorganização da própria vida quotidiana. Um exercício que obriga a fazer escolhas do que realmente é necessário e permite deitar fora “lixo” que se guarda porque, “quem sabe talvez venha a ser útil, um dia há-se se mandar arranjar!”. Mas esse dia nunca chegou e, no armário foram-se acumulando peças inúteis ou desadequadas; um candeeiro que não funciona, uma terrina rachada, que talvez servisse para vaso de flores, mas que nunca foi utilizada, um electrodoméstico que deixou de ser fabricado e que por isso não pode ser arranjado.

O mundo dos homens é feito de objectos, mas a sociedade de consumo transformou esta realidade numa insatisfação permanente. Um velho objecto dá lugar a um novo, um jornal dá lugar a outro, mas nem sempre nos desfazemos do antigo e, rapidamente, acumulamos inutilidades.

O espaço que nos rodeia é bem o reflexo do que somos, do meio cultural e sócio-económico a que pertencemos, mas sobretudo, do sentido de organização interior que nos estrutura. Se, num determinado momento ou período da vida, essa identidade é afectada, porque ocorreu uma ruptura familiar ou pelo contrário, se passou a partilhar o espaço com outra pessoa; se estamos bem com a vida ou pelo contrário a atravessar uma fase difícil, é quase certo que o espaço onde se reside, seja um quarto ou uma mansão, será bem o reflexo do estado interior de quem o habita.

Por isso, quando alguém decide arrumar, limpar e reorganizar uma gaveta, um quarto ou até a casa inteira, é certo que irá deitar muito lixo fora, muita acumulação desnecessária e, ao mesmo tempo, ao manipular esses objectos e papéis antigos, reencontrar a sua própria história passada, agora integrada no presente. 

De vez em quando é bom fazer aquela arrumação que pode ajudar a pacificar e a simplificar o quotidiano, deitando fora o desnecessário, para guardar o essencial, aquilo que realmente estrutura o percurso de vida e a identidade de cada um.

(Publicado no Açoriano Oriental, Set.2007)

 

piedade.lalanda@sapo.pt

 

Ilheús

São gente que vive no meio do mar, para alguns, gente que vive longe da civilização, que caracteriza e define o velho continente europeu onde tudo acontece!

Esses ilhéus estão a milhas, reais, dos continentes onde se discute a política internacional, se faz investigação de ponta e, aparentemente, se decide o rumo do desenvolvimento mundial.

Ilhéus, termo que se confunde com os rochedos perdidos no mar! Pessoas ou rochedos, os ilhéus são gente diferente, batida pelo mar; gente de fibra que não verga, mesmo quando parecem ceder na relação.

Para um ilhéu a mágoa é quase sempre vivida de modo profundo, fica gravada porque toca a própria confiança, essa relação de entrega que uma vez criada não levanta dúvidas.

Quando um insular confia, ai de quem venha a trair essa confiança, porque as relações dificilmente serão reatadas ou ganharão o mesmo vigor.

A insularidade não é uma prisão mas uma defesa, não é isolamento mas intimidade, não é solidão mas reencontro.

Quando outros procuram conhecer a vida dos insulares têm por isso que se dispor a entender e a encontrar esse lugar interior onde cada um e cada comunidade se desenvolve. Não bastam contactos superficiais ou viagens periféricas, como aquelas que muitos fazem em torno da ilha, julgando assim tudo conhecer.

Para se conhecer um insular é preciso tempo, sentido do pormenor e espaço interior para a descoberta dos recantos.

Ao contrário dos continentes a beleza das ilhas não está nas planícies mas nos vales e enseadas; a mesma paisagem ganha cores diferentes entre o amanhecer e o por de sol, os verdes são em nuance e o azul do mar muda ao longo da costa.

Ao contrário dos continentais, a riqueza dos ilhéus não está no tamanho das cidades em que vivem ou na quantidade de terras que possuem, mas no saber que partilham, nas dificuldades que enfrentam diariamente e na forma como se entreajudam.

São os laços que nos unem e nos prendem a estas terras, pequenos ilhéus, que nos fazem diferentes... por vezes distantes, mas sentindo ....o mar e o céu como espaços de evasão.

PL - 9 de Agosto de 2007

 

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