A humildade
Ser humilde não significa ser fraco.
A humildade não rebaixa, não anula, antes exalta a capacidade de escuta e a empatia. Ser humilde está longe de ser sinónimo de ignorância. É antes a verdadeira expressão da sabedoria, que se quer profunda, ponderada e serena.
O sábio é sempre alguém que escuta, que acolhe o outro com disponibilidade.
Só se aprende quando se tem consciência de que nunca se sabe o suficiente, sobretudo se pretendemos dar resposta às necessidades de alguém. Sem humildade, dificilmente se é capaz de ouvir, de entender a dimensão em que os outros colocam as suas preocupações.
Ser humilde não é ser pobre, desprovido, nem a humildade configura um traço lamecha do ser humano, mas antes o dignifica e valoriza.
Não é fácil aprender a ser humilde sem fazer a experiência da dificuldade, sem sentir o que significa perder na vida ou até, sem nunca ter falhado. A humildade aprende-se no meio das derrotas, das amarguras da vida; quando tudo parece estar contra nós e apenas resta um “eu” que desafia o mundo e renasce das cinzas.
A humildade tem uma face, a serenidade, que se alia à força, à determinação. Não convive bem com a arrogância, nem com o autoritarismo que se fundamenta no poder absoluto do “quero, posso e mando”. Talvez seja na humildade que reside a diferença entre um bom e um mau líder, um bom e um mau chefe.
Juntar a humildade à liderança é aparentemente uma dificuldade, porque habitualmente se entende que ser chefe é sinónimo de poder, decisão e domínio. Esquecem de que o poder é sempre um meio que serve a concretização de princípios, objectivos e projectos. Como tal, não vale por si; só se torna eficaz na medida em que é correctamente utilizado e serve o bem comum. Se o poder for mal gerido, se for autoritário ou absoluto, de nada valem os objectivos, que até podem ser válidos. Nem tudo se aceita no exercício do poder, mas tudo é possível quando não se é humilde na forma de o exercer.
A liderança exercida com humildade reflecte valores interiorizados, um espírito humanista, o sentido do outro, do bem comum e a democracia. Um líder humilde tem capacidade para compreender as dificuldades e os pontos de vista daqueles que dependem das suas decisões.
A humildade cria espaço para a partilha e capacita o ser humano para saber ouvir o especialista como o leigo; faz aceitar um conselho do experiente e não minimiza a frontalidade e o radicalismo da juventude. A humildade relativiza os juízos de valor; permite sintonizar com as dores e as dificuldades dos mais fracos e facilita o convívio com o conforto dos mais abastados.
A humildade não é sinónimo de fraqueza, mas antes é a outra face da força e da determinação.
Reconhecer na humildade a simplicidade do despojamento, é dar valor à riqueza dos princípios e validar os cidadãos não pelo que têm, mas pelo que são, pela nobreza da dignidade humana.