Deixar de se queixar dos outros…
“Uma das atitudes fundamentais do ser humano deve ser a de reconhecer em si, numa falta de compreensão ou de acção, a origem das deficiências que nota no ambiente em que vive; só começamos, na verdade, a melhorar quando deixamos de nos queixar dos outros para nos queixarmos de nós.” (Agostinho da Silva, Glossas)
De nada nos serve clamar, eternamente, das dificuldades ou restrições financeiras, dos sacrifícios e das perdas, e apontar o dedo aos outros, fazendo-se vítima da pressão social ou da crise do Estado. Não será certamente dessa forma que iremos enfrentar e, sobretudo, ultrapassar essas dificuldades, se continuarmos a recusar dar a nossa quota-parte de ajuda, trabalho, iniciativa e criatividade, e minimizar o que falta a este mundo para ser melhor.
Queixamo-nos do custo de vida, mas não somos capazes de reduzir os níveis de consumo. Falamos mal dos gastos em folguedos, do luxo e do supérfluo, mas esgotaram as entradas para as festas de fim de ano.
Reconhecemos que vai faltar dinheiro e que o custo de vida vai aumentar, mas segundo consta, aumentaram os levantamentos em caixas multibanco no final do ano.
Afinal queixamo-nos de quê? Dos outros, dos governos, da crise? E o que fazemos para enfrentar essa crise? Fechamos os olhos e esperamos que passe? Fazemos de conta que não é connosco e ficamos a ver os que perderam o emprego, a quem é que cortam o salário ou quem é obrigado a pagar mais?
Início do ano é uma boa altura para voltarmos o dedo para nós mesmos e tomarmos consciência do que ainda não fizemos e que temos de apontar na agenda nova que acabamos de estrear; é tempo de definir novas metas, que sejam também objectivos de mudança para o ano que agora começamos.
Início do ano é altura certa para delinearmos um projecto construtivo, que exija de nós uma renovação de comportamentos, que implique um compromisso e, sobretudo, que nos faça menos críticos, quando se trata dos outros e mais quando está em causa o modo como vivemos.
Temos de ser exigentes connosco, para que a nossa coragem não seja empregue a combater mas a construir. Perdemos forças nessas lutas que têm apenas por objecto derrubar o outro, mas que nada lhe dá em troca e não são sinal de esperança.
O tempo de se lamentar já passou, porque, admitamos, ninguém gosta de saber que vai ter o seu salário reduzido, nem é agradável ouvir o anúncio dos aumentos dos preços ou dos custos que vamos passar a assumir para ter acesso a bens essenciais. Mas será que vale a pena continuar nessa posição derrotista? Ou não será que a hora é de levantar cabeça e de pensar? Sim, pensar antes de se decidir.
Início do ano é altura para reconhecer o quanto valemos e como o nosso contributo é essencial, e faz falta, para melhorar o mundo, a nossa terra, a nossa família ou a empresa onde trabalhamos.
Mas, só iremos melhorar esse mundo, quando “deixarmos de nos queixar dos outros para nos queixarmos de nós; quando resolvermos fornecer a nós mesmos e ao mundo, o que nos parece faltar-lhe” (A. Silva)