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SentirAilha

Viva! Este é um espaço de encontro, interconhecimento e partilha. Sentir a ilha que cada um é, no mar de liberdade que todos une e separa... Piedade Lalanda

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Viva! Este é um espaço de encontro, interconhecimento e partilha. Sentir a ilha que cada um é, no mar de liberdade que todos une e separa... Piedade Lalanda

Mudar

O começo de um novo ano pode ser um pretexto para mudar, que vale a pena aproveitar.

Um pretexto para mudar, reorganizar, limpar, deitar fora papéis e rever armários onde se acumulam roupas, objetos que há muito deixaram de nos ser úteis.

Todos reconhecemos a necessidade de mudança, quando hábitos ou estilos de vida deixaram de se adequar ao quotidiano. Mas entre reconhecer que a nossa vida não está ajustada e ser capaz de a mudar... vai um passo de gigante.

E tudo porquê?

Porque estamos presos a tudo aquilo que temos, particularmente, esses montes de objetos, roupas, papéis velhos que fomos acumulando nas gavetas e nos armários.

De todas as vezes que olhamos para eles e tentamos nos libertar de parte, acabamos por voltar a por tudo nas caixas ou nas gavetas, dizendo: não é agora, mais tarde... hoje não tenho cabeça para isto... assim como assim, esteve aqui até agora, pode ficar mais algum tempo!

E assim, continuamos a amontoar, juntando todos os dias mais papéis ou roupas, recordações ou memórias de momentos, que julgamos eternos e que acabam por ser esquecidos por um presente vivido de forma intensa.

Limpar armários, gavetas ou caixotes, que se juntam numa garagem ou num sótão, é uma tarefa que se encaixa no início de um novo ano. É começar de novo.

Deitar fora o que se acumula e que não usamos, nuns casos até pode fazer jeito a outros, mas na maioria das situações é libertar-se de lixo guardado.

E enquanto guardarmos esse lixo não conseguimos mudar nem arriscar a ser diferente... porque é o passado que nos prende, são experiências que já tivemos que nos amarram e nos impedem de vivenciar o presente. E assim ficamos, olhando agendas de há mais de dez anos e fazendo o auto-elogio do que fomos!

Vejam só o que eu já fiz? Eu realmente era....

Já não tenho idade para... antes sim! eu era capaz de ... eu fazia...

E assim, sentados no meio da tralha acumulada, incapazes de deitar fora a página do jornal que anuncia o concerto onde fomos aos 15 anos, ou aquele menu de restaurante onde festejamos um aniversário, acabamos por voltar a por tudo na caixa de cartão, impedindo que se crie espaço para uma nova etapa, um tempo novo.

Estamos a começar um novo ano e mudar implica ter espaço interior para viver novas experiências, aprender com outros, descobrir diferentes facetas da vida.

Para isso, temos de limpar o sótão das nossas vidas, das nossas casas, queimar ou rasgar papéis que de nada nos servem, mas que fomos acumulando... na esperança que um dia talvez voltassem a servir.

Está na hora de mudar, mas primeiro temos de limpar a casa.... abandonar lixo, desperdícios e reorganizar o espaço. Quem sabe ser minimalista... procurar o essencial, atender ao que realmente nos faz falta para sermos felizes.

Ir deixando atrás aquilo que não cabe na mochila da alma, e que podemos transportar em qualquer circunstância, com muito ou pouco dinheiro, com muita ou pouca saúde ou idade.

Todos sabemos que desta vida, nada nos serve quando fecharmos os olhos definitivamente, por isso, talvez fosse importante começarmos em vida a perceber onde está o essencial, vivendo com aquilo que nos pode fazer e nos faz felizes.

Lembrem-se, para mudar é preciso começar por arrumar a casa... e libertar-se do que nos prende ao passado.

Mudamos de ano... talvez fosse bom pensar em mudar um pouco as nossas vidas.

Não esperemos que o ano, novo... acabado de começar, nos mude!

O que pode mudar neste ano depende, sobretudo, de uma mudança interior, da atitude ou seja do sentido que queremos dar às nossas ações!

(texto lido no programa de Graça Moniz - entre palavras, no dia 3 Janeiro 2015).

Mudar de vida

Somos confrontados com a necessidade de mudar de vida, quase sempre quando ocorrem rupturas relacionais, no emprego, na família; quando por motivos de saúde, afectivos ou outros, parece existir um impasse que exige uma reorientação.

Quando se analisa esta exigência de mudança, facilmente se percebe que esses acontecimentos não são as causas directas da mudança de trajectória, apesar desses momentos exigirem uma reflexão acrescida. Afinal, o que tenho sido até agora, que trajectória percorro e porquê?

Quem faz de um acontecimento da vida uma oportunidade de mudança, revela ser capaz de perspectivar o futuro, integrando o passando no presente. Mudar de vida implica sempre decidir-se por um caminho diferente daquele que, aparentemente parecia ser o seu. Como referia o sociólogo Marc-Henry Soulet, o indivíduo é confrontado com uma bifurcação na sua trajectória, a necessidade de alternância, que implica uma situação decisória, o que poderá coincidir com uma despedida, uma ruptura, um divórcio ou uma simples resposta negativa ou afirmativa perante um convite ou um desafio.

Mas se esse momento parece decidir uma vida, na realidade, as mudanças carecem de um tempo de transição, uma fase de adaptação quase sempre marcada por forte instabilidade, que acaba por se constituir como um separador que define a mudança de capítulo, que marca o “virar de página”. Por exemplo, quando alguém se divorcia num determinado dia, na realidade, a relação já vinha se desconstruindo; há muito que se vinha divorciando. A sentença do juiz é apenas um momento nesse processo de separação e desencontro que foi alterando a relação conjugal e criando um contexto favorável à ruptura.

Mudar de vida é sempre um espaço e um tempo de abertura, que permite a alteração de referências e cria condições para que se façam novas aprendizagens. Um tempo de latência, entre vidas ou tempos de vida, onde só aparentemente o passado deixou de determinar o presente e o futuro se abre como espaço criativo.

Mudar de vida implica afastar-se de esquemas instalados, abandonar rotinas não reflectidas e deixar de considerar como inalteráveis posições predefinidas. “Eu sempre fui assim, eu nunca fiz outra coisa, não sei como fazer de forma diferente”, são atitudes de resistência que fazem barreira às mudanças de vida e criam alguma dificuldade de adaptação perante as constantes transformações da sociedade em que vivemos.

Se há qualidade que se exige hoje em dia, mesmo quando a idade parece ser uma garantia de estabilidade, é a disponibilidade para a mudança, seja ao nível das tarefas, dos locais de trabalho ou de residência, das relações de género, para não falar da incorporação das novas tecnologias que alteram a vida quotidiana.

Somos desafiados em permanência a testar a nossa capacidade de adaptação e de aprendizagem. O que somos agora projecta-se no que queremos ser amanhã; o que sabemos hoje é sempre limitado face ao muito que gostaríamos de saber.

Mudar de vida, bifurcar numa trajectória que parecia linear, pré-definida, é sempre criar uma abertura, mesmo que isso possa implicar um tempo de indefinição e alguma incerteza; logo mais, virá a estabilidade, o reencontro consigo e com os outros.

(publicado no Açoriano Oriental de 1 Dezembro 2008)

Mudanças e arrumações

De tempos a tempos é importante fazer aquela arrumação profunda, quase tão profunda como uma mudança de casa.

Em fim de férias, quando se prepara a mudança de estação, é usual trocar os vestuários no armário, retirando os agasalhos de lã da naftalina, e ensaiar as roupas do Inverno anterior. Não raras vezes reencontramos aquela peça de vestuário, que já no Inverno passado não vestimos, mas que talvez venha a ser necessária para o dia em que fizermos umas pinturas de parede. Entre muitas outras, ficam guardadas roupas que estão fora de moda ou fora do corpo, mas “quem sabe um dia ainda volto a caber nela”.

A sociedade de consumo em que vivemos é também uma sociedade que fomenta a acumulação. Por isso, quando se faz uma arrumação profunda, se muda de casa ou simplesmente se tem de fazer umas obras que obrigam a esvaziar os armários, deparamo-nos com o passado guardado em inutilidades.

Entre papéis amarelados, fotografias, postais do Natal de há dez anos atrás, contas pagas em escudos e aquelas mensagens escritas em bilhetinhos, tudo se guardou ao longo de anos, acumulando papéis e mais papéis, e só alguns são recordações que, reencontradas anos mais tarde, fazem recuar no tempo e na história vivida: “Já nem me lembrava disto, como o tempo passa!”

Arrumar, limpar gavetas é um óptimo exercício terapêutico, que ajuda à reorganização da própria vida quotidiana. Um exercício que obriga a fazer escolhas do que realmente é necessário e permite deitar fora “lixo” que se guarda porque, “quem sabe talvez venha a ser útil, um dia há-se se mandar arranjar!”. Mas esse dia nunca chegou e, no armário foram-se acumulando peças inúteis ou desadequadas; um candeeiro que não funciona, uma terrina rachada, que talvez servisse para vaso de flores, mas que nunca foi utilizada, um electrodoméstico que deixou de ser fabricado e que por isso não pode ser arranjado.

O mundo dos homens é feito de objectos, mas a sociedade de consumo transformou esta realidade numa insatisfação permanente. Um velho objecto dá lugar a um novo, um jornal dá lugar a outro, mas nem sempre nos desfazemos do antigo e, rapidamente, acumulamos inutilidades.

O espaço que nos rodeia é bem o reflexo do que somos, do meio cultural e sócio-económico a que pertencemos, mas sobretudo, do sentido de organização interior que nos estrutura. Se, num determinado momento ou período da vida, essa identidade é afectada, porque ocorreu uma ruptura familiar ou pelo contrário, se passou a partilhar o espaço com outra pessoa; se estamos bem com a vida ou pelo contrário a atravessar uma fase difícil, é quase certo que o espaço onde se reside, seja um quarto ou uma mansão, será bem o reflexo do estado interior de quem o habita.

Por isso, quando alguém decide arrumar, limpar e reorganizar uma gaveta, um quarto ou até a casa inteira, é certo que irá deitar muito lixo fora, muita acumulação desnecessária e, ao mesmo tempo, ao manipular esses objectos e papéis antigos, reencontrar a sua própria história passada, agora integrada no presente. 

De vez em quando é bom fazer aquela arrumação que pode ajudar a pacificar e a simplificar o quotidiano, deitando fora o desnecessário, para guardar o essencial, aquilo que realmente estrutura o percurso de vida e a identidade de cada um.

(Publicado no Açoriano Oriental, Set.2007)

 

piedade.lalanda@sapo.pt

 

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