Desviar o olhar
Não é preciso muito para recusar um pedido.
Não são precisas palavras para isolar as pessoas,
Basta desviar o olhar.
Evitar o contacto,
E seguir em frente,
Indiferente.
Conheço aquela pessoa ou será que a conhecia!?
Tinha na conta de amiga, mas algo mudou.
Não é preciso muito para mostrar indiferença,
Não são precisos muitos gestos para afastar um amigo,
Que entretanto divorciou ou mudou de emprego,
Que defende outras ideias ou caminho diferente decidiu trilhar;
Que ficou na outra margem do rio,
Porque não quis ou não pôde atravessar.
Basta evitar o contacto
E seguir em frente,
Indiferente.
Não faltam pretextos para desviar o olhar.
Não é preciso muito para descriminar,
Mesmo quando se afirma não ser racista e se defende a igualdade,
Basta desviar o olhar,
E essas boas intenções se tornam em falsidade.
Porque o que se fala não se sente,
No que se diz não se acredita,
É-se Indiferente.
Não é preciso muito para recusar o afecto.
Basta desviar o olhar de quem se afirma respeitar,
Basta recusar uma palavra a quem se diz querer ajudar.
Porque os olhos são a janela da alma,
E por eles passam os sentimentos,
A disponibilidade ou a recusa;
O carinho ou a agressão;
O acolhimento ou a rejeição.
“Olha-me nos olhos”, Diz o Menino Jesus,
Não recuses o que sentes.
Aproveita para descarregar,
Esse fardo que andas a transportar.
Queres um Natal diferente?
É simples, não desvies o olhar!
(publicado no A.Oriental de 22 Dezembro 2008)