Literacia em saúde
Literacia! De que falamos?
Não confundir com escolaridade. Podemos ter um nível de escolaridade elevado e, no entanto, ter uma literacia baixa. Qual o adulto que nunca se sentiu incompetente diante de computador, enquanto a criança de seis anos resolve o problema de imediato; quem nunca ficou incrédulo perante as inovações alimentares, que são propostas pelos vegetarianos ou ainda, quem é que nunca pediu mais explicações no seu banco, pois deixou de saber como pode melhor aplicar as suas poupanças?
Em muitas áreas das nossas vidas é fundamental ter literacia, ou seja, estar suficientemente informado, para ser autónomo nas nossas decisões, fazer escolhas e agir da melhor forma, perante os problemas ou dificuldades, numa sociedade que muda muito rapidamente.
A literacia, particularmente no domínio da saúde, faz toda a diferença na qualidade de vida de um cidadão. Para isso é importante ter acesso à informação, seja aquela que se obtém junto dos profissionais de saúde, lendo cartazes, folhetos ou as caixas de medicamentos, mas também, por exemplo, nos pacotes de bolachas e nos iogurtes que compramos no supermercado.
Regra geral, a informação destinada ao consumidor vem em letras muito pequeninas e, para quem é mais velho, é preciso por os óculos para conseguir ler. Mas é fundamental que tenhamos essa preocupação.
Mas em que consiste ainda a literacia em saúde, será que tem só a ver com o conhecimento sobre fármacos ou tratamentos, por vezes necessários para controlar uma situação de doença? É evidente que não. A saúde não passa apenas pela toma de medicamentos e muito menos depende exclusivamente da ação dos médicos, enfermeiros e outros profissionais da saúde.
Cada um de nós é o principal gestor da sua saúde e é fundamental que aprendamos a valorizar os conhecimentos, aqueles que aprendemos com os mais velhos e muitos outros que lemos e descobrimos na escola ou na vida quotidiana.
A saúde passa também por conhecermos o nosso corpo e sabermos a melhor forma de cuidar dele; está ligada ao modo como nos alimentamos e à importância que damos aos nutrientes que necessitamos para prevenir ou controlar determinadas situações de doença; tem tudo a ver com a forma como descansamos e nos divertimos, como mantemos viva a mente, com atividades criativas e evitamos dependências que nos retiram autonomia e capacidade de discernimento.
A literacia em saúde tem a ver com conhecimentos que utilizamos, incorporamos e nos fazem decidir e agir da melhor forma, em prol da nossa saúde.
De que serve tomar o comprimido para o colesterol e a seguir abanquetar-se com uma refeição saturada de gordura e açucares?
Mais do que o bom senso, a literacia é sinónimo de capacidade e discernimento, perante os dilemas diários e cada vez mais complexos que a sociedade atual nos coloca.
Quer aumentar a sua literacia? Então, se não sabe, pergunte! Se tem dúvidas, pondere antes de agir; se sempre fez de uma determinada forma, tente mudar, experimentando fazer diferente, em benefício da sua saúde!
O povo diz que só os burros é que não mudam e que podemos aprender até morrer!
Por isso, vamos investir na nossa literacia em saúde e contribuir, no dia a dia, para cuidar melhor de nós, prevenir doenças e promover a saúde, a nossa e a da comunidade onde vivemos.
(texto publicado no jornal Açoriano Oriental de 26 outubro 2021)