Um negro para Presidente
É impressionante como as notícias e os comentários sobre as eleições nos Estados Unidos não evitem falar da candidatura de um homem, Barak Obama, como sendo a de um negro, um herdeiro de Martin Luther King, um lutador contra o racismo e a discriminação.
Quando julgamos estar morto o fantasma da escravatura, quando se pensa que a igualdade é um valor e um direito assumido e legislado em todos os países ocidentais, o facto de um candidato a Presidente dos Estados Unidos possuir um traço racial, que só apelidamos de diferente, porque durante anos foi espezinhado e objecto de humilhação, faz correr tinta e exige, do próprio, provas acrescidas da sua capacidade.
Será que a mesma pessoa, sob uma outra roupagem de pele exigiria tantas explicações e justificações? Ou será que o mundo precisa de ser abalado nas suas convicções nem sempre vividas? Somos todos muito democratas, muito tolerantes, muito justos, mas … Mas, é preciso ter certezas e as aparências também contam!
Basta ler os comentários de americanos que se sentem chocados perante a ideia de ter uma primeira-dama negra, mesmo que o seu discurso e a sua formação seja superior ao de muitas mulheres de presidentes anteriores. Ou então as reacções de alguns membros da comunidade negra que consideram que o candidato não é um “negro puro”, por ser filho de uma mulher branca.
Barak Obama talvez seja o que os Estados Unidos e de algum modo o mundo ocidental precisam neste momento. Mais do que um Democrata, o seu discurso é portador de uma mensagem que apela aos valores da justiça, da coerência, do respeito pelos direitos dos mais fracos.
A América das armas que defendem os interesses económicos a pretexto de quererem libertar os povos oprimidos está perdendo importância. Os jovens já não vêem sentido em morrer pelo petróleo, e dificilmente conseguem defender a pátria americana morrendo no Iraque ou no Afeganistão.
Barak Obama talvez seja o político que os americanos precisam para acordarem para as questões do ambiente; para se deixarem de falsos moralismos e reconhecerem os problemas sociais que afectam os jovens, as mulheres, os desempregados sem acesso aos cuidados de saúde. Não é por acaso que a campanha eleitoral de Obama utiliza como slogans de campanha, acreditar no sonho, na mudança e ter esperança. Os Estados Unidos precisam de acreditar que é possível e isso cativa o eleitorado jovem, carente de olhar o futuro de outro modo.
Não faz sentido que, no século XXI, o facto de se ser mulher ou negro sejam razões para uma demonstração acrescida de competência. A igualdade não se demonstra, aceita-se, vive-se e acredita-se, ou não, que é possível. O mundo de hoje é global, as sociedades são cada vez mais multiculturais e a mobilidade está cada vez mais facilitada. Não há lugar para a segregação racial, a exclusão das minorias étnicas ou a descriminação das mulheres.
A candidatura de Barak Obama é certamente um sinal de esperança e, quem sabe, a sua eleição irá contribuir para a concretização do sonho que custou a vida a Martin Luther King.