Ousar vencer o comodismo
Em tempo pré-eleitoral, há quem se apresse a construir frases de campanha potenciando o descontentamento, como é bem visível em alguns cartazes eleitorais, que “desanimam” um pouco por todo o lado.
É fácil, demasiado fácil, apontar o dedo aos outros e criticar as suas acções, sobretudo quando quem o faz se põe de plateia, espreitando por entre as persianas; espalhando rumores, como se nada do que se passa ao seu redor pudesse ser da sua responsabilidade.
Fala-se mal do Rendimento Social de Inserção, com a ligeireza de quem não conhece todas as vidas, para não falar dos critérios, de quem dele beneficia. Até parece que o tempo do assistencialismo e da mendicidade, da qual dependiam muitas dessas famílias no passado, sobretudo crianças, fosse de louvar e representasse o sistema ideal para as ajudar. Afinal quem dava também se sentia bem consigo próprio, mesmo sabendo que isso em nada alterava a condição social de quem recebia.
Ouvem-se vozes que reclamam porque estão a pagar a sua casa ao banco, têm despesas com os filhos na escola, trabalham oito ou mais horas por dia e, não muito longe da sua casa, uma vivenda bonita de persianas brancas, vive uma família beneficiária do RSI. Têm seis filhos, todos com menos de oito anos, numa casa a precisar de reparações, com três assoalhadas. O marido, vítima de um acidente de trabalho, faz uns biscates de electricidade, sua profissão de outrora, e a mulher dá uns dias por semana em limpezas. Cuidar das seis crianças ocupa-lhe demasiado tempo. Afinal, o rendimento é apenas uma ajuda, o suficiente para que possam pagar as despesas mensais.
“Não são todos”, dirão as vozes críticas da medida. “Pois, nunca são todos!” Aliás, quando o Estado proporciona medidas de apoio, há sempre quem abuse, quem desrespeite os seus princípios. Basta lembrar o que acontece com os atestados médicos, que há quem utilize para alargar o período de férias ou de descanso, enquanto outros, realmente doentes, não faltam às suas obrigações laborais.
Apesar da justiça social que a introdução do Rendimento Mínimo permitiu, desde logo porque reduziu muitas situações de mendicidade e de exploração infantil, há sempre quem pareça não valorizar a sua condição de cidadão pagador, esforçado, com capacidade para investir na formação dos filhos. “Afinal, eu trabalho!” E depois? Será que preferia estar na condição de ter de beneficiar de uma medida de apoio social? Não será que devemos todos construir uma sociedade de pessoas activas, empenhadas? Como queremos libertar os mais carenciados se promovemos a cultura do “só se me derem”? Onde está o espírito empreendedor que pode contagiar os que desistiram de lutar e desconhecem o valor do esforço?
O importante é que aqueles que podem e sabem não baixem os braços, mas dêem exemplo, apostando na educação, mostrando profissionalismo no emprego, contribuindo para uma sociedade melhor do ponto de vista ambiental, sendo solidários em acções de voluntariado, que mais não seja no clube desportivo da sua terra.
Os críticos das medidas sociais, como o RSI, que apenas apontam o dedo, esquecem-se que, ao mesmo tempo, têm outros quatro dedos apontando para si mesmos. É preciso acreditar na mudança e viver com espírito de serviço se queremos realmente melhorar a sociedade.
(publicado no Açoriano Oriental a 22 de Setembro 2008)