…das que acontecem agora e das que se recordam entre nuvens de memória, entre recordações amarelecidas pelo tempo. Natal que nos transporta para casas do passado, relembra pessoas que já partiram, lugares perdidos, rituais que se repetem, como um filme que nunca nos cansamos de ver.
Natal de todas as crianças, das pequenas no tamanho e das que habitam o coração dos adultos, das que acreditam na simplicidade e são capazes de sentimentos genuínos.
Natal de todas as idades, de todos os tempos, lugares e culturas, tempo para nascer ou renascer, início de um ciclo que outro encerra. Tempo de transição, lugar de união, Natal é sempre tradição ou transmissão.
Natal igual e diferente em cada casa, em cada família.
Natal do bacalhau ou das filhoses, das rabanadas ou do arroz doce. Natal onde se fundem e se renovam tradições familiares.
Natal das luzes ou simplesmente da lareira, das árvores de plástico ou das que cheiram a cedro, do Menino Jesus ou do Pai Natal; Natal das prendas caras ou dos presentes feitos em casa.
Natal fantasia, magia de todas as crianças que acreditam num ser maior, envolto em mistério, que entra nas casas, não se sabe bem como, e traz prendas num saco vermelho.
Natal que provoca sentimentos fraternos, agita corações e faz pensar nos amigos e familiares que não vemos há meses ou até anos.
Natal da minha infância, dos sacos com géneros, distribuídos às famílias mais pobres da paróquia, porque a solidariedade se torna exigência nestes dias de festa, sinal de que todos reconhecemos as desigualdades que ainda perduram.
Quer se acredite ou não, quer se saiba porque se faz o presépio ou simplesmente se goste de ver as luzes da árvore a brilhar, precisamos deste tempo, que apela à solidariedade e à partilha, que nos obriga a pensar nos que estão sós e esquecidos. É uma janela que se abre no calendário, para deixar entrar o ar da paz que brota da união e que apela à reconciliação, ao reencontro. Afinal é Natal, tempo de renovar e recomeçar; tempo de alianças e aproximações.
Natal de todas as infâncias, de todas as crianças, das que já passaram e das que agitam as casas, esperando ansiosas ou até receando, a vinda do tal homem velho que os adultos dizem ter visto passar por perto, sentado num trenó puxado por renas. Fantasia desses adultos que já não se lembram da história do menino Jesus.
Natal, tempo para pensar e reflectir sobre quem somos, olhando as figuras do presépio onde se contam histórias de pastores, os reis magos ou daquela lavadeira que insiste em esfregar a roupa na ribeira, curvada sobre a pedra, alheia ao cantar do galo, empoleirado na gruta, indiferente ao brilho da estrela que guiou três reis até junto de uma manjedoura.
Natal é tempo para ser diferente, não para disfarçar mas para assumir, não para adiar aquele abraço, mas para sentir.
Afinal, dentro de um adulto permanece uma criança que acredita no bem, que uns fazem questão de embrulhar em papel de oferta e outros oferecem de forma gratuita, sem nada pedir em troca.
Natal é tempo de aproximação, de postais ou das mensagens recheadas de votos e de esperança.
A todos os leitores deste jornal, de modo especial aos que dedicaram uns minutos a ler este texto, votos de um Natal diferente, mais sentido e melhor vivido; recheado de cheiros e sabores, de memórias renovadas e recriadas.
(publicado no Açoriano Oriental a 24 de Dezembro 2007)