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SentirAilha

Viva! Este é um espaço de encontro, interconhecimento e partilha. Sentir a ilha que cada um é, no mar de liberdade que todos une e separa... Piedade Lalanda

SentirAilha

Viva! Este é um espaço de encontro, interconhecimento e partilha. Sentir a ilha que cada um é, no mar de liberdade que todos une e separa... Piedade Lalanda

Felicidade rima com fidelidade

Felicidade não rima com facilidade, com ligeireza e superficialidade.

Felicidade rima com fidelidade. A facilidade que abre portas e afasta as pedras do caminho, cria um sentimento ilusório de felicidade. Tudo parece ser favorável, não há dificuldades intransponíveis, nem percalços ou azares. É como andar nas nuvens. O sol brilha, o horizonte é claro e à volta todos parecem contentes com a vida. Ninguém é exigente e as forças parecem estar sempre adequadas ao esforço, criando a ilusão que é fácil e até divertido viver. Mas será que isso é ser verdadeiramente feliz? Onde mora a felicidade?

A facilidade é irmã da superficialidade. Tudo se pode tocar ou até provar sem ter de conhecer ou aceitar. Se não se gosta passa-se à frente, experimenta-se outro, ninguém se importa. Hoje com este ou com esta, amanhã com outro ou com outra! É fácil, ninguém se compromete, fica-se enquanto dura o prazer de estar, mas não se chega a sofrer porque ninguém se deixa cativar. Como diria a raposa do Pequeno Princepezinho: “Só compreendemos o que cativamos”. E para podermos cativar temos de perder tempo com quem cativamos, que a partir dessa altura passa a ser único ou única. “Ficas responsável para todo o sempre por aquilo que cativaste” diria ainda a raposa. Tornas-te fiel, porque te sentes responsável.

A felicidade não nasce da liberdade de fazer o que apetece; não é um sentimento fugaz que se desfaz com o tempo. A felicidade depende dos laços que nos ligam ao mundo e transformam uma pessoa num companheiro de jornada.

A felicidade não se faz apenas de emoções fugazes que tão depressa chegam como partem, mas de amores fiéis que suportam dificuldades e dão força para as ultrapassar, que aguentam derrotas e ajudam nas vitórias. A felicidade não combina com facilidade e superficialidade, porque então seria fugaz, artificial e ilusória. Para ser verdadeira, a felicidade compreende e aceita o lado menos bom da vida; é realista, sólida, coesa e sempre que o sofrimento bate à porta, não desaparece, mas antes renasce da força dos laços que se estabelecem para ajudar a curar, que apoiam e fazem levantar.

A felicidade não combina com o isolamento ou o disfarce. “Não se fala nisso”, apregoam os falsos profetas da felicidade, “tristezas não pagam dívidas, vamos fazer de conta e bailar!” Esquecem que a felicidade não ignora o que faz doer, mas antes agarra as pessoas pelo seu lado positivo; traz esperança sem abafar as dificuldades; reanima sem deixar de considerar o sofrimento. Não é ilusão, é atenção. Não faz de conta, mas faz diferente. Alguns dirão que a palavra fidelidade tem uma conotação conservadora; é sinónimo de dependência, controlo e sujeição. Enquanto sinónimo de felicidade a fidelidade não é dependência que sujeita, mas é co-dependência, entreajuda e cooperação, compreensão e apoio, que não atrofia mas liberta, que não sujeita mas acolhe. Ao invés, a facilidade é uma falsa ligação, que rebenta à mínima divergência; é um cenário que cai, quando os actores deixarem cair a máscara ou desistirem de brincarem ao faz-de-conta.

O caminho da felicidade não é fácil, mas quem o percorre tem sempre uma história recheada de momentos marcantes que penetram e alimentam a alma, tem memórias que fazem sorrir e um presente que motiva a seguir em frente!

(publicado o Açoriano Oriental a 16 de Junho de 2008)

Pela boca morre o peixe!

Infelizmente não só os peixes “morrem pela boca”. Muitos outros seres exageram, levados pela tentação de comer, pela precipitação inconsequente diante da possibilidade de viver um momento de prazer imediato.

No caso dos seres humanos, todos sabemos que o gosto, os sabores só são apreciados enquanto os alimentos vão da boca até à garganta. São breves segundos de prazer, em que se apreciam os aromas, se descobrem combinações e temperos e se aviva o paladar, de tal forma, que não raras vezes se fecham os olhos, para melhor apreciar a comida.

Degustar, como dizem os gastrónomos, é a arte de saber viver a experiência da descoberta e do sentir. A partilha de uma boa refeição pode ser o pretexto para uma boa conversa e se a culinária for típica de uma região, é certamente uma ocasião para descobrir a expressão de uma cultura, de uma comunidade. Comer pode não ser apenas a satisfação de uma necessidade básica e uma forma de combater a fome, mas uma fonte de prazer, uma ocasião de convívio e de descoberta.

A comida é mais do que o alimento, é também a expressão da diversidade de produtos e de temperos, de aromas e formas de cozinhar que identifica uma comunidade, uma família ou até uma pessoa. Mas o acto de comer pode ser uma forma de compensar e satisfazer outras necessidades, que não apenas a biológica. Há quem o faça na busca de um refúgio, porque está deprimido ou entende que a vida não lhe é favorável, busca no prazer de comer alguns segundos de emoção, sensações que provoquem uma satisfação imediata. Indiferente ao conceito de alimentação equilibrada, a comida torna-se numa armadilha de prazer; um veneno embrulhado em açúcar ou em sal; uma reserva calórica não queimada, que “aquece” a tristeza e contribui, pouco a pouco, para aumentar a inércia, a passividade e o sedentarismo.

Comer de mais em busca de prazer é uma tentação e uma fonte de desequilíbrio. Aos poucos a mente perde o controlo sobre o corpo, o desejo gera obsessão, a relação com os consumos substitui a relação com os outros e o prazer procura-se em segundos e não se dilata no tempo. Um passeio à beira-mar, uma tarde de leitura ouvindo os pássaros, dão lugar às jantaradas, a uns copos no bar da esquina e ao falso sentimento de prazer. O peixe mordeu o isco e tal é a sofreguidão que nem repara no anzol, até ao dia em que o não consegue evitar. Diabetes, problemas vasculares ou cardíacos, falta de forças e peso a mais, são algumas das consequências que o consumo alimentar desregrado vai criando, cada vez mais cedo, sobretudo em crianças e jovens.

Onde fica o meio-termo? Comer sempre foi e será uma fonte de prazer, de descoberta, porque a gastronomia enquanto expressão da identidade cultural, deve ser preservada na sua forma original. Todos reconhecem o valor dos produtos frescos, das confecções minuciosas, da arte de criar um prato, que faça de uma refeição uma viagem.

Será que temos de tornar a vida sem sabor para sermos saudáveis? Diz o povo que o que é demais não presta. E, em matéria de alimentação, essa é sem dúvida uma regra de ouro. Podemos comer de tudo, experimentar todos os produtos que a natureza e a arte de confeccionar podem propiciar, mas temos de saber parar! Porque pela boca morre o peixe e o exagero é o anzol disfarçado que não devemos ignorar.

(publicado no Açoriano Oriental de 9 Junho 2008)

A criança precisa de tempo

As crianças precisam de tempo para crescer, para serem crianças.

Precisam de espaços próprios, de adultos atentos, de fazer experiências novas e de muitas respostas, objectivas, afectuosas e oportunas, para poderem ir construindo o seu mundo de referências.

Hoje, podemos dizer que a maioria das crianças são o resultado de um desejo dos adultos e que por isso têm de ser amadas desde que estão na barriga da mãe, mas sobretudo depois de nascerem. Ser amado é ser ajudado a crescer, ao ritmo de cada um, fazendo desabrochar as capacidades específicas, a identidade “escondida” que o percurso dos anos irá preenchendo e construindo.

Libertar na criança a sua identidade não é uma tarefa fácil, mas é essa a missão dos adultos; serem os facilitadores do crescimento das crianças e não apenas os prestadores de respostas de conforto, alimentação e higiene.

Uma criança não é um boneco, que se exibe como um troféu. Muito bem vestido, lavado e cheiroso, mas que por sua conta, destrói o que o rodeia, não conhece regras nem limites. Activas, curiosas, as crianças têm de ser protegidas de riscos, porque a sua imaturidade assim o exige. Mas, para se crescer com saúde e sobretudo, quando se quer ajudar uma criança a crescer de forma equilibrada, os adultos têm de ser mais do que os cuidadores e os vigilantes do comportamento das crianças. Têm de manter uma relação pessoal, íntima, que facilite a descoberta do mundo, com ajudas concretas: a história contada ao colo, as explicações simples diante das flores do jardim, as tarefas partilhadas à volta da confecção de um bolo, são momentos únicos que criam laços invisíveis por onde passam o amor e o tempo que a criança precisa para crescer. Quando uma mãe ou um pai diz: “Já sabes comer a sopa, não precisas de ajuda!” liberta o filho e reforça a sua autonomia. Mas, se essa mãe ou esse pai estão cansados e, ao contrário dizem “dá cá a colher, porque a mãe está com pressa!”, é um retrocesso nessa aprendizagem, um passo atrás na capacidade já adquirida, por conveniência do adulto. Os pais estão por vezes mais preocupados consigo e alguns desejam ter filhos, não para os ajudar a ser pessoas, mas para satisfazer a sua própria necessidade de afirmação social. O que diriam os outros se não “tivessem filhos”?

A relação parental faz crescer a criança e transforma o adulto. Ser um colo, torna o pai mais protector; dar um beijo, faz uma carrancuda sorrir; responder a uma dúvida, aumenta a segurança e pode ser o princípio de uma importante conversa entre pais e filhos. Dificilmente se pode dar o que uma criança precisa e continuar a manter inalterados os hábitos de vida do adulto. Um homem que quer ser pai, mas não altera o seu quotidiano e não participa nas tarefas domésticas ou no cuidado às crianças, que nunca se levanta de noite para acalmar um filho com pesadelos e dificilmente pega nele ao colo para o sossegar, assume-se como um genitor mais do que como um pai.

Uma criança precisa de espaço para crescer e isso significa atenção, o mesmo é dizer, exige muito tempo aos adultos. Infelizmente ainda temos de recordar a carta dos direitos da criança porque, aqui e em muitos lugares do mundo, os adultos esquecem que não basta desejar ter um filho é preciso desejar ser pai ou ser mãe.

(publicado no Açoriano Oriental de 2 de Junho 2008)

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