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SentirAilha

Viva! Este é um espaço de encontro, interconhecimento e partilha. Sentir a ilha que cada um é, no mar de liberdade que todos une e separa... Piedade Lalanda

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Viva! Este é um espaço de encontro, interconhecimento e partilha. Sentir a ilha que cada um é, no mar de liberdade que todos une e separa... Piedade Lalanda

Binge drinking

"Binge drinking" é a expressão utilizada para descrever o consumo excessivo de álcool que corresponde à ingestão de cinco ou mais bebidas alcoólicas num único dia ou momento. Habitualmente ao fim-de-semana, este tipo de consumidor, maioritariamente jovem, procura um efeito de embriaguez ou “pedrada” rápida.

De acordo com o Inquérito Nacional ao Consumo de Substâncias Psicoactivas na População Geral, com dados de 2007, 48,3% dos jovens entre os 15 e os 24 anos tinham tido um consumo de 4 a 6 bebidas numa só ocasião, pelo menos uma vez no último ano.

Questionados sobre esse tipo de consumo intenso de fim-de-semana, cerca de 20% dos jovens não via qualquer risco associado. Este é sem dúvida um dos graves problemas do abuso de bebidas alcoólicas, abordado no Plano Nacional para a Redução dos Problemas Ligados ao Álcool recentemente divulgado e que deverá vigorar no quadriénio 2009 a 2012.

Combater o consumo excessivo, informar o consumidor dos efeitos negativos nos rótulos das bebidas, como actualmente acontece com o tabaco, e aumentar a idade mínima de venda de bebidas alcoólicas, de 16 para os 18 anos, são algumas das vinte e cinco medidas propostas pelo Instituto das Drogas e Toxicodependência (IDT), autor do referido Plano.

A concretizar-se a alteração da idade limite de venda, Portugal assumiria um regime idêntico ao de muitos países europeus. No entanto, como também refere o Plano proposto pelo IDT, é fundamental que as medidas que visam regular a venda e o consumo de bebidas alcoólicas sejam objecto de uma fiscalização atempada e apertada.

Limitar a idade de venda, por si só, não afecta a idade de início do consumo.

Dados publicados sobre o consumo dos adolescentes revelam que a iniciação ao álcool é muito precoce em Portugal, ocorre entre os onze e os treze anos. Ao contrário do que se poderia pensar, este fenómeno também se regista noutros países, incluindo aqueles onde a idade limite é de 18 ou até os 20 anos, como acontece na Suécia ou na Islândia.

De acordo com afirmações do Comissário Europeu para a Saúde, Markos Kyprianou, o importante é respeitar a lei vigente, referindo inclusive que, sendo desejável que toda a União Europeia limite a venda aos 18 anos, devemos avaliar o impacto da definição de uma idade mínima na regulação do consumo de bebidas alcoólicas.

Uma das acções prioritárias no combate ao consumo excessivo de álcool deverá ser reduzir esse tipo de consumo por adolescentes, com idades abaixo do limite.

Quem controla o consumo de cervejas, shots e outras bebidas, em bailes, arraiais e outros convívios, incluindo os familiares e entre amigos?

Com que frequência os vendedores solicitam o bilhete de identidade perante consumidores adolescentes?

Que sentido de responsabilidade têm os amigos mais velhos, quando “impõem” o consumo excessivo como ritual social, “se não bebes não és dos nossos”?

Infelizmente, essas “pedradas rápidas” que muitos adolescentes associam a divertimento, dão lugar a situações graves de coma etílico e, a ida ao baile ou à festa termina, muitas vezes, numa urgência de Hospital.

Não se combate o consumo excessivo de álcool apenas com repressão.

É crucial que todos nós assumamos uma atitude diferente na forma de lidar com este fenómeno.

Os adolescentes deveriam reconhecer, para além do facto de estarem num período importante de crescimento e maturação, que o divertimento não vem de quatro ou cinco copos tomados numa saída de fim-de-semana (binge drinking), mas depende da energia e da alegria que vêm de dentro e que cada um imprime à vida.

(Publicado no Açoriano Oriental de 23 Fevereiro 2009)

Ser professor

No passado, o professor era tratado por mestre.

Mestre porque, tal como em outras profissões, era considerado por dominar um saber, ser detentor de um conhecimento e ter a arte de o saber transmitir, explicar. São os aprendizes quem melhor reconhece o mestre. Aspirando um dia ser como ele, bebem as suas palavras em busca dos segredos, das fórmulas ou dos pormenores que só a experiência pode ensinar.

Quando recordamos os tempos de escola, dificilmente recordamos os professores que apenas cumpriram, que nos ensinaram o que os livros já nos diziam ou que se limitaram a repetir o que outros sabiamente descobriram.

Quando recordamos os tempos em que passamos pelos bancos da escola, desde os primeiros aos últimos anos, vem-nos à memória os mestres, aqueles professores que nos ensinaram a ser e nos motivaram a querer mais.

Lembramos algumas daquelas mensagens, escritas a vermelho no final dos testes ou dos exercícios. Pequenos recados que alertavam para os erros cometidos, mas que também podiam elogiar as capacidades, incentivando a não desistir. “Bom trabalho, Excelente, Estás no caminho certo”.

Os professores que deixam marcas na vida dos alunos são os mestres. Alguns foram de tal maneira decisivos, que a eles muitos alunos devem a continuidade dos estudos ou a orientação profissional ou científica que acabaram por escolher. Não é só o saber que perdura na vida dos alunos.

Da permanência na escola não ficam só conhecimentos, traduzidos em notas ou resultados. O que fica da relação com o professor é o sentimento de descoberta de si, do que se é capaz ou do que se deseja fazer. Os professores que marcam os percursos de vida, são aqueles que conseguem converter o aluno que, logo no início do ano, começou por dizer que não gostava nada da sua disciplina e, no final, é um dos melhores da turma.

Para ensinar é preciso primeiro cativar. Para se fazer ouvir, é preciso criar espaço para a escuta. Não bastam os materiais, os suportes informáticos ou os esquemas bem pensados. Se os alunos não sintonizam com os professores, os conteúdos, mesmo apresentados de forma dinâmica, tornam-se desinteressantes.

O professor que não liga a turma ao saber que pretende ensinar, até pode ter alunos calados, presentes, mas certamente que muitos deles estarão mentalmente ausentes. Afinal, comunicar implica interagir. E, quantas vezes as melhores aulas são aquelas que nascem da participação dos alunos, que experimentam o professor com questões difíceis ou até embaraçosas.

Os professores deveriam todos ser mestres na arte de ensinar, transmitir e cativar.

O mestre domina uma área do saber e, por isso, consegue explicar ou traduzir, de forma simples e até fácil, a fórmula matemática mais complexa, o pensamento mais elaborado.

Há muitos mestres que apenas conseguem comunicar pela escrita. São autores de referência que nunca deram aulas, que nunca se confrontaram com uma turma irrequieta, de adolescentes desatentos, que escondem o telemóvel ou rabiscam recadinhos.

Ser professor é um desafio, nem sempre fácil. Mas, tal como no passado, continua a ser uma arte. Os mestres de hoje, tal como os de ontem, ficarão na memória dos alunos.

(publicado no Açoriano Oriental de 16 Fevereiro 2009)

Classificadas

Abro o jornal na página dos Classificados.

Percorro as pequenas notícias ou anúncios agrupados por temas: Emprego, Habitações, Terrenos, Motas.

Detenho-me numa categoria, que reúne a grande maioria dos pequenos anúncios. O título parece interessante, “Relax”. Quantos de nós não desejamos, ao fim de um dia de trabalho, um tempo de relaxamento, descomprometido.

Rapidamente me apercebo do tipo de relaxamento que oferecem esses anúncios. São serviços sexuais, prestados por mulheres que se assumem como lindas, morenas, irresistíveis. Algumas acrescentam pormenores, olhos verdes, loiras, altas e até, há quem registe o seu peso, para que não fiquem dúvidas quanto à elegância. Claro que não faltam os atributos sexuais, em alguns jornais demonstrados por fotografia.

Bastaria ler as palavras a bold para ver como se vende sexo num anúncio de jornal: um nome com sotaque estrangeiro, Kessia, Cris, Mary ou Kika; uma promessa de novidade ou até a referência a um estatuto académico, universitária, estudante; por vezes a idade e, sobretudo, um número de telemóvel, compõem o texto de três ou quatro linhas, pago à letra. Relax, categoria por ventura criada para disfarçar o conteúdo real destes anúncios: prostituição ao domicílio.Em muitos deles pode ler-se que a oferta dos serviços inclui deslocações para hotéis ou apartamentos privados, vinte e quatro horas por dia.

A quantidade de anúncios que oferecem estes serviços sexuais faz-nos pensar que se estas mulheres, e por vezes também alguns homens, recorrem a este expediente para ganhar a vida ou ganhar uns extras para viver melhor, é porque o negócio é rentável; não faltam clientes, ou se quisermos não falta quem compre.

A prostituição, segundo alguns considerada a mais velha profissão do mundo, existe porque as relações de muitos casais são desequilibradas, onde ninguém se respeita, onde os filhos são acontecimentos e a sexualidade uma obrigação sem prazer, sem intimidade e carinho.

Mais homens do que mulheres, a fazer fé no número de anúncios dos jornais, sentem-se no direito de compensar essas vidas familiares, desinteressantes ou desinteressadas, recorrendo à compra de uma fantasia, quantas vezes sem medir o risco que tal aventura acarreta.

A prostituição, individual ou em grupo, preenche um lugar deixado vago pela ausência de amor, pela falta de atenção diária e pela rotina que desgasta as relações.

Classificadas, algumas destas mulheres dizem-se com vidas duplas, casadas mas com vontade de trair, licenciadas mas sem trabalho permanente, estudantes sem dinheiro para as propinas. Vendem o corpo ou alguns dos seus atributos, em três ou quatro linhas de texto.

Releio estes pequenos textos, construídos de forma a espicaçar a vontade dos clientes.

Em cada anúncio, imagino uma história que se esconde, quem sabe marcada por desgostos e desilusões.

Em cada história, um percurso de sofrimento, onde não devem faltar relações agressivas, maus-tratos e humilhações. Em cada nome, uma identidade falsa que esconde uma vida onde falhou o amor e se perdeu o respeito.

Em cada anúncio, a confissão de uma derrota; as necessidades reais ou supérfluas, falaram mais alto do que a dignidade humana, do que o respeito próprio.

(publicado no Açoriano Oriental de 9 Fevereiro 2009)

Crise global

Crise, do grego krísis, significa, de acordo com José Pedro Machado no Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, "acto ou faculdade de distinguir; acto de escolher, escolha, eleição; acto de separar, dissentimento, contestação; acto de decidir; decisão, julgamento (de uma questão, de uma dúvida); julgamento de luta, de concurso; o que resolve qualquer coisa, solução, decisão, resultado (de guerra); fase decisiva de doença”.

De acordo com os sinónimos referidos, a crise é sempre uma experiência de dúvida, não isenta de sofrimento, que se revela necessária quando se está perante uma escolha, a necessidade de proferir um juízo ou enfrentar uma dificuldade.

As crises correspondem, no percurso de vida das pessoas ou das sociedades, a momentos de transição que obrigam e exigem uma reflexão profunda sobre o caminho até então percorrido e uma avaliação do estilo de vida e das opções estruturantes que marcam e constroem esse percurso.

As crises não são um fenómeno recente, sempre ocorreram em todos os tempos, porque são necessárias em processos de crescimento e de mudança dando corpo aos ciclos, nomeadamente os económicos. A este nível, outras crises, profundas e dramáticas como a actual, ocorreram nos últimos dois séculos, com especial ênfase para as consequências da crise de 1929, a Grande Depressão. Talvez o que diferencia esta crise económica das outras é o facto de ser globalizada, vivida à escala mundial.

Se, por um lado, a globalização aproxima os povos e os governos e, em certa medida, contribui para congregar os responsáveis e os cidadãos em torno de causas comuns e mundiais, como é o caso da defesa do ambiente, por outro, quando ocorre a falência de referências económicas e financeiras das grandes potências, com investimentos em várias partes do mundo, os mesmos canais, que serviram para ligar, difundem os impactos negativos.

De alguma forma a crise é uma prova de fogo que atesta da solidez e da resistência dos indivíduos, das empresas ou dos governos, perante alterações do contexto.

Afinal, como diz o povo, é na hora da aflição que se consegue avaliar quem são os nossos verdadeiros amigos. E, de algum modo, também é nos momentos de crise que se atesta quem realmente construiu a casa com bons alicerces e materiais duradoiros.

Confrontados hoje com as alterações exigidas para enfrentar as dificuldades do momento presente, vem-nos à memória a velha história infantil dos três porquinhos. O primeiro, não quis perder tempo com a construção da casa e resolveu o seu problema falsificando a estrutura; o segundo investiu no lazer e no divertimento e descurou as estruturas básicas e a garantia de sobrevivência. Somente o terceiro, mais velho, ponderado e reflectido, investiu tempo e esforço na construção de um edifício que resistisse às intempestivas do “lobo”. No final, moral da história, os mais novos abrigaram-se na casa do irmão mais velho.

Infelizmente, há quem ainda não acredite numa cultura de prevenção, preferindo alimentar as aparências e, como diz o povo, dando passos maiores do que as pernas.

Em momentos de crise, importa rever escolhas e por ventura corrigir percursos, e aproveitar este tempo de incertezas para perspectivar um futuro melhor.

(publicado no Açoriano Oriental de 2 de Fevereiro 2009).

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