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SentirAilha

Viva! Este é um espaço de encontro, interconhecimento e partilha. Sentir a ilha que cada um é, no mar de liberdade que todos une e separa... Piedade Lalanda

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Viva! Este é um espaço de encontro, interconhecimento e partilha. Sentir a ilha que cada um é, no mar de liberdade que todos une e separa... Piedade Lalanda

Liberdade e responsabilidade

 

 Portugal conhece e experimenta há trinta e cinco anos o gosto da liberdade, o poder da participação e a necessidade de desenvolvimento, durante demasiado tempo limitadas.

A liberdade cria espaço interior, solta as amarras do medo e revoga o princípio que associava a felicidade à ignorância. “Mais vale não saber”, “mais vale não conhecer. Assim sofre-se menos”.

Como podia um país crescer quando a escola não era para todos? Como podia o país enriquecer quando amealhar significava guardar as economias debaixo do colchão ou emigrar para outras terras, mesmo que isso significasse trabalho pouco qualificado?

Eram outros tempos, onde a desigualdade social era uma característica inerente à relação entre géneros, gerações e estratos sociais. Perante as dificuldades, caberia aqueles que tivessem mais estudos, mais dinheiro e mais poder, encontrar a solução, nem que esta fosse marcadamente injusta e exigisse um esforço acrescido dos mais fragilizados.

Os tempos que correm são marcadamente difíceis para muitos. No entanto, longe vão os tempos em que dependeria das decisões de um qualquer messias político a solução para os actuais problemas das famílias e das empresas. Hoje essa responsabilidade é de todos. A liberdade que ganhamos com a democracia exige de todos um sentido de responsabilidade, a começar na forma como lidamos com as situações de dificuldade quotidianas.

Esperar que a crise se dissolva como um nó nas mãos de um experiente economista ou decisor, sem aproveitar para rever o caminho que percorremos é recusar admitir que erramos sempre que não apostamos na escolarização dos nossos filhos; é não querer assumir falta de visão quando não se investe na formação e qualificação profissional; e não reconhecer como errada e votada ao insucesso a estratégia que prefere a quantidade à qualidade.

Vivemos em democracia há 35 anos, no entanto, por vezes parece que não mudamos traços do passado, que nos fizeram subservientes e acomodados a vidas remediadas e simplórias, num país onde o analfabetismo não chocava, o ensino profissional era uma miragem e a qualidade um atributo raro.

Hoje, dificilmente aceitamos esse quadro que nos impediu de crescer. Mas, ao que parece, alguns ainda não compreenderam que a liberdade ou as liberdades que o regime democrático trouxe a este país são exigências de responsabilidade, são imperativos de cidadania que envolvem todos e cada um. Não depende apenas do poder instituído a resolução das nossas maiores dificuldades, não depende do carácter obrigatório, a escolarização dos nossos filhos, nem pode ser apenas um cumprir de calendário a formação que se exige de cada pessoa, para que se possa apostar na melhoria da qualidade do serviço que presta.

Infelizmente, ainda agora se ouvem vozes, entre as quais a de jovens que nasceram no pós 74, que recuperam a figura de um qualquer Salazar como salvador da crise, como terá questionado um jovem açoriano na sessão do Parlamento Jovem que decorreu na Assembleia da República.

Por ventura incapaz de reconhecer a sua própria responsabilidade, quem apela ao regresso de um ditador só pode ser alguém que não foi ensinado ou não aprendeu a ser responsável, a ser autónomo e a saber lutar pelos seus direitos, mas sobretudo, pela sua quota parte de participação activa na construção do futuro de todos.

(publicado no Açoriano Oriental de 27 Abril 2009)

Consolidar ou a arte de lidar com a crise

 

Há palavras que são verdadeiros tratados de conteúdo filosófico. Consolidar é bem um exemplo.
Aparentemente o que é sólido não carece de nenhum efeito de coesão ou agregação de parcelas. Mas, quando pensamos em organizações humanas, a solidez é sempre fruto da articulação e cooperação de diferentes núcleos ou dimensões. Carece de regulação para existir como um todo; carece de comunicação para não se desagregar e ser vítima de rupturas.
A coesão de um grupo ou o equilíbrio de um cidadão passam pela forma como se conjugam as suas várias dimensões ou elementos.
Consolidar é reforçar os laços que unem as pessoas ou interligam as várias vertentes de uma vida. Consolidar é viver na procura do equilíbrio e ter a capacidade de cooperar e comunicar. A coesão é um processo de consolidação permanente.
Numa família, numa organização ou na vida de uma pessoa, estão sempre a aparecer motivos, influências que podem corromper ou corroer os laços que são a estrutura que lhes dá forma. Pequenas dificuldades transformam-se em grandes crises que destroem um todo, que se julgava sólido, coeso.
As rupturas são sempre compromissos anulados ou esquecidos. Porque são os compromissos respeitados que garantem a consolidação e permitem enfrentar os tempos mais difíceis. Diriam os nossos antepassados que são compromissos de honra, palavras dadas. Hoje falamos de contratos, acordos, créditos bancários, dívidas por consumo.
Quem vive ao sabor do prazer. Quem faz questão de decidir hoje, sem pensar o que fez ontem ou como vai ser amanhã, não se aguenta em situação de crise.
Apetece-me, não custa nada pagar 50 euros por mês e levo a mobília nova para a sala. Passados poucos meses, é a máquina de roupa que estoira e um novo compromisso é aceite. São só 30 euros por mês, não custa nada; ao fim de dois anos fica paga. Mas, a partir de então, já são oitenta, para não falar das prestações do carro e da casa.
Em cada decisão, supostamente sólida, pensada ou não, falta um sentido global, uma atenção aos vários compromissos, ou seja uma visão consolidada. Afinal, tudo somado, não é assim tão fácil pagar. Tudo somado pesa, sobretudo quando ocorrem imprevistos: uma doença que exige despesas extraordinárias, a subida dos preços do consumo.
Por não terem pensado as dívidas de forma consolidada, alguns cidadãos, nomeadamente aqueles que os economistas classificam de classe média, com emprego e nível académico acima da média, acabam por se transformar em casos de risco. Risco de pobreza, dificuldade e falência, com várias dívidas que não conseguem controlar. Incapazes de alterar hábitos adquiridos, tornam-se reféns das dívidas que contraíram para manter as aparências.
Não são pobres apenas aqueles que têm fracos rendimentos, mas também aqueles que podendo viver uma vida calma, constroem uma falsa aparência, feita de consumos que não podem suportar, baseada numa esperança de melhoria, que não têm a certeza de acontecer.
Consolidar é coordenar acções, procurar o equilíbrio, saber juntar elementos novos ao que já se possui e acreditar no futuro, mesmo quando o presente não é favorável.
(publicado no Açoriano Oriental de 13 de Abril 2009)

Haja saúde!

Diz o povo que mais vale prevenir do que remediar. Só que em matéria de saúde, o mais frequente é esperar para ver e viver despreocupado até surgirem os sintomas da doença.

Há mesmo quem cuide melhor do automóvel do que de si mesmo.

Sempre atento às datas para mudar o óleo, preocupado com a manutenção do motor e o controlo da pressão dos pneus, desvaloriza a vigilância periódica do seu corpo e não parece preocupado quando surgem sinais de alerta nas análises clínicas ou nos valores da pressão arterial.

A saúde é um bem precioso, todos concordam, mas muitos preferem testar o grau de resistência do seu corpo e da sua mente, insistindo vezes sem conta em comportamentos de risco. Quem assim vive, apressa-se a dizer que conhece um velhote, que sempre fumou, bebeu e comeu o que quis e viveu até aos cem anos. Um velhote entre milhares, que entretanto já faleceram; um ser por ventura excepcional, que resistiu às agressões de uma alimentação desequilibrada e aos tóxicos do álcool ou do tabaco.

A saúde não se compra na farmácia. No entanto, não falta quem se vanglorie do número de comprimidos que toma por dia e se sinta de consciência tranquila por estar a cuidar da sua saúde. A saúde passa cada vez mais pela forma como comemos e os alimentos que escolhemos; depende do exercício físico que fazemos ou deixamos de fazer, pela qualidade do ar que respiramos e pela forma como gerimos o espaço onde vivemos.

Sempre que alguém faz compras num qualquer supermercado ou mercearia de bairro, o que escolhe? Se tiver dois euros para gastar, compra fruta ou bolachas; compra couves ou comida enlatada; compra feijão ou aperitivos? A saúde também depende das escolhas que fazemos quando, ao fim-de-semana, preferimos nos abandonar no sofá e adormecer com o comando de televisão na mão, em vez de aproveitar o sol, passeando à beira-mar ou num qualquer jardim público.

Podemos prevenir e não apenas remediar, mas tal como acontece com o automóvel, que nos apressamos a levar ao mecânico, também o nosso corpo depende do modo como o conduzimos. Uma má condução também danifica a viatura e mesmo fazendo uma vigilância cuidada, de pouco adiantarão as medidas de reparação, se entretanto tivermos danificado a estrutura da máquina.

Podemos ser mais saudáveis, mas isso depende mais do modo como decidimos viver do que dos remédios que tomamos. Não esqueçamos que a saúde é um estado de bem-estar e equilíbrio. Um bem-estar físico mas também psíquico. Um equilíbrio instável que exige uma atenção permanente.

Hoje em dia, não faltam livros que pretendem ensinar a viver com saúde. Abundam os títulos sobre como atingir o bem-estar, viver com optimismo, manter a saúde depois dos 50, viver sem stress e descobrir o segredo da felicidade. Todos ou quase, repetem o mesmo: procure o equilíbrio, evite os exageros; acredite em si e será feliz; acredite no amor e não sofra por antecipação; reconcilie-se com a natureza e viverá em paz. Frases feitas que pouco acrescentam à máxima tradicional, mais vale prevenir do que remediar; mais vale viver hoje com saúde do que arriscar adoecer amanhã.

(publicado no Açoriano Oriental de 6 de Abril 2009)

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