O comportamento abstencionista do povo português, particularmente nos Açores no último acto eleitoral, expressa uma falta de sentido de responsabilidade. Ser responsável é assumir a obrigação sem ser obrigado, agir em função do que se acredita e ter consciência de que o bem comum também depende da minha participação.
Passando ao lado da mesa de voto, os abstencionistas, indiferentes, fizeram com que apenas um terço dos cidadãos portugueses definisse os resultados eleitorais.
Quando uma sociedade de adultos se demite de participar, o que espera dos seus jovens? Que modelo de cidadania se transmite com a abstenção? Recordemos que entre as eleições europeias de 2004 e as que ocorreram neste ano de 2009, o número de cidadãos inscritos nos cadernos eleitorais aumentou nos Açores 19,3%, sobretudo jovens que atingiram a maioridade. Quase tantos como os que votaram a 7 de Junho de 2009, 21,7%.
A abstenção num acto eleitoral não é sinónimo de descontentamento, posição activa que se pode ler na duplicação de votos em branco ou nulos.
A abstenção, tal como as faltas não justificadas, reflecte desinteresse, indiferença, alienação e delegação da responsabilidade, apesar de para muitos ser apenas a consequência de um “esquecimento”.
Dificilmente Portugal ganha força no contexto europeu com níveis tão elevados de abstenção.
Mas porque motivos os cidadãos preferiram não votar nas Europeias?
A abstenção pode ser sintoma de falta de acesso à informação ou recusa de uma mensagem desajustada e pouco pedagógica. Afinal qual é a relação do cidadão com a Europa? Que influência podem ter as decisões do Parlamento Europeu na vida de todos os dias?
Mas se no Direito, a ignorância da lei não é justificação para o seu incumprimento, nas sociedades democráticas actuais a falta de informação é cada vez menos uma justificação credível, quando bastaria um clique no comando do televisor ou a escolha de uma página na internet, para ter acesso a alguma dessa informação.
Continuamos a ser um país pequeno, que se acomoda à dificuldade e nela se inspira para cantar o fado. Um país onde é necessário incentivar o empreendedorismo, que naturalmente se assumiu nos tempos da expansão portuguesa ou que os emigrantes experimentam além fronteiras sem apoios especiais.
Podemos fazer melhor. Não será certamente mudando de povo, como diriam alguns, mas aumentando a nossa consciência cívica, em defesa do bem comum. Nem é esperando do Estado a resposta para todos os nossos problemas, mas aprendendo com as dificuldades que conseguiremos resistir e ultrapassar os efeitos da crise que o País atravessa.
Se não controlarmos o nosso próprio destino, fazendo opções no momento próprio, alguém o fará por nós.
Hoje, mais do que nunca, e no quadro do ciclo eleitoral que atravessamos faz sentido citar Michael Jordan quando afirmou “uns querem que algo aconteça, outros desejam que pudesse acontecer, outros, ainda, fazem com que aconteça”. Em que categoria julga estar?
(Publicado no Açoriano Oriental de 15 de Junho 2009)