O medo de não ser importante
No fundo, todos tememos não ser importantes e isso não significa que queiramos ficar na história, basta que sejamos reconhecidos pelos que nos rodeiam.
O receio de não ser notado por ninguém é evidente em algumas pessoas, exageradamente preocupadas com a aparência, que fazem questão de ser suficientemente apelativa para merecer um comentário, uma foto, uma apreciação elogiosa.
Outros põem-se, literalmente, nos bicos dos pés para serem notados, não vá acontecer o chefe não os ver na festa ou o patrão não reconhecer a forma diligente com que desempenham as suas obrigações.
Se uns procuram exorcizar este medo, citando, a torto e a direito, pessoas importantes que dizem conhecer, com quem supostamente já tiveram contacto. Outros usam e abusam da sua própria história de vida, como demonstração do prestígio que pretendem assegurar. Eu fiz, quando eu era e tinha; porque já liderei esse grupo e fui membro daquela associação; no tempo em que ocupava o cargo de ou tinha à minha responsabilidade tarefas importantes como. Um rol de atributos que se recordam entre cada duas frases, procurando, desta forma validar o presente, que até pode não ser muito risonho.
Temos medo de passar desapercebidos e isso vê-se no discurso dos que nunca admitem falhas, nem reconhecem razão a quem consideram como adversários ou opositores. Antes mesmo de falarem já se puseram em andas.
Afinal o mundo para estes é sempre visto de cima, um sentimento que, segundo dizem as sondagens, leva muitos consumidores a adquirirem jipes e outro tipo de carros com estrutura elevada.
Quem faz depender a sua importância da altura do pedestal onde vive instalado, desconhece o que realmente faz uma pessoa ser grande. Não se mede pelo tamanho do currículo ou pela carteira de contactos, não é proporcional à intensidade com que se gritam razões ou se agride o adversário, mas depende da fé com que se afirmam convicções e da dignidade que se imprime ao comportamento e torna essa pessoa num ser especial, único, sem que para isso necessite de humilhar os outros ou apontar a sua pequenez, do alto das suas andas.
Quando alguém quer ser importante à custa de andas, corre um sério risco de cair no meio do seu orgulho e desfazer, em ridículo, essa imagem de superioridade.
Querer ser importante aos olhos dos outros não é negativo, mas ao contrário do que alguns julgam, não depende do valor que alguém diz ter, mas da importância que atribui aos outros.
Uma pessoa é tão mais importante quanto mais, à sua volta, ninguém se sentir dispensável, prescindível ou insignificante.
Quem tem medo de não ser importante, o mais certo é não o ser.
(publicado no Açoriano Oriental a 20 Setembro 2010).