Eutrofização das lagoas, um velho problema.
A eutrofização das Lagoas, particularmente nas Sete Cidades e nas Furnas, é um velho problema, agravado, em grande parte, pelo recurso intensivo à adubação química das terras envolventes, que substituiu práticas tradicionais mais amigas do ambiente, que não prejudicavam aqueles ecossistemas.
Aos poucos, de forma silenciosa, foi-se alterando o equilíbrio natural, entre plantas, animais e qualidade da água. Sem nos darmos conta, usando e abusando de uma paisagem que todos reconhecemos como ícones dos Açores, deixamos que os químicos usados nas pastagens e outros resíduos, produzidos pelo campismo selvagem e a falta de civismo, destruíssem o que todos, agora, queremos defender.
A defesa do ambiente não se faz com slogans de campanha e acusações, não fundamentadas, de que “não se fez nada, estão a matar as lagoas”. É antes o resultado de boas práticas, exige muito estudo e produção de conhecimentos que não se compadecem com acções de cosmética.
É preciso ter coragem para ser e fazer a diferença.
E não se podem provocar diferenças, mudanças significativas, sem muito trabalho, esforço e, sobretudo, se não se combater a política e os políticos das aparências, que tudo aceitam “desde que não se veja”.
Combater a eutrofização não é acabar com o mau aspecto das lagoas, mas assegurar uma intervenção que actue nas causas estruturais e garanta um futuro melhor, em termos naturais, sociais e económicos. Entre comentários de café ou nas redes sociais, as vozes do povo exigem resultados! Mas quantos desses conhecem o trabalho que está sendo desenvolvido no combate à eutrofização? Quantos estão informados sobre este fenómeno, que afecta as lagoas, pelo menos, há mais de vinte anos?
Felizmente a investigação nestes domínios do ambiente democratizou-se e hoje, qualquer cidadão tem acesso a dados, em espaços preparados para o receber como é o Centro Interpretativo da Lagoa das Furnas. O empenho, entusiasmo e, sobretudo, a motivação do grupo de pessoas que ali trabalha, no terreno, devem ser acarinhados. O trabalho que se desenvolve nesse centro merece uma visita e, para os mais disponíveis, pode representar uma oportunidade de colaboração como voluntários.
O ambiente não é sinónimo de limpeza mas de equilíbrio. E nesse domínio, são muitos os factores que para tal concorrem. No caso das Lagoas, está provado que a lavoura intensiva, a adubação desregrada, as espécies infestantes, a falta de civismo e a poluição que algumas actividades humanas provocam, são lesivas do ecossistema natural que constitui uma lagoa.
Combater a eutrofização é intervir a médio e longo prazo, em todas essas vertentes, desde a redução dos nutrientes que afluem à Lagoa, à reflorestação e ao controlo das actividades humanas, informando, estimulando a observação e criando condições para que todos reencontrem a paz no contacto com a natureza. Reequilibrar um ecossistema não se faz de imediato, até porque levamos décadas a destruir e a esquecer.
Ser amigo da sua terra, defender as lagoas de São Miguel, exige um protesto, sim! Não porque ocorreu um “bloom algal”, que está sendo estudado e monitorizado, mas contra todas as práticas humanas que prejudicam esses ecossistemas.
(publicado no Açoriano Oriental de 29 de Agosto 2011)