Sensibilidade social
Esta é uma qualidade que hoje se reclama aos políticos e às políticas, sobretudo quando se pretende investir no desenvolvimento e na melhoria da qualidade de vida das populações.
Mas será que ter sensibilidade social é uma virtude ideológica ou um dom inato que apenas alguns possuem?
A sensibilidade é uma consequência directa da compreensão. Quem não compreende não pode ser sensível, porque não é permeável às dificuldades dos outros e dificilmente consegue entender que todo o comportamento, decisão ou opinião só faz sentido quando é contextualizado, tendo em conta o tempo e o espaço, a história e as circunstâncias.
Um político com sensibilidade social compreende a realidade, desde logo, porque valoriza as pessoas, antes do dinheiro; considera os valores culturais, a identidade, os direitos humanos, mais do que mercantilização dos bens ou o património; preocupa-se com as causas, em vez de investir no disfarce das consequências.
Vivemos tempos difíceis. Mas o modo como o governo da República tem anunciado o corte nas despesas revela uma total insensibilidade social, o mesmo é dizer uma não compreensão das realidades que pretende “emagrecer”.
Não faltam exemplos. Mas citemos apenas os mais recentes, que irão afectar o nível de saúde dos portugueses.
Pretende-se poupar dificultando o acesso aos contraceptivos hormonais, a pílula, sendo este o método mais utilizado pelas mulheres portuguesas, depois de décadas de atraso e ignorância em matéria de fecundidade e contracepção?
Pretende-se ainda poupar à custa da redução do número de transplantes, comprometendo as vidas de todos aqueles que aguardam a doação de órgãos e não têm meios para recorrer ao estrangeiro?
Onde está a sensibilidade social deste governo?
Sensibilidade e compreensão são duas realidades que se ligam e se alimentam mutuamente. Quem aprofunda a compreensão, torna esclarecida a sua sensibilidade e assim, melhora a sua capacidade de entendimento e de empatia com a realidade.
Ser sensível em termos sociais é defender um estado social, que dá prioridade ao investimento na educação, saúde e protecção social, e cria condições de desenvolvimento e progresso. Aliás, o actual ministro das finanças reconheceu a importância deste investimento num recente encontro da JSD, quando afirmou que esta geração de jovens é a mais bem preparada dos últimos tempos e que, por isso, deve estar agradecida ao Estado Social. Só faltou dizer, e ao governo anterior.
Infelizmente, se esta geração beneficiou e hoje tem aspirações maiores, as próximas correm o risco de viver pior que os seus avós.
Decidir com sensibilidade social, exige considerar as pessoas antes do dinheiro e defender os direitos humanos primeiro do que os interesses económicos.
Infelizmente, o que o país tem visto e ouvido, nos últimos tempos, é um governo que monda os canteiros, arrancando as flores. Que país vamos ser, ou poder ser, depois de pagas as dívidas e estabilizadas as contas?
Quando falha a compreensão, perde-se o bom senso e apenas se decide no curto prazo, sem ambição ou visão de futuro, sem sensibilidade social.
(publicado no Açoriano Oriental de 12 setembro de 2011)