Autoridade com responsabilidade
Não há autoridade sem responsabilidade, ou então, estaremos a falar de autoritarismo, exercício do poder pela força, imposição de vontades.
É a responsabilidade que constrói e confere conteúdo, razão de ser à autoridade, que permite reconhecer, em alguém, o poder para mandar, orientar, ensinar ou repreender. Um reconhecimento que não é sinónimo de sujeição mas respeito, que não se baseia no medo, mas na consciência de que um direito é sempre a outra face de um dever.
Apesar de ainda haver quem pense que a autoridade, por exemplo de um polícia, está no cassetete ou que a cadeira onde o juiz se senta na sala de audiências lhe confere poder, ou ainda, que um pai que não bata nem grite com os filhos, não faz valer a sua autoridade. Na realidade, o que afirma a autoridade de alguém é o facto de esta lhe ser reconhecida, porque vive, com responsabilidade, uma determinada posição ou relação.
A autoridade está para a responsabilidade, como a verdade está para a consciência. Se quem julga ter autoridade não for responsável, ou seja, não der exemplo, não assumir os erros que comete e não tiver por isso capacidade para compreender os outros, aqueles que supostamente estão na sua alçada de poder, perde toda e qualquer autoridade. Poderá manter o poder, mas certamente que o irá exercer de forma autoritária. Diante de si, terá súbditos, pessoas que se ajoelham perante o receio das consequências, que têm medo do chefe, do professor ou do pai e que, se calhar, recordarão os tempos de infância quando lhe falavam do polícia, se não comesse a sopa.
Essa não é a autoridade de que carece o nosso país, nem mesmo as empresas, demais instituições ou até as famílias. Não é por ter mecanismos de repressão que se reforça o poder de persuadir. A persuasão é uma consequência da convicção, consegue-se pelo facto de se acreditar no que se transmite e, por essa via, se consegue levar os outros a pensar de outro modo, sejam eles cidadãos, alunos ou filhos.
A tão apregoada necessidade em mudar mentalidades é exigente e não depende da violência com que se aplicam as regras. Exige uma adesão aos valores que as suportam, ou seja, depende mais da mudança de pensamento do que das alterações aparentes do comportamento.
Um país que quer fazer crescer a economia de forma responsável, não precisa de aumentar meia hora para que se produza mais, mas antes tem de incentivar a que se qualifiquem as horas de trabalho.
A autoridade ganha-se com o reconhecimento do sentido de responsabilidade de quem a exerce. Quando se perde esse reconhecimento, fica a obediência e o medo, perde-se a esperança e o respeito, e destrói-se um valor fundamental da democracia, o direito a ter voz e a ser ouvido.
É triste ouvir algumas vozes do povo acharem que se vivia melhor quando o país estava sujeito a um ditador, apesar do analfabetismo, da revolta silenciada, da obediência cega e da ausência de direitos sociais. Porventura, quem assim fala sente-se órfão, desprotegido na sua fragilidade, incapaz de levantar a cabeça, face ao jugo das dificuldades e das imposições de austeridade.
O exercício da autoridade é exigente. Exige responsabilidade de quem a exerce.
(publicado no Açoriano Oriental, de 24 de Outubro 2011)