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SentirAilha

Viva! Este é um espaço de encontro, interconhecimento e partilha. Sentir a ilha que cada um é, no mar de liberdade que todos une e separa... Piedade Lalanda

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Viva! Este é um espaço de encontro, interconhecimento e partilha. Sentir a ilha que cada um é, no mar de liberdade que todos une e separa... Piedade Lalanda

Afetos

A palavra afetos passou a ser adjetivo, que se cola à política, à educação ou até à economia, no que esta tem de comercial e de transação.

Os afetos são sinónimo de proximidade e de personalização, são o ingrediente que humaniza, a linguagem que as pessoas entendem. Por isso, quando se ouve este termo aplicado a tantas áreas da vida pública, é porque todos reconhecem que não se atraem pessoas ou clientes sem lhes tocar, sem que pela comunicação se reconheça e dignifique o outro.

Os afetos são condutores de energia, por eles passam significados, e só nesse contexto é possível fazer-se entender.

Sem tornar a vida numa telenovela, nem lhe retirar o sentido profundo e objetivo das dificuldades e dos problemas que todos vivemos, é pela linguagem dos afetos que compreendemos as circunstâncias do outro, seja ele aluno, cliente, cidadão, eleitor ou empregado.

Não basta estar do lado da razão, ter os argumentos certos ou o poder, se não se souber partilhar ou usar esses trunfos no jogo da relação.

Razão, argumentos ou poder só fazem sentido quando reconhecidos.

A linguagem dos afetos não é para ser anunciada, usada como marketing, qual legenda de um filme estrangeiro.

É fundamental que o agente que a utiliza seja genuíno, acredite no que diz ou faz e, sobretudo, acredite no outro e o reconheça na sua integridade, sem o instrumentalizar. Agora convém dar um abraço, pegar na criança ao colo, fazer de conta que se é simpático. Logo se verá, quando a máscara cair e o teatro acabar!

Essa não é a linguagem dos afetos que humaniza, é antes uma encenação a que se recorre quando se quer fazer boa figura, seja nas relações empresariais, na sala de aula ou no discurso político.

Quem assiste a essa cena, por vezes acredita num primeiro momento, mas fica dececionado quando se apercebe que foi engodo, fogo de vista, um isco para agarrar e fazer crer.

A linguagem dos afetos, realmente, humaniza, aproxima, dignifica a relação, se for genuína, verdadeira e corresponder a uma comunicação com conteúdo, capaz de reconhecer as circunstâncias do outro, inclusive quando é necessário transformar um momento menos positivo, numa experiência de renovação e recomeço.

É bom que recordemos que nos afetos tanto cabem a simpatia como a repreensão, o elogio como a crítica. O reconhecimento do outro, quando verbalizado, não tem forçosamente de ser agradável, pode mesmo ser doloroso e até sofrido. O importante nesta linguagem é ser verdadeira e promover, de forma positiva, a construção de relações saudáveis, positivas e renovadas.

Se não tivermos presentes estes dois lados dos afetos, os que nos afagam o ego e os que nos chamam à razão e nos desafiam a corrigir e reorientar, estaremos longe do essencial. Por ventura, será uma fantasia, o tal faz-de-conta da ilusão que vende revistas e embrulha histórias, qual sorriso amarelo de vendedor desmotivado ou verniz que disfarça madeira podre.

Os afetos não são adjetivo, são conteúdo, sujeito da frase.

Se queremos reaprender a falar essa linguagem, há que ser verdadeiro e reconhecer, primeiro em si, e depois nos outros, as virtudes a potenciar e os defeitos a corrigir.

Todos sabemos falar a linguagem dos afetos, ou não seríamos pessoas, humanos! Basta não ter medo da verdade, olhar nos olhos, abrir o coração e sentir.

(texto publicado no Açoriano Oriental, 26 Janeiro 2016)

Misericórdia

O Papa Francisco inaugurou o ano da Misericórdia, abrindo uma "porta", símbolo de transição, ao mesmo tempo abertura e acolhimento.

Pelas portas se entra e sai, se procura refúgio, mas também se parte para o mundo.

De um lado o calor e o conforto, do outro, o frio e o vento.

De um lado, o mundo privado, onde se partilham alegrias e dores, lugar de abraços sentidos e atenção aos que vivem debaixo do mesmo teto. Do outro, o resto do mundo, onde cada um vive para si e passa ao lado, sabe-se lá, de quem!, anónimos cruzando caminhos, num espaço comum, que nem aos vizinhos de andar dizem bom dia.

Pela porta das nossas vidas, deixamos passar uns quantos e barramos a entrada a tantos outros. Dividimos o mundo em "nós" e "eles"; para nos sentirmos seguros, ignoramos quem não conhecemos.

Com esta simbologia da porta, o Papa Francisco mostra-nos como a misericórdia é, antes de mais, uma atitude que desinstala, derruba o comodismo e faz descobrir o mundo dos que não conhecemos, que vivem na sombra ou são rotulados de "indesejados".

Ao contrário do que habitualmente se pensa ou diz, "ter misericórdia" não significa "ter pena" ou "dó". Enquanto estas atitudes distanciam e afastam quem incomoda, a misericórdia é sinal de abertura e acolhimento.

Aliás, essa é a etimologia da palavra misericórdia. De origem latina, conjuga miseratio, que significa compaixão, e cordis, sinónimo de coração. Logo, ter misericórdia significa ter um coração compassivo.

E, ter um coração compassivo é compreender o outro, na sua dor ou alegria; reconhecer as suas dificuldades ou angústias e ser capaz de se colocar no seu lugar.

Quem não tem um coração compassivo, fecha-se em si mesmo, tranca as portas da sua vida e procura conforto nos que lhe afagam o ego e o fazem sentir importante, longe desses outros, meros estranhos, diferentes.

Ter misericórdia é abrir as portas do egoísmo e, sobretudo, do egocentrismo, que faz ver o mundo em função de nós próprios, imunes aos problemas alheios, indiferentes aos seus pontos de vista.

Ter misericórdia é deixar franquear as portas das nossas vidas, aceitar o estranho e aprender com a diferença.

Diferenças à parte, descobrir o que nos une é um ato de misericórdia.

Por isso, a misericórdia aproxima os desavindos e cimenta a construção da paz, ao mesmo tempo que promove uma consciência critica, perante as injustiças, incluindo aquelas que são justificadas por leis.

Conjugar esforços, para derrubar as barreiras da indiferença e do preconceito, é um ato de misericórdia.

Não se trata de ter pena, dó e muito menos fazer um favor ou ceder. A misericórdia é um dever de cidadania, que abre portas à diferença e torna o mundo menos desigual, menos injusto.

Nas palavras do Papa Francisco "um coração duro, arreigado à lei e à disciplina, não permite ver a misericórdia".

Um coração agarrado ao formalismo e à letra não é capaz de compaixão. Insensível, não admite opiniões contrárias e muito menos aceita falhas ou incumprimentos. Vive preso a códigos de acesso, que guardam a sua vida por detrás de fechaduras com segredo, deslumbrado com o poder que essa pretensa segurança lhe confere.

Abrir a porta da misericórdia é humanizar a lei, libertar-se das teias da indiferença e aprender a olhar o mundo, e os outros, com os olhos do coração!

(texto publicado no jornal Açoriano Oriental a 12 Janeiro 2016). 

Mudar

O começo de um novo ano pode ser um pretexto para mudar, que vale a pena aproveitar.

Um pretexto para mudar, reorganizar, limpar, deitar fora papéis e rever armários onde se acumulam roupas, objetos que há muito deixaram de nos ser úteis.

Todos reconhecemos a necessidade de mudança, quando hábitos ou estilos de vida deixaram de se adequar ao quotidiano. Mas entre reconhecer que a nossa vida não está ajustada e ser capaz de a mudar... vai um passo de gigante.

E tudo porquê?

Porque estamos presos a tudo aquilo que temos, particularmente, esses montes de objetos, roupas, papéis velhos que fomos acumulando nas gavetas e nos armários.

De todas as vezes que olhamos para eles e tentamos nos libertar de parte, acabamos por voltar a por tudo nas caixas ou nas gavetas, dizendo: não é agora, mais tarde... hoje não tenho cabeça para isto... assim como assim, esteve aqui até agora, pode ficar mais algum tempo!

E assim, continuamos a amontoar, juntando todos os dias mais papéis ou roupas, recordações ou memórias de momentos, que julgamos eternos e que acabam por ser esquecidos por um presente vivido de forma intensa.

Limpar armários, gavetas ou caixotes, que se juntam numa garagem ou num sótão, é uma tarefa que se encaixa no início de um novo ano. É começar de novo.

Deitar fora o que se acumula e que não usamos, nuns casos até pode fazer jeito a outros, mas na maioria das situações é libertar-se de lixo guardado.

E enquanto guardarmos esse lixo não conseguimos mudar nem arriscar a ser diferente... porque é o passado que nos prende, são experiências que já tivemos que nos amarram e nos impedem de vivenciar o presente. E assim ficamos, olhando agendas de há mais de dez anos e fazendo o auto-elogio do que fomos!

Vejam só o que eu já fiz? Eu realmente era....

Já não tenho idade para... antes sim! eu era capaz de ... eu fazia...

E assim, sentados no meio da tralha acumulada, incapazes de deitar fora a página do jornal que anuncia o concerto onde fomos aos 15 anos, ou aquele menu de restaurante onde festejamos um aniversário, acabamos por voltar a por tudo na caixa de cartão, impedindo que se crie espaço para uma nova etapa, um tempo novo.

Estamos a começar um novo ano e mudar implica ter espaço interior para viver novas experiências, aprender com outros, descobrir diferentes facetas da vida.

Para isso, temos de limpar o sótão das nossas vidas, das nossas casas, queimar ou rasgar papéis que de nada nos servem, mas que fomos acumulando... na esperança que um dia talvez voltassem a servir.

Está na hora de mudar, mas primeiro temos de limpar a casa.... abandonar lixo, desperdícios e reorganizar o espaço. Quem sabe ser minimalista... procurar o essencial, atender ao que realmente nos faz falta para sermos felizes.

Ir deixando atrás aquilo que não cabe na mochila da alma, e que podemos transportar em qualquer circunstância, com muito ou pouco dinheiro, com muita ou pouca saúde ou idade.

Todos sabemos que desta vida, nada nos serve quando fecharmos os olhos definitivamente, por isso, talvez fosse importante começarmos em vida a perceber onde está o essencial, vivendo com aquilo que nos pode fazer e nos faz felizes.

Lembrem-se, para mudar é preciso começar por arrumar a casa... e libertar-se do que nos prende ao passado.

Mudamos de ano... talvez fosse bom pensar em mudar um pouco as nossas vidas.

Não esperemos que o ano, novo... acabado de começar, nos mude!

O que pode mudar neste ano depende, sobretudo, de uma mudança interior, da atitude ou seja do sentido que queremos dar às nossas ações!

(texto lido no programa de Graça Moniz - entre palavras, no dia 3 Janeiro 2015).

Passagem

Já aconteceu mais uma passagem de ano!

Um tempo para olhar para trás, sem perder o rumo do que está pela frente.

Revendo o filme dos meses que passaram, relembramos bons e maus momentos, ganhos e perdas, a força de vencer e as dúvidas em conseguir, as alegrias, por vezes fugazes, e os momentos mais dolorosos que pareciam eternos. Tudo isso agora é passado, faz parte de um tempo que não volta a acontecer.

Resta o que deixamos por fazer; o que queríamos alcançar ou as tarefas que começamos mas que não tivemos coragem de terminar. Este é o tempo para repensar nas mudanças que não fomos capazes de concretizar, supostamente porque não tínhamos tempo, quando na realidade deixamos que o tempo se esgotasse.

O ano de 2015 está feito, acabou, agora há que repescar as pontas que deixamos por rematar e retomar a construção que ainda não terminamos. Vale a pena acreditar. De que serve ficar parado olhando o caminho percorrido? O tempo agora é para olhar em frente.

Um novo ano nos é dado. 366 dias para gastar! É verdade! Temos um crédito de mais 52 semanas, 8784 horas que irão se esgotar sempre que desperdiçarmos dias a nada fazer, mas que ganharão juro sempre que usarmos esse tempo para fazer os outros felizes.

Um ano passa depressa. Depressa demais, quando nos sentimos bem e aproveitamos cada minuto para descobrir os sabores da vida. E quantos sabores não se escondem no dia a dia, mesmo daqueles que estão doentes, vivem sozinhos ou com dificuldades.

Não vale a pena agarrar-se à saudade para justificar essa melancolia, esse desespero de não conseguir.

Com doze passas na mão, foi rápida a transição entre o último minuto de 2015 e o começo deste novo ano.

Está aí, 2016 chegou e é tempo para retomarmos projetos, desejos e repensarmos a forma como agimos. Não basta estar vivo, é importante sentir a vida. Não basta envelhecer é necessário crescer, amadurecer emoções que não controlamos, destruir pensamentos que nos bloqueiam e nos impedem de avançar.

Um novo ano começou e é preciso acreditar que somos capazes de mudar o mundo, mudando a nossa própria vida e a daqueles que nos rodeiam, com pequenos gestos, fazendo a diferença.

Acreditar na força do amor que temos em nós, no bem que nos torna melhores pessoas, na felicidade que sentimos quando estamos juntos. É com tudo isso que podemos e devemos enfrentar o crédito de 366 dias que nos são dados para gastar!

Façamos todos um propósito, pequenino desejo, mas sentido, a concretizar neste ano que vai começar. Por exemplo, passar a dizer "bom dia" a quem não se conhece. Isso pode fazer toda a diferença, na vida dos outros e na nossa própria vida. Ser capaz de compreender e não julgar, ser amigo, sem cobrar as ausências. São imensos os bons propósitos que podem transformar a humanidade e garantir que este ano será melhor.

Como diz Paul Simon, temos de ser pontes sobre as águas agitadas dos que nos rodeiam e ajudá-los a passar confiantes para uma outra etapa das suas vidas.

Os tempos são difíceis, como diria a canção, as águas agitam-se, mas cada um de nós pode ser uma ponte, que supera dificuldades e constrói a paz.

Ser ponte é ser passagem, unir mais do que separar, mediar e não conflituar, ligar e não procurar razões para romper.

Fazer a ponte, quando tudo parece ser distância, é procurar o diálogo, sem impor, é ser ouvinte mais do que pregador, é dar espaço ao outro, sem dominar.

Quando se fazem pontes, esbatem-se as diferenças e a paz é possível.

Bem-vindo 2016!

(texto publicado no Açoriano Oriental a 29 Dezembro 2015) - revisto

 

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