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SentirAilha

Viva! Este é um espaço de encontro, interconhecimento e partilha. Sentir a ilha que cada um é, no mar de liberdade que todos une e separa... Piedade Lalanda

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Viva! Este é um espaço de encontro, interconhecimento e partilha. Sentir a ilha que cada um é, no mar de liberdade que todos une e separa... Piedade Lalanda

Acolher

O Papa Francisco na sua recente visita a um campo de refugiados na Grécia voltou a desinstalar os governos e os cidadãos do mundo inteiro, crentes ou não na força do Espírito. Num gesto simbólico, ofereceu acolhimento no Vaticano a três famílias de refugiados. Alguns dirão, o que são doze pessoas? Uma gota no oceano de desespero que marca a vida de milhares de refugiados. Mas, simbolicamente, o Papa demonstrou que a resolução desta situação começa na vontade genuína em acolher.

Acolher significa juntar, reunir. E, cada vez é mais notório que, depois de tantas mortes em pleno mediterrâneo e de milhares de pessoas resgatadas, a Europa continua com dificuldade em demonstrar, na prática, que aceita recebe-las e não receia que façam parte das suas comunidades. Entre notícias e discursos, no fundo os responsáveis europeus temem contacto com estes refugiados, que associam ao terrorismo e aos atos violentos que ocorreram recentemente.

Encurralados em campos, vivendo entre um presente de horror e um futuro incerto, o mundo acaba por esquecer o quão urgente é cuidar, alimentar e proteger estas famílias, com dignidade.

O que faríamos se vivêssemos numa situação semelhante, no meio de bombas e extremismos, perante radicalismos religiosos ou políticos, receando pela vida dos filhos, sem esperança no futuro?

A humanidade é o que nos torna iguais a todos os outros, onde quer que vivam, seja qual for a língua que falam ou o credo que professam. O Papa não exigiu que escolhessem doze católicos, mas pediu ao governo de Atenas que selecionasse aleatoriamente doze pessoas de entre os refugiados.

Acolher não é apenas receber, mas ligar-se ao outro e com ele partilhar recursos. E essa é, por ventura, a principal dificuldade de todos os países que se dizem desenvolvidos. Olham e tratam os refugiados como estrangeiros, estranhos que não conhecem e defendem-se, como sempre, com a burocracia. Regulamentos e formulários, autorizações e carimbos tornam complexas e atrasam decisões, adiando o acolhimento e por vezes a própria sobrevivência, neste caso de famílias inteiras de refugiados.

O acolhimento não se faz com palavras mas com atos. "Mostra-me os teus atos e direi em que acreditas!"

Vivemos dias de luto pelos atentados, somos sensíveis ao terrorismo e tememos pela segurança dos nossos. Mas o que fazemos perante a morte de milhares de pessoas em pleno mediterrâneo? Divulgamos nas redes sociais as imagens do terror, como a daquele menino de três anos, morto, numa praia de areia branca, que chegou a ser utilizada numa campanha para prevenção da vigilância de menores em praias!

Também aí o Papa Francisco teve um gesto simbólico, juntamente com outros líderes religiosos, assinalou com flores o lugar onde tantos perderam a vida, em busca de paz e de segurança.

Na defesa da dignidade humana não há lugar a credos, ideologias ou burocracias, mas à gestão das necessidades de quem foge do terror. Algo que também já afligiu a Europa que agora se recusa a acolher.

Quantos europeus no século XX não precisaram fugir aos horrores da guerra, fossem os campos de concentração ou os conflitos religiosos!

A memória é curta e injusta! Já fomos vítimas do medo e da insegurança e agora encurralamos outras vítimas às portas da Europa.

Falta descobrir o sentido do acolhimento. Para tal são importantes gestos, atos, mesmo que simbólicos. Se cada governo ou cidadão europeu reagisse ao horror desta crise dos refugiados, de forma concreta e eficaz, até o terrorismo perderia força.

(artigo publicado no Açoriano Oriental de 19 de Abril 2016)

 

Novo Mundo

Mudam-se os tempos e os Estados Unidos continuam a ser designados de "novo mundo", terra de oportunidades e de tecnologias, onde o consumo é uma centralidade e um produto turístico e a história se conta por décadas.

Nesse país, quando entramos num espaço, designado como museu ou arquivo, facilmente somos surpreendidos com documentos e peças que nos são contemporâneos ou seja que tem 50 ou 60 anos de vida.

Esta contemporaneidade com o passado é ainda mais significativa quando conversamos com quem emigrou nessa época e ouvimos o testemunho vivo de uma história que ainda é presente. Sejam filhos de emigrantes da vaga dos anos vinte ou dos anos sessenta, do século passado, a história deste país ainda está na memória e marca o quotidiano de muitas gerações. É possível ouvir histórias sobre o encerramento das fábricas, que outrora empregaram muitos dos que emigraram à procura de trabalho. Não é difícil ouvir contar histórias de vida sofridas, de trabalho árduo na tecelagem ou na confecção, de quem fugiu à pobreza e ao isolamento, em busca de uma vida melhor ou para se juntar à família emigrada.

Em terras da América do Norte, particularmente nos estados onde os portugueses se instalaram, sente-se a importância destas comunidades estrangeiras que construíram e constroem a vida económica desta nação que quer continuar a ser nova, comparada com uma Europa onde a História se conta por séculos.

Talvez porque as comunidades emigradas nos E.U.A se sentem parte dessa história recente, as questões ligadas à deportação e ao controlo dos estrangeiros são vividas de uma forma ambígua e tem um impacto político muito significativo. Mesmo que muitos não queiram assumir, os nomes de família são reveladores das ascendências europeias, seja de Portugal, Itália, Irlanda ou outro país. Alguns desses nomes foram transformados, reconstruídos, mas não apagam pequenos ou grandes detalhes que se manifestam na comida, nas tradições familiares e até na vida económica. Daí que a relação da América, enquanto país, com a diversidade cultural seja ambígua e, por vezes conflituosa. Se, por um lado, vai diluindo a expressão das línguas estrangeiras, por outro reconhece a sua necessidade como instrumento de integração e comunicação. Se, por um lado, aceita a diversidade cultural, ao mesmo tempo impõe barreiras e elimina por via legal os que considera indesejáveis. Este é aliás um dos temas centrais do debate dos candidatos presidenciais, sobre quem deve viver neste país, o mesmo é dizer, por exemplo quem pode ter acesso ao emprego ou aos serviços de saúde.

Fica no ar uma outra questão, por ventura ainda mais relevante:

Afinal o que é ser americano? Até que ponto ser americano não é assumir a diversidade cultural como um traço estruturante da identidade nacional?

Esta não é certamente uma questão meramente legal, que se pode responder com base numa triagem entre os que devem ficar e os que devem abandonar o país. Esta é uma questão política, que não se resolve com leis que eliminam os indesejáveis, sem que isso signifique uma reflexão sobre os que ficam e sobretudo sobre os valores que suportam a sociedade que se deseja.

A vida em sociedade enriquece-se com a diversidade cultural, um valor da cidadania posto em causa, quando associado ao medo e ao terror dos extremismos, como se o diferente fosse o outro e a diferença não fizesse parte da história de cada um.

(artigo publicado no Açoriano Oriental de 5 de Abril 2016)

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