Voluntário/a precisa-se
A taxa de voluntariado está diretamente associada ao grau de desenvolvimento de um país ou região. Para além do produto interno bruto, défice ou lucro, o desenvolvimento mede-se por indicadores de natureza social, que avaliam o grau de participação e responsabilização dos cidadãos pelas opções políticas (que não se limitam ao voto), seja na defesa dos recursos naturais, culturais, da saúde, do desporto ou da proteção social. Estas são as principais áreas onde se desenvolvem ações de voluntariado organizado.
E como estamos em matéria de voluntariado?
Segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística, Portugal registou em 2018 a taxa de voluntariado mais baixa da Europa (7,8%), sobretudo se compararmos com a Holanda (40,2%) ou a Dinamarca (38,1%). E é na região Açores que se encontra o valor mais baixo (5,5%), ainda menor do que em 2012 (8,8%). Os voluntários açorianos tem entre 25 e 44 anos (44,7%), estão empregados (67,1%) e é entre quem tem o ensino superior que se regista a taxa de voluntariado mais elevada (16,8%), o que aliás também acontece no país.
Voluntariado e solidariedade são duas faces da mesma moeda. De um lado, o rosto de quem se preocupa em cuidar dos outros, da humanidade; do outro, a capacidade para tornar essa sensibilidade em ação. Não há verdadeiro voluntariado sem solidariedade, tudo o resto são ajudas pontuais, momentos de confraternização e convívio, trabalho comunitário, que sempre fez parte da vida das famílias, das paróquias ou da organização de eventos coletivos.
O voluntariado implica disponibilidade para colaborar, sem esperar pagamento, numa resposta organizada a uma necessidade. O retorno é de outra natureza, sentimento de dever cumprido, experiência emocional e, sobretudo, satisfação de quem é ajudado.
O tempo a despender nessas ações pode ser muito ou pouco, semanal ou mensal, é sempre o que resulta do compromisso que o voluntário assume com a organização ou atividade.
O difícil é desligar esse tempo da máxima economicista do "tempo é dinheiro".
Não estamos habituados a dizer que "tempo é ajuda" ou "tempo é doação". E isso faz toda a diferença, se queremos que o voluntariado seja uma realidade e possa reforçar a solidariedade, necessária à integração e inclusão de todos na sociedade. Não basta dizer que precisamos de uma sociedade mais inclusiva e, depois, remeter a responsabilidade para o governo ou mesmo para organizações não governamentais, geridas por cidadãos, quase sempre os mesmos, que estão dispostos a colaborar, empenhando o seu nome e até a sua responsabilidade financeira.
"Voluntário/a - precisa-se" - Responderia a este anúncio?
Onde? Quando? Porque não pagam? E o tempo?
Talvez começasse por fazer estas ou outras perguntas, antes de dizer sim ou para justificar um não redondo, entregando a responsabilidade a outros, por falta de tempo. Apesar de, como revelam os dados, os que não estão empregados serem uma minoria entre os voluntários.
Razões não faltam, e até inventam-se, quando não queremos ser desinstalados. O mais importante está na consciência de cada um: se quer, se pode e/ou se sente o dever de contribuir e colaborar na mudança do mundo, que mais não seja, aquele onde reside.
(publicado no jornal Açoriano Oriental de 23 julho 2019)