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Viva! Este é um espaço de encontro, interconhecimento e partilha. Sentir a ilha que cada um é, no mar de liberdade que todos une e separa... Piedade Lalanda

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Viva! Este é um espaço de encontro, interconhecimento e partilha. Sentir a ilha que cada um é, no mar de liberdade que todos une e separa... Piedade Lalanda

Sinais dos Tempos

É preciso estar atento, para conseguir ler os sinais dos tempos, aqueles que nos indicam os caminhos de futuro e apontam para o essencial.

Seguir esses sinais não significa escolher o caminho mais fácil. É até difícil! E, o mais certo, é que nos obrigue a aliviar a carga dos bens acumulados, para conseguirmos lidar com os riscos da caminhada.

Mas aprender a ler os sinais dos tempos é fundamental. Muitos vivem distraídos ou demasiado focados no seu umbigo, indiferentes aos alertas do GPS da vida.

Veja-se o que, ainda agora, acontece nos EUA, onde o atual presidente revela total incapacidade para aceitar a mudança política, ditada pelo resultado eleitoral.

Mais do que mudar de partido ou até de protagonista, estão em causa duas visões do mundo e a (in)capacidade para interpretar os sinais dos tempos.

Num país que se construiu com a imigração europeia, mas que nem sempre soube integrar a diferença, racial ou étnica, reconhecer a necessidade de união na multiculturalidade é saber ler os sinais dos tempos.

Num tempo em que homens e mulheres partilham os bancos das universidades, são ambos referências de sucesso, seja na ciência ou na vida pública, colocar mais mulheres em lugares de governo é saber ler os sinais dos tempos.

Num país que é um dos principais poluidores e destruidores do ambiente, reconhecer a necessidade de juntar esforços para impedir que as alterações climáticas ponham em causa a saúde, a vida tal como a conhecemos e o futuro das próximas gerações, é saber ler e interpretar os sinais dos tempos.

E, ler os sinais dos tempos nos EUA de hoje, é ter coragem para retomar as linhas da História, que foram quebradas, e recuperar Acordos Internacionais, repor em marcha a construção de um sistema de saúde público e combater a violência racial.

Infelizmente, o desenvolvimento de um país ou de uma região, não é um processo contínuo, onde se aprende com o passado e se somam ganhos aos sucessos já conseguidos.

Quem chega de novo nem sempre reconhece os sinais dos tempos e retrocede em caminhos já percorridos, seja na paridade de género, na justiça social ou nos ganhos de cidadania. Voltar atrás, nesses domínios, é recuar na defesa dos direitos humanos e abrir um parêntesis no desenvolvimento.

O tempo urge, as mudanças a que assistimos, seja no domínio do clima ou do emprego, das doenças ou das dependências, são demasiado graves para que possamos baixar a guarda e não dar continuidade a tudo o que possa contribuir para uma sociedade melhor.

O mundo vive ao ralenti, escondido em casa, para não dar a mão ao Covid19, enquanto aguarda o “milagre” da vacinação.

Obrigados a parar ou a travar a velocidade com que, habitualmente, vivemos o último mês do ano, estamos tristes por não podermos fazer a festa de Natal, juntar a família e os amigos ou viajar, para estar com quem mais amamos.

Mas, talvez esse seja o sinal deste tempo, que nos exige maior interioridade e reflexão; um tempo para ponderar: se escolhemos o essencial ou o acessório, se preferimos o brilho da vela ou da lantejoula, se nos deslumbramos com o pisca-pisca da árvore ou a simplicidade do presépio.

Neste advento, o sinal do tempo diz-nos para saborear o tempo!

(Texto publicado no jornal Açoriano oriental de 8 dezembro 2020)

Respeitem Rabo de Peixe

Nos últimos dias, Rabo de Peixe tem sido referida como exemplo negativo do desenvolvimento social.

Sentados no Terreiro do Paço, os comentadores políticos falam da maior freguesia dos Açores (com o dobro de habitantes de ilhas como, Graciosa, Flores ou Santa Maria) como “uma pequena aldeia”. Ignoram ser a freguesia mais jovem da região, com uma das menores taxas de envelhecimento e índice de dependência demográfica do país e onde as taxas de natalidade (11,8‰), fecundidade (44 ‰) e crescimento natural (4,3‰), em 2018, foram significativamente superiores aos valores médios regionais. É bom lembrar que os Açores estão a perder população e em 2018 registavam uma taxa de crescimento natural negativo (-0,2‰), ou seja, morreram mais pessoas do que as que nasceram.

As narrativas desses comentadores, emanadas do alto da sua continentalidade, só podem ser fruto de uma profunda ignorância. Foi dito e escrito, a propósito de Rabo de Peixe, que está no “fundo do fundo” da miséria, porque 30% das famílias recebem RSI (José M. Tavares no Público de 21/11/20); é uma comunidade falhada, insustentável do ponto de vista económico, um sítio marcado por uma quantidade de droga que, há 20 anos, deu à costa, onde a pobreza é objeto de “turismo” e as mulheres não podem ir ao mar (Eixo do Mal de 20 de novembro).

Esta visão estereotipada ignora a riqueza económica desta comunidade, onde se situa o maior porto dos Açores e os principais produtores de hortícolas e frutícolas da ilha. Mas, sobretudo, desconhece a sua riqueza sociocultural. Na comunidade piscatória, apesar dos baixos rendimentos que resultam da divisão tradicional por quinhões, todos contribuem para o clube desportivo e para as festas do Padroeiro. As mulheres podem não ir no barco, mas muitas trabalham na Conserveira e são elas quem resolve os problemas administrativos, tratam dos “papéis”, e colaboram na preparação do isco, mesmo quando não são reconhecidas e pagas por isso.

Esta é uma comunidade onde é evidente a força dos laços de parentesco que, ainda agora, alimentam a relação com aqueles que emigraram.

Há famílias com dificuldades económicas? Sim, ninguém o nega. E isso explica-se pela precariedade do rendimento da pesca, e do setor primário em geral, onde não há contratos de trabalho e se está sujeito às condições do clima, particularmente na pesca artesanal.

Essa subsidiodependência, de que tantos falam, tem permitido apoiar o pescador quando não pode ir ao mar (Fundo Pesca) e investir na qualificação dos mais jovens, para que acedam às licenças de pesca. Não há sustentabilidade no setor primário sem investimento na qualificação, na diversificação dos produtos e em novas formas de conservação e comercialização.

Nunca se fala das histórias de sucesso dos jovens desta comunidade, subestimados em discursos catastrofistas, que arrasam a autoestima de quem ali vive e reside.

Falemos de Rabo de Peixe, pela positiva, como uma comunidade de fortes tradições culturais, solidária, que vive intensamente o culto ao Espírito Santo, sente a música como poucos, ao som das castanholas do balho dos pescadores e das filarmónicas, e fez nascer uma orquestra OI Jazz, a partir de um projeto escolar. Uma comunidade jovem, com potencial de crescimento, que precisa de continuar a acreditar em si.

Rabo de Peixe merece um discurso de respeito.

(artigo publicado no jornal Açoriano Oriental de 24 novembro 2020)

 

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