Sinais dos Tempos
É preciso estar atento, para conseguir ler os sinais dos tempos, aqueles que nos indicam os caminhos de futuro e apontam para o essencial.
Seguir esses sinais não significa escolher o caminho mais fácil. É até difícil! E, o mais certo, é que nos obrigue a aliviar a carga dos bens acumulados, para conseguirmos lidar com os riscos da caminhada.
Mas aprender a ler os sinais dos tempos é fundamental. Muitos vivem distraídos ou demasiado focados no seu umbigo, indiferentes aos alertas do GPS da vida.
Veja-se o que, ainda agora, acontece nos EUA, onde o atual presidente revela total incapacidade para aceitar a mudança política, ditada pelo resultado eleitoral.
Mais do que mudar de partido ou até de protagonista, estão em causa duas visões do mundo e a (in)capacidade para interpretar os sinais dos tempos.
Num país que se construiu com a imigração europeia, mas que nem sempre soube integrar a diferença, racial ou étnica, reconhecer a necessidade de união na multiculturalidade é saber ler os sinais dos tempos.
Num tempo em que homens e mulheres partilham os bancos das universidades, são ambos referências de sucesso, seja na ciência ou na vida pública, colocar mais mulheres em lugares de governo é saber ler os sinais dos tempos.
Num país que é um dos principais poluidores e destruidores do ambiente, reconhecer a necessidade de juntar esforços para impedir que as alterações climáticas ponham em causa a saúde, a vida tal como a conhecemos e o futuro das próximas gerações, é saber ler e interpretar os sinais dos tempos.
E, ler os sinais dos tempos nos EUA de hoje, é ter coragem para retomar as linhas da História, que foram quebradas, e recuperar Acordos Internacionais, repor em marcha a construção de um sistema de saúde público e combater a violência racial.
Infelizmente, o desenvolvimento de um país ou de uma região, não é um processo contínuo, onde se aprende com o passado e se somam ganhos aos sucessos já conseguidos.
Quem chega de novo nem sempre reconhece os sinais dos tempos e retrocede em caminhos já percorridos, seja na paridade de género, na justiça social ou nos ganhos de cidadania. Voltar atrás, nesses domínios, é recuar na defesa dos direitos humanos e abrir um parêntesis no desenvolvimento.
O tempo urge, as mudanças a que assistimos, seja no domínio do clima ou do emprego, das doenças ou das dependências, são demasiado graves para que possamos baixar a guarda e não dar continuidade a tudo o que possa contribuir para uma sociedade melhor.
O mundo vive ao ralenti, escondido em casa, para não dar a mão ao Covid19, enquanto aguarda o “milagre” da vacinação.
Obrigados a parar ou a travar a velocidade com que, habitualmente, vivemos o último mês do ano, estamos tristes por não podermos fazer a festa de Natal, juntar a família e os amigos ou viajar, para estar com quem mais amamos.
Mas, talvez esse seja o sinal deste tempo, que nos exige maior interioridade e reflexão; um tempo para ponderar: se escolhemos o essencial ou o acessório, se preferimos o brilho da vela ou da lantejoula, se nos deslumbramos com o pisca-pisca da árvore ou a simplicidade do presépio.
Neste advento, o sinal do tempo diz-nos para saborear o tempo!
(Texto publicado no jornal Açoriano oriental de 8 dezembro 2020)