Marcas no tempo
O tempo é o que nele vivemos e o que dele fazemos.
O tempo, não é apenas uma sequência de minutos, dias ou meses, que acumulamos em anos e que uns festejam efusivamente e outros procuram sem sucesso esconder. A vida transporta-nos numa sequência inevitável de experiências que vão marcando o mapa pessoal, forçosamente limitado, onde desconhecemos as fronteiras sem as podermos negar.
O tempo é o que dele fazemos e, por isso, a vida é um percurso que trazemos incorporado no presente, um passado que nos confere experiência e maturidade e nos deixa marcas, algumas associadas a perdas, a sofrimento, outras feitas de grandes alegrias ou pequenos sucessos.
A memória guarda mas também limpa muitas dessas experiências, por vezes recordadas num reencontro de amigos ou de regresso a um lugar, que nos situam num mundo de espaços e de pessoas, nesse mapa de afectos que cada grava na sua existência.
O percurso que vivemos, não são datas mas relações, que nos ajudam a descobrir quem somos ou quem não queremos ser, porque também há pessoas que nos fazem dizer não; não vou por aí, sou diferente, penso a vida com base em outros valores.
Tal como a teia num tear, vamos ganhando consistência sempre que a trama se aperta e as experiências se acumulam. Transportamos no presente o passado que incorporamos. Por vezes, folheando um álbum de família, ou recordando uma data de calendário, mergulhamos nesse tempo e recordamos com nitidez momentos, que mudaram as nossas vidas. O nascimento de um filho é um desses momentos marcantes onde se mistura a perda com o ganho, e se partilha uma ligação íntima e até física.
Podemos esquecer muitos encontros que a vida nos proporciona e desfazer muitos dos laços que estabelecemos, mas dificilmente esquecemos o primeiro encontro que estabelecemos com um filho e a descoberta de emoções que desconhecíamos ser capazes de sentir; um laço que nos amarra para a vida, um nó, que nunca mais conseguimos desatar.
O tempo é o que nele vivemos e o que dele fazemos.
O passado constrói o percurso mas não pode, nem deve, destruir a esperança ou o ânimo de que necessitamos para enfrentar o presente. Afinal, cada dia é um tempo novo, que fazia parte do futuro até acordarmos.
(publicado no Açoriano Oriental de 9 de Novembro 2009)