Poder de proximidade
Estamos em plena campanha eleitoral para as autárquicas, as eleições que envolvem mais cidadãos, em listas para as juntas de freguesia, assembleias municipais e vereações.
Este é também o poder com mais história no país, mas que só ganhou autonomia com a implementação do Poder local democrático em Portugal. Recordemos que, antes de 1974, os presidentes de câmara eram nomeados pelo governo e não eleitos em sufrágio direto.
O poder local é um poder de proximidade, que reflete a diversidade de preocupações e necessidades do tecido social e, no caso dos Açores, as especificidades de cada concelho e ilha.
Um autarca é por isso alguém que conhece a sua comunidade e em equipa, apresenta um projeto de desenvolvimento local, tendo por base os recursos e as potencialidades dos munícipes e, ao mesmo tempo demonstra capacidade de convocar apoios, financeiros, técnicos e humanos, ao nível dos governos regional, nacional e europeu, para investir na melhoria do quotidiano da sua comunidade.
Quando um qualquer partido indica um candidato que não tem qualquer ligação à freguesia ou ao concelho onde pretende ser eleito, revela desrespeito pela comunidade local e compromete a ligação próxima que se estabelece no poder autárquico. Porventura esse candidato “paraquedista”, que conhece aquela comunidade por lá ter passado umas férias, esconde-se detrás de um líder nacional que é bandeira para qualquer ato eleitoral. Mas na realidade, está distante da história e das necessidades do povo que é suposto defender, que conhece de forma superficial.
O poder local tem de ser protagonizado por pessoas, genuinamente identificadas com as comunidades onde pretendem ser eleitas. São candidatos/as que trazem no discurso a força de um povo e no coração as suas principais necessidades.
Esta proximidade dá força aos autarcas, aproxima o poder político das pessoas e contribui para a humanização da política e dos políticos.
Por isso, para se fazer uma escolha mais acertada do/a candidato/a que se apresenta nestas eleições, é necessário estar atento e reconhecer quem está disponível para o diálogo, quem ouve os anseios e revela um discurso honesto nas respostas que sabe ser possível ou, pelo contrário, difícil de concretizar.
A proximidade faz-se de empatia, ou seja, a capacidade de se colocar no lugar do outro. Mas mais, a proximidade traz às decisões e às políticas públicas, regionais e nacionais, o relevo de uma determinada comunidade, o potencial económico que a define, os traços que a diferenciam dos restantes concelhos.
Vivemos num tempo em que a globalização e o impacto da inteligência artificial podem pôr em causa a força do local, o relevo das comunidades, a diferenciação das respostas, que se dão no turismo, nas animações culturais, no ordenamento do território, na preservação do património.
E é aos autarcas que se pede e de quem se espera, em primeiro lugar, a defesa das particularidades dos seus concelhos, que os definem e diferenciam. Hoje mais do que ontem, é importante que as cidades e as vilas sejam autênticas, porque também é isso que o visitante quer descobrir. Viver em Ponta Delgada não é o mesmo que viver no Corvo ou em Vila do Porto, mas isso constitui uma riqueza. Todos são relevantes, nesta manta humana que é o nosso arquipélago.
Nas eleições que se aproximam, importa eleger quem melhor protagoniza a força da comunidade local, porque a conhece. Ninguém ama o que não conhece!
(texto publicado no jornal Açoriano Oriental de 3 de outubro 2025).