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Simone Veil

No passado dia 30 de Junho faleceu, aos 89 anos, Simone Veil, mulher de referência que defendeu a paridade, num tempo em que a grande maioria dos países europeus não reconhecia mérito às mulheres para exercerem atividade política.

Sem dúvida que a história desta sobrevivente de Auschwitz, para onde foi deportada aos 16 anos, marcou a sua existência, como testemunhava o número gravado no seu braço esquerdo, que fez questão de manter visível. Essas memórias de horror fizeram dela uma combatente. Desde logo como jurista, mas também como governante (1974-79), na defesa da despenalização da interrupção da gravidez; deputada ao parlamento europeu, onde foi eleita presidente (1979) e defendeu os Direitos Humanos, e ainda como primeira mulher a assumir o cargo de Secretária Geral do Conselho Superior da Magistratura; no Conselho Constitucional e, por fim, em 2009, a quinta mulher a ter assento na Academia Francesa.

O jornal Le Monde (3 julho) refere que Simone Veil não suportava a mediocridade e detestava a inércia, as perdas de tempo. Para quem assistiu ao extermínio de tantos inocentes às mãos dos nazis, cada minuto de vida tinha um valor acrescido.

Nas palavras de Simone Veil, "para se ser independente, a mulher tem de trabalhar". E essa foi a sua marca. Acreditou, desde a primeira hora, no poder da participação pública das mulheres, num tempo em que esse não era o lugar destinado ao sexo feminino, votado ao cuidado da família e à atenção aos assuntos domésticos.

Seja no mundo das empresas ou das organizações políticas, públicas ou privadas, é fundamental que as mulheres se afirmem e partilhem o poder de decisão, trazendo para as administrações e para os cargos de poder, formas diferentes de encarar os problemas. Sem essa experiência comum, homens e mulheres nunca descobrirão a mais-valia que esta aliança representa na liderança, sobretudo, o humanismo, quantas vezes subestimado em favor de objetivos economicistas.

Valorizar a dimensão humana não é uma questão partidária. Aliás, a paridade, a justiça social, também não o são. Simone Veil foi bem exemplo disso. Estando próxima de partidos mais conservadores, o seu discurso, motivado pela defesa dos direitos humanos, mobilizou e continua a mobilizar os defensores da dignidade, da paridade e da justiça, três palavras que carregam o peso da mudança.

Há quem diga que, por exemplo, a desigualdade salarial, entre homens e mulheres, só desparecerá no século XXII, o que não será de admirar se nada for feito, se ninguém a denunciar, se a falta de mérito continuar a ser medida por ausências das mulheres trabalhadoras para assistir à família.

Ficar à espera que o "tempo cure" estas e outras desigualdades é desistir de lutar.

Mulheres como Simone Veil fazem a diferença, porque antecipam vitórias em batalhas que se arrastariam por décadas. Mas isso significa que, não pode haver lugar para a mediocridade, nem se podem por "paninhos quentes" sobre as injustiças.

Simone Veil foi firme nas suas convicções, talvez por ter conhecido o lado mais negro e inumano da vida. Pagou caro o preço do reconhecimento.

Ainda agora, às mulheres pedem-se sempre mais provas, maior empenho, mais qualificações, quando se trata de reconhecimento público, como se para equilibrar a balança da paridade existissem dois pesos e duas medidas.

Estamos longe de uma sociedade justa, paritária, mas a vida de uma pessoa pode fazer a diferença; e a prova está no testemunho de uma mulher, Simone Veil, que soube viver o seu tempo e deixar uma marca na história europeia.

(artigo publicado no jornal Açoriano Oriental de 11 Julho 2017)

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